A porta-voz do ANC, Mahlengi Bhengu-Motsiri, confirmou, depois de muitos rumores, a existência de conversações com o maior partido da oposição, a AD, que são os herdeiros, embora cade vez mais distantes, do regime do apartheid que governou o país de 1948 a 1994.

Além da AD, liderada por John Steenhuisen, o ANC, que obteve 40,1%, também está a procurar perceber as possibilidades de obter o apoio dos radicais de esquerda de Julius Malema, os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF, na sigla em inglês).

Se conseguir entender-se com a AD (21%), o ANC não precisará de mais ninguém para conseguir um conforto parlamentar para governar, mas terá de lidar com os riscos a prazo de diluição de créditos por uma eventual recuperação da economia sul-africana, afogada em desemprego, inflação, pobreza extrema e corrupção, as razões na génese do seu descalabro eleitoral.

Mas se a opção for por Julius Malema, com os 9,5 % obtidos nas urnas pelos EFF, então a solução terá de integrar um outro dos partidos mais pequenos para garantir os 50% que reforçam a maioria dos assentos no Parlamento sul-africano.

Fora do baralho das possibilidades, ao que parece, está o "joker" das eleições de 29 de Maio, que é o antigo Presidente Jacob Zuma, que saiu em ruptura do ANC, e o seu novo partido, MK, que conseguiu uns impressionantes 14,5% e que, na verdade, foi buscar quase integralmente ao ANC, que tinha conseguido em 2019 cerca de 54%.

Porém, se o caminho for em direcção à AD de John Steenhuisen (na foto com Ramaphosa), então o histórico ANC estará, depois de um histórico resultado, a fazer de novo história, com eventuais repercussões através do continente, ao juntar esforços com o antigo "carcereiro" para governar a África do Sul.

O próprio Nelson Mandela parece ter precocemente aberto este caminho, não apenas ao perdoar os seus carcereiros de 27 anos de cárcere, como, numa frase premonitória, ter dito que "tudo parece impossível até ser feito".

Todavia, notícias desta quarta-feira, 05, apontam como igualmente como possível saída para este imbróglio um governo de unidade nacional, envolvendo os cinco mais relevantes partidos sul-africanos, incluindo o MK de Zuma.