A tudo isto, o Kremlin, pelo sempre composto porta-voz Dmitri Peskov, que nunca levanta a voz, respondeu sempre negando as acusações, sublinhando que a Rússia não tem nem interesse nem vontade para provocar um conflito com a NATO ou a Europa Ocidental.

Até que em Moscovo, ao que parece, Vladimir Putin se cansou e pediu ao seu aliado bielorrusso, o Presidente Alexandr Lukashenko (na foto com Putin), para avisar os líderes da Europa Ocidental e da NATO que se algum aviões ou território da Bielorrússia ou da Federação Russa forem atacados, "a resposta será imediata".

"A resposta será imediata, isto não é uma guerra na Ucrânia", afirmou Lukashenko em declarações à imprensa, segundo a agência estatal Belta, citada pela Europa Press. "Na hora da verdade, o que abaterão e como? Abaterão aviões bielorrussos no nosso território?", questionou.

Lukashenko contou que costuma voar até Belovezhskaya Pushcha, na fronteira com a Polónia, e questionou se a NATO seria capaz de "abater o helicóptero do presidente ou algum helicóptero de escolta militar".

Estas declarações do Presidente bielorusso, o mais fiel aliado de Putin em toda a geografia da antiga URSS, foram vistas no Ocidente como sendo um recado do próprio chefe do Kremlin, e seguem-se a duas semanas de uma retórica anormalmente pesada por parte dos países da NATO para com Moscovo.

Não apenas os já conhecidos Países Bálticos, sempre disponíveis para o confronto militar com os russos, mas também líderes da Finlândia ou Reino Unido, ou ainda os dirigentes da União Europeia, como a chefe da diplomacia em Bruxelas, Kaja Kallas, ou a presidente da Comissão, Ursula Leyen, têm vindo a defende uma mais severa resposta ao que chema "provocações" do Kremlin.

Para os analistas mais alinhados com o Ocidente, estes episódios (ver links em baixo) são testes russos às capacidades de reacção da NATO, provocações para verificar a disponibilidade dos aliados europeus da Ucrânia.

Já os russos, através dos seus media, e de alguns analistas mais alinhados com Moscovo, ou mesmo independentes, tanto os drones sobre a Polónia, como sobre os países nórdicos, têm tudo para serem considerados "operações de falsa bandeira" de forma a alimentar a fogueira entre russos e ocidentais, como há muito procura intensificar o Governo ucraniano de Volodymyr Zelensky.

E foi neste contexto que o Presidente bielorrusso assegurou que a última posição da NATO é "preocupante", uma vez que é "praticamente" uma declaração de ataque. "É suposto ficarmos sentados? É por isso que estas declarações são tão ousadas (...) Que tentem", referiu.

"Bem, teremos de, Deus nos livre, claro, lutar, como dizem na Rússia, com todas as nossas forças", afirmou.

Esta semana, a NATO prometeu responder de forma "firme" às ações "imprudentes" que a Rússia cometeu nos últimos dias, em relação à violação de espaços aéreos, incluindo o polaco com uma dezena de drones, ou o da Estónia, onde três caças russos Mig-31 sobrevoaram o seu território durante 12 minutos.

Os russos recordam amiúde que o episódio dos MIG-31 ainda é mais "flagrante" como episódio artificialmente criado, porque os aviões russos, para voarem para Kaliningrado, um enclave no Báltico entre a Polónia e a Lituânia, precisam percorrer uma faixa estreita de espaço aéreo internacional e qualquer desvio milimétrico pode fazer a aeronave deixar essa minúscula linha aberta.

Moscovo garante que não houve qualquer intencionalidade de provocar, negando mesmo que tenha acontecido esse desvio, embora os analistas sublinhem que antes desta fase da guerra na Ucrânia, isso aconteceu várias vezes sem provocar este tipo de alarido.

E quando aos drones sobre a Polónia, os russos afirmam que se trata de uma provocação ucraniana para arrastar a NATO para a Guerra, porque os drones usados eram engodos, sem carga explosiva, que Moscovo usa para ludibriar as defesas antiaéreas ucranianas, e acabam por cair, sem combustível, sem grandes danos por são feitos de cartão e fibra plástica, podendo ser refeitos e reabastecidos, e enviados para oeste, fazendo parecer que são oriundos da Rússia.

Um dos problemas desta tese polaca é que estes aparelhos têm uma reconhecida autonomia máxima de 700 kms, e entre a fronteira russa e o sítio onde foram encontrados são mais de 1.300 kms.

Seja qual for a verdae, facto é que os países europeus da NATO estão numa clara toada de crescente agressividade para com Moscovo e este recado do Presidente bielorrusso é uma tentativa de alertar para a possibilidade de este caminho conduzir à III Guerra Mundial se continuar a ser palmilhado.