Ao mesmo tempo que reunia o seu Conselho Nacional de Segurança, a Polónia anunciava, escassas horas depois de, na noite de terça-feira, 09, para quarta, 10, ter detectado e destruído vários drones russos, o fecho do seu espaço aéreo oriental a todos os voos e pedia um debate de urgência na ONU em Nova Iorque.

"Estamos a chamar a atenção do mundo para este estaque russo com drones sem precedentes a um Estado-membro da NATO, da União Europeia e das Nações Unidas", disse, citado pelo britânico The Guardian, a partir da RMF Radio, o vice-primeirio-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, Radosław Sikorski.

A Polónia acusou a Rússia de ter propositadamente enviado pelo menos 19 drones para o seu território no contexto de um ataque de grande envergadura na Ucrânia, aparentemente com drones de vigilância, e não de ataque, com carga explosiva, considerando que se tratou, depois de numa primeira avaliação ter admitido um erro de cálculo, que foi "um teste de Moscovo" à reacção da NATO.

A Rússia rapidamente negou qualquer intenção de atacar a Polónia ou qualquer país da NATO, pediu mesmo, através do porta-voz do Kremlin, Dmitro Peskov, que fala em nome do Presidente Vladimir Putin, que os polacos apresentassem provas das acusações, considerando este que se trata de "mais uma das muitas e repetidas, mas infundadas, acusações dos países europeus a Moscovo".

Com o esperado coro de líderes e responsáveis políticos da União Europeia e da NATO, a imprensa ocidental destaca a ideia de que se tratou de um teste russo à capacidade de resposta da NATO e até onde a organização militar da Aliança Atlântica está disposta a ir.

Do lado russo, surge a ideia contrária de que se trata de "mais uma ficção" para justificar perante os cidadãos europeus os gastos em Defesa e a redução das despesas com a saúde e a segurança social com o "medo dos russos", salientando-se a possibilidade de os drones serem efectivamente russos mas usados numa "operação de falsa bandeira" pela Ucrânia.

Isto, porque, como notam analistas russos e alinhados com Moscovo, os drones em questão são modelos de vigilância, sem carga explosiva, que Kiev possui em grande número devido à guerra electrónica que de um e do outro lado é cada vez mais usada para os anular, o que não sucede com os que possuem carga explosiva porque estes explodem ao embater no solo.

Com essa operação de "falsa bandeira", os ucranianos pretendem, como de resto, tem sido repetidamente afirmado por Moscovo, levar ao reforço do apoio a Kiev pelos países europeus, mas ainda mais relevante, dos Estados Unidos, que, desde que Donald Trump chegou ao poder para o seu segundo mandato, a 20 de Janeiro deste ano, tem lenta mas solidamente reduzido ao apoio em armas e dinheiro a Kiev.

E isso parece estar a ser conseguido, porque, para já, Trump manifestou o seu forte desagrado com a situação e numa ainda por interpretar sem margem para dúvidas, publicação na suia rede social, a Truth Social, afirmou, em forma de questão, "o que é isto de a Rússia ter violado o espaço aéreo da Polónia?", concluindo com um enigmático: "Aqui vamos nós outra vez!".

Para já, a generalidade dos países europeus recusam a versão russa de que não ocorreu qualquer ataque à Polónia, nem a bielorussa, que fala em desvios de rota provocados pela interferência da guerra electrónica durante o ataque à Ucrânia.

E igualmente a generalidade dos líderes europeus defenderam já publicamente uma reacção "muito dura" contra Moscovo, com a presidente da Comissão Europeia a pedir "mais sanções à Rússia" e o líder da NATO, Mark Rutte, a garantir que a organização militar "vai defender cada centímetro do seu território" com a plenitude dos seus meios.

A par desta tumultuosa agressividade, que alguns analistas admitem poder evoluir para uma situação limite, onde os russos, depois de tantos episódios deste tipo, exigirem contenção verbal aos membros da NATO, a Polónia fechou totalmente o seu espaço aéreo na geografia fronteiriça da Ucrânia e da Bielorrússia abaixo dos 3 kms de altitude, o que deixa de fora os voos comerciais regulares.

E o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, que assumiu a reacção mais rugosa, disse que se tratou de "uma provocação russa" para a qual os Forças Armadas polacas "estão bem atentas" e consciente de que Moscovo está a "testar as capacidades para responder" incluindo "a um nível político".

Face a este recrudescer da retórica política, parece que é ao nível militar que começa a ser colocada alguma água na fervura, como parece ser o caso do comandante geral das forças da NATO na Europa, o general americano Alexus Grynkewich, que já veio dizer que "não se sabe se a incursão foi intencional".

Além de admitir não ser possível saber para já se houve intencionalidade, o general Grynkewich sublinhou ainda que não confia totalmente nos números avançados sobre quantos drones foram detectados na Polónia, avançando que o apuramento dos detalhes está ainda em curso.

Este afastamento da sobriedade militar do frenetismo político, poderá permitir evitar uma escalada, mas é evidente que, ao nível político, a Europa ocidental mostra uma clara disponibilidade para um confronto com a Rússia.

Saber o que Donat Trump queria dizer quando afirmou "Aqui vamos nós outra vez", "here w ego again", em inglês, pode ajudar a antecipar o que este episódio pode ainda ter como consequências, mas há já quem defenda que se referia ao conhecimento que tinha de se poderia ter tratado de uma manipulação para fins inconfessáveis por parte dos ucranianos.

A outra versão é que o Presidente dos EUA estaria a aludir à possibilidade de se estar a caminhar para mais um confronto de larga escala na Europa além das fronteiras ucranianas.

Nos próximos dias saber-se-á.