A Federação Russa continua a estar disponível para se sentar e negociar a paz com a Ucrânia, veio o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, garantir numa altura em que uma "escalada perigosa" está à beira de acontecer.

Escalada essa que surge com a possível chegada dos históricos e famosos, pelo papel fulcral que desempenharam na Guerra do Golfo, misseis de cruzeiro, Tomahwank, que ameaçam directamente, com os seus 2.400 kms de alcance, todas as grandes cidades russas.

Porém, apesar desta disponibilidade, Moscovo, nota Peskov, tem de manter a frente de guerra acesa porque "os ucranianos, e os seus aliados europeus, estão a encravar as negociações" e "não estão disponíveis para uma abordagem séria à necessidade de perceber as razões profundas deste conflito".

Apesar de parecer muito ser uma resposta ao Presidente dos EUA, que mantém há vários dias a ameaça dos Tomahawk sobre o Kremlin, segundo a russa RT, Dmitri Peskov está a responder ao Presidente francês, Emmanuel Macron, que disse recentemente que a Rússia "vai pagar um preço" elevado se não demonstrar estar preparada para se sentar na mesa das negociações.

Isto, segundo alguns analistas, é uma reacção à pressão pelo efeito Tomahawk de Donald Trump, que, por exemplo, segundo John Helmer, um jornalista e analista australiano com longas estadias na Rússia, pode estar a enviar uma mensagem muito clara a Vladimir Putin, não para aceitar negociar mas sim para acabar com a guerra o mais depressa possível.

No entanto, outras perspectivas surgem diariamente nas plataformas de análise sobre o conflito no leste europeu, como, entre outras, a de que os EUA, o que, de resto, o próprio Pentagono já confirmou, estão efectivamente a preparar um confronto com a China e precisam de empurrar os europeus para um conflito aberto com os russos de forma a fragilizar o eixo Pequim-Moscovo.

Neste contexto, embora sem abdicar de qualquer ponto das suas exigências para acabar com o conflito, que são, em síntese, Kiev aceitar a perda de soberania das regiões ocupadas pela Rússia desde 2014, incluindo a Crimeia, reconhecer a cultura e a língua russas e garantir a sua neutralidade abdicando em definitivo da NATO, o Kremlin insiste na disponibilidade para encontrar soluções pacíficas.

Estas palavras de Peskov são igualmente um "aperitivo" para o almoço de trabalho que Donald Trump e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, têm marcado para a próxima sexta-feira, 17, em Washington, no qual o prato principal vão ser os mísseis Tomahawk, que o ucraniano já disse querer usar para "apagar" Moscovo (ver links em baixo).

Apesar desta ameaça de Trump fazer chegar os mísseis de cruzeiro Tomahawk a Kiev, que têm um efeito mais simbólico que efectivo, sendo armas desenvolvidas nos anos de 1970, mais lentas que os balísticos, mas que fazem parte do imaginário colectivo devido ao papel que desempenham na Guerra do Golfo, quando os EUA bombardearam incessantemente Bagdad a partir dos seus navios de guerra estacionados no Golfo Pérsico.

Como notava o analista militar major general Agostinho Costa recentemente, o fornecimento destas armas é, todavia, improvável porque não existem devidamente testadas plataformas terrestres para o seu lançamento, embora se possa admitir que os EUA possam estar a querer usar a Ucrânia para ver a operacionalidade das que estão a desenvolver.

Isto, porque desde que foram criados, os Tomahawk são, sem excepção, disparados de navios de superfície e submarinos da marinha norte-americana, sendo que as versões terrestres possam ainda ter sido aperfeiçoadas e careçam de ser testadas em combate real.

Embora ainda difusa, a possibilidade é já encarada em Moscovo como uma fonte de escalada perigosa, como a ela se referiu Putin, no contexto da guerra mas também na forma como iria afectar as relações entre russos e norte-americanos, que estão agora a ser reanimadas depois do coma induzido em que ficaram por opção do anterior Presidente. Joe Biden.