Nesta operação, conduzida com o propósito de "limpar" a capital do território de Gaza da presença das forças do Hamas, está, como referem quase todas as notícias, a ser aplicada uma força destruidora e letal impressionante, apesar da extraordinária violência que já dura há quase dois anos.
Nas últimas horas, como adianta a Al Jazeera, canal do Catar, e o britânico The Guardian, já morreram dezenas de pessoas, quase todas devido aos bombardeamentos pela artilharia e aviação das IDF, que visa fazer colapsar os últimos edifícios que resistiram em pé aos avanços israelitas.
Israelitas que fizeram coincidir esta operação terrestre sobre a Cidade de Gaza, que está também a ser vista como um derradeiro esforço do Governo de Benjamin Netanyhau para cumprir um dos seus objectivos prioritários quando lançou a invasão, que é erradicar o Hamas do território, o que ainda não foi conseguido apesar da desproporção de meios.
Aquando do lançamento da invasão, que envolveu mais de 300 mil militares, centenas de aviões de guerra, milhares de veículos militares e a marinha israelita, o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau, que está sob suspeita pela forma como o Hamas entrou em Israel sem que as secretas israelitas dessem conta, apesar da sua fama de infalibilidade, nomeou três objectivos precisos e, apesar dos meios envolvidos e do apoio dos EUA, nenhum foi ainda alcançado.
Netanyhau assumiu os compromissos de destruir totalmente o Hamas, fazer de Gaza uma zona segura para Israel e libertar os mais de 250 reféns que os combatentes palestinianos levaram para o território durante o assalto ao sul de Israel. Nenhum foi ainda cumprido.
As imagens dos edifícios com dezenas de andares na capital de Gaza a ruírem uns após os outros, apesar de já ali não habitar ninguém por terem sido antes bombardeados e parcialmente destruídos, levam a memória colectiva para o início da invasão lançada após ao assalto do Hamas e da Jihad Islâmica ao sul de Israel no dia 07 de Outubro de 2023.
Nessa operação, a mais ousada alguma vez realizada pela resistência palestiniana à ocupação israelita em décadas, os combatentes do Hamas, terroristas para Telavive e os seus aliados ocidentais, deixaram um rasto de destruição com mais de mil mortos e centenas de feridos.
De acordo com as autoridades do território, citadas pelas agências, além das dezenas de mortos já contabilizados em pouco mais de 24 horas, a IDF bombardearam igualmente o único hospital pediátrico que estava a funcionar em Gaza, deixando milhares de crianças sem acesso a cuidados básicos de saúde.
Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde, as escassas unidades hospitalares, quase todas improvisadas porque os edifícios principais foram destruídos, estão fora de serviço ou à beira de estar porque os israelitas não estão a permitir a passagem de combustíveis para alimentar os geradores.
O Ministério da Saúde de Gaza fez saber, através de um comunicado, que ao impedir a entrada de combustíveis, toda a estrutura de saúde está parada e sem capacidade de fornecer os serviços mínimos, além de que tem alguns dos poucos medicamentos existentes à beira de deixarem de ter utilidade por precisarem de refrigeração contínua.
"O encerramento da central de oxigénio e a paragem forçadas das ambulâncias significa que se está à beira de uma catastrófica crise humanitária", aponta ainda o Ministério da Saúde de Gaza.
Esta operação terrestre das IDF, à qual as organizações internacionais, incluindo, além das agências da ONU, a "Save the Children", a Oxfam e a ActionAid International responderam pedindo ao Governo de Israel que seja travada devido aos resultados trágicos entre as crianças de Gaza, foi despoletada, curiosamente, quando a comissão de inquérito independente da ONU (ver aqui) estava para libertar o mais demolidor dos seus relatórios, onde confirma que Gaza é palco de um genocídio sem margem para dúvidas.
Guterres lamenta decisão de Telavive
Enquanto isso, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, já lamentou que Israel parece "determinado a ir até a o fim" em Gaza, avaliando a situação no enclave palestiniano como "horrenda".
"Neste ponto, parece que Israel está determinado a ir até ao fim e não está aberto a negociações sérias para um cessar-fogo", disse Guterres, numa conferência de imprensa em Nova Iorque.
O líder da ONU denunciou estar em marcha na Faixa de Gaza uma situação "horrenda", que é "moral, política e legalmente intolerável".
A única concessão que os israelitas parecem estar disponíveis para fazer é a abertura de uma nova rota durante 48 horas para evacuar cidade de Gaza.
Israel abriu esta quarata-feira, 17, durante 48 horas, uma segunda estrada que atravessa a Faixa de Gaza, para obrigar a população a abandonar a cidade de Gaza.
"Poderão viajar pela autoestrada Salah al-Din e depois continuar para sul a partir de Wadi Gaza (centro)", lê-se num comunicado do porta-voz do exército de Israel em árabe, Avichay Adraee, na rede social X, citado pela Lusa.
Salah al-Din atravessa a Faixa de Gaza de norte a sul, no leste do enclave, paralelamente à fronteira com o território israelita. A outra rota já aberta, a autoestrada Rashid, também atravessa todo o enclave, mas no oeste, em paralelo com a costa.
No entanto, a maioria dos refugiados encontra-se no oeste da cidade de Gaza, em acampamentos à beira-mar, para onde o exército israelita lhes ordenou que se deslocassem, à medida que a ofensiva na zona avança a partir de leste e norte.
Questionado pela agência de notícias EFE se as forças armadas vão garantir algum tipo de percurso seguro do oeste da cidade de Gaza para leste, para que a população possa chegar à estrada Salah al-Din, Adraee não comentou.