A esta ameaça, que a agência de notícias russa, TASS, chama "um incidente", a Polónia respondeu com a sua defesa anti-aérea, destruindo cerca de uma dezena de drones e há ainda destroços em solo polaco de um míssil de origem por descodificar.
Aparentemente, os drones que atravessaram a fronteira entre a Ucrânia e a Polónia, um país da NATO, terão saído do enxame de dezenas lançados por Moscovo para a zona oeste ucraniana, que faz fronteira com a Polónia, a Roménia e a Hungria.
Mas os estilhaços deste episódio, que ainda não tem uma reacção do Kremlin, a não ser a TASS ter considerado que foi "um incidente", estão longe de ter caído com os drones, voaram até à NATO, onde o secretário-geral da Aliança Militar ocidental diz que se está a analisar o próximo passo.
É preciso ter em conta que se a NATO considerar que se tratou de um ataque deliberado da Federação Russa a um Estado-membro, então pode ser accionado o famoso Art. 5º, que obriga a uma resposta organizada ao agressor, o que seria, inequivocamente, uma guerra de consequências imprevisíveis.
Isto, como lembrava logo no início da invasão russa da Ucrânia, em Fevereiro de 2022, o então Presidente norte-americano, Joe Biden, no que foi corroborado de imediato pelo russo, Vladimir Putin, se for trocado um tiro que seja entre a NATO e a Rússia, o mundo estará no caminho de um confronto que acabará nuclear sem margem para dúvida.
Para já, esse passo não deve acontecer, mas a Polónia não está pelos ajustes e o seu Presidente, Karol Nawrocki, anunciou a realização de urgência do Conselho Nacional de Segurança para definir a resposta a dar a este imbróglio, que, mesmo em se tratando de um "incidente", não deverá passar ser uma reacção musculada de Varsóvia.
O Chefe de Estado polaco considerou ainda que se está perante uma situação sem precedentes na história da Polónia na NATO, sublinhando que não há qualquer caso que se assemelhe, embora já tenha acontecido munições usadas no confronto ucraniano terem atravessado o espaço da NATO.
Entretanto, o primeiro-ministro Donald Tusk, que é um "falcão de guerra" europeu que defende uma pressão crescente sobre os russos, já veio dizer, aumentando o "volume" da retórica agressiva de Varsóvia dirigida a Moscovo, que o espaço aéreo polaco foi violado 19 vezes, o que dificilmente poderá ser considerado "um incidente".
Tusk afirmou que nem todos os objectos russos foram abatidos mas "aqueles que representavam uma ameaça, foram destruídos", acrescentando que o seu Executivo está "em contacto directo com o secretário-geral da NATO", o holandês Mark Rutte, outro "falcão de guerra" com as garras afiadas em direcção a Moscovo.
Para dar um sinal "forte" de que a situação é grave, o Governo polaco acionou o art. 4º da NATO, que obriga a consultas internas gerais quando um dos membros foi alvo de uma agressão externa para decidir se deve ser considerado ter existido violação da sua soberania, integridade territorial ou ameaça à independência política, o que, a ser confirmado, dará azo ao próximo artigo, o 5º, que é a entrada da Aliança em guerra com o agressor.
Alias, os "falcões" europeus deitaram de imediato as garras para fora, como foi o caso do britânico Keir Starmer, que, a viver um pesadelo político e económico internamente, gostaria muito de ver crescer uma crise de dimensões globais na Europa para desviar as atenções da crise em Londres.
Starmer considerou como "uma violação chocante, sem precedentes e extraordinariamente irresponsável do espaço aéreo da NATO", sublinhando o primeiro-ministro britânico que se tratou de um episódio ocorrido no contexto de "mais um bárbaro ataque" russo à Ucrânia, gerando uma "enorme preocupação".
"Foi uma extraordinária irresponsabilidade russa que só serve para nos lembrar da forma como Putin descaradamente evita a paz", disse Keir Starmer, que acrescentou estar em "contacto com o primeiro-ministro da Polónia" a quem manifestou o seu "inequívoco apoio" seja qual for a resposta que venha a dar a Moscovo.
Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, provavelmente a líder europeia mais empenhada, como repete amiúde, garantir "a derrota e a humilhação russa no campo de batalha", reagiu acusando Vladimir Putin de estar a "enviar uma mensagem clara" de desafio ao ocidente.
Face a isso, von Leyen defendeu, num discurso à União no Parlamento Europeu, "mais pressão sobre a Rússia" para "obrigar Putin a sentar-se à mesa das negociações", sublinhando que "são precisas mais acções" no âmbito das sanções contra Moscovo, nomeadamente acabar com todo e qualquer importação de energia russa pelos países europeus.
Também o Presidente francês, Emmanuel Macron, que coincide com Starmer na posição sobre a Rússia e na crise interna que o seu país atravessa, considerou ter-se tratado de uma situação "totalmente inaceitável", exigindo que a Rússia trave a sua "irresponsável escalada" da guerra na Ucrânia, anunciado que vai falar com o chefe da NATO para coordenar posições.
Permanece por acontecer, perto das 12:30 desta quarta-feira, 10, o dia seguinte ao "ataque", por conhecer a explicação russa para a situação ou se a reconhece de todo, mas uma coisa é certa, Moscovo está claramente a escalar o conflito na UCrânia com mais e maiores vagas de ataques aéreos e com uma pressão sem precedentes na frente de guerra para conquistar territórios nas regiões oficialmente anexadas.
Trump desafia União Europeia a aplicar sanções históricas à China e à Índia
Entretanto, em Washington, o Presidente Trump pode estar a dar o passo decisivo para esmagar qualquer possibilidade de normalização das relações com a Rússia, ou destruir o que resta da solidez na forma como o bloco europeu lida com Moscovo.
Não sendo, para já, evidente, o que pretende a Casa Branca, é certo que algo vai mudar rapidamente no contexto internacional dos blocos que se opõem e alinham com a Rússia, porque se os europeus aceitarem o desafio de Trump, Moscovo, Pequim e Nova Deli podem ter em mãos um problema irresolúvel.
Todavia, como parece ser a aposta de um grupo alargado de analistas, o que Trump está a fazer é um velho truque na política tanto nacional como internacional, que é fazer uma proposta que tudo indica não poder ser recusada mas que, afinal, todos sabem que não tem pernas para andar.
Ou seja, quando Trump se diz disponível para alinhar com a União Europeia na aplicação de tarifas de 100% em todas as importações da China, sabe que as economias europeias estão em cacos entre as suas grandes potências, como a alemã, a francesa e a britânica, e que enfrentar desta forma os dois gigantes asiáticos seria uma condenação irreversível.
Aquilo que parece ser uma cedência de Trump aos falcões europeus é, afinal, a sua aniquilação, porque os aliados europeus dos EUA vão ser obrigados a recusar o desafio armadilhado de Trump ao mesmo tempo que nunca mais terão autoridade para exigir mais medidas severas dos norte-americanos contra Moscovo.
"Estamos prontos para ir em frente com esta decisão se os nossos aliados eurpoeus alinharem connosco", disse um alto oficial da Administração Trump ao Financial Times.
Falta conhecer a resposta de Bruxelas e do reino Unido, país que sendo europeu e dos mais férreos aliados de Washington, não integra o bloco comunitário.