O coltão, um dos minérios mais relevantes para a indústria das telecomunicações móveis, e que é dos mais raros em todo o mundo, sendo que a RDC detém 80% das reservas conhecidas, é indispensável para a produção de múltiplos aparelhos electrónicos, como telemóveis e computadores portáteis.
Sabe-se há muito que este mineral é extraído ilegalmente na RDC, especialmente nas suas províncias do leste, Kivu Norte, Kivu Sul e Ituri, por redes organizadas e que usam as guerrilhas para, através do terror, expulsar populações das zonas de garimpo usando crianças para trabalho escravo.
E que é o coltão uma das razões por detrás da crise político-militar entre a RDC o Ruanda (ver links em baixo nesta página), que Kinshasa acusa de financiar os guerrilheiros do M23 para desestabilizar o leste congolês de forma a que o coltão, e o cobalto, possam ser desviados para os países vizinhos que depois os exportam como seus.
Como o coltão, o cobalto é fundamental para a indústria electrónica, porque compõe todas as baterias usadas nos aparelhos electrónicos e no, por exemplo, endurecimento de metais para a aviação, principalmente nos que contém alumínio.
Fora as quantidades impossíveis de quantificar por falta de controlo que saem via Ruanda e outros canais, a produção de coltão, tal como o cobalto e vários tipos de "terras raras", conjunto alargado de minerais de grande utilidade para as mesmas indústrias, onde o Estado congolês mantém algum controlo, é feito maioritariamente por empresas chineses e algumas europeias.
Os circuitos ilegais por onde fluem os minerais estratégicos da RDC são alimentados pelas guerrilhas, como o M23 às quais se juntam a FDLR, também de origem ruandesa, e a ADF, com origem no Uganda, que Kinshasa diz serem financiadas pelos países vizinhos.
Depois de um longo período de acusações ao Ruanda e a multinacionais diversas que se aproveitam da fragilidade do Estado na RDC, o Governo do Presidente Felix Tshisekedi quer agora atacar a fonte do mal, que são as multinacionais que acabam por adquirir estes "minerais de sangue" que lhes chegam, muitas das vezes por vias legais mas com origem ilegal.
E o primeiro alvo, e também dos mais relevantes, é o gigante norte-americano Apple, que produz, entre outros gadgets icónicos, os Iphones, que Kinshasa quer ver no banco dos réus se não responder satisfatoriamente a um conjunto de questões sobre a cadeia de fornecimento dos minerais congoleses que usa nas suas fábricas.
Para isso, o Governo congolês contratou duas importantes sociedades de advogados, uma norte-americana e outra francesa, que estão a trabalhar na abordagem à sede mundial da Apple nos EUA e a sua subsidiária em França.
Citado pelos media internacionais, um porta-voz das empresas de advogados disse que as questões foram enviadas há mais de três semanas e não houve qualquer resposta, o que é, por princípio, a admissão de se trata de perguntas de interesse relevante.
Alguns relatórios de organizações internacionais apontam como portas de saída ilegal de coltão e cobalto da RDC o Ruanda, o Uganda e o Burundi, e os maiores receptores globais do negócio ilegal de alguns destes minerais são, além da Apple, a Motorola, a Sony, Dell, Alphabet, Microsoft, Tesla...
Parte das acusações são ainda enquadradas pelo papel que estes gigantes têm no fomento indirecto de trabalho infantil na RDC, onde, como é conhecido há décadas, e confirmado pelas Nações Unidas, existem largos milhares de crianças forçadas a trabalhar por grupos armados com recurso a todo o tipo de violência, incluindo sexual.