Com pouco mais de 42%, o Congresso Nacional Africano (ANC) seguia na frente, seguido da Aliança Democrática (AD), com perto de 27%, e, bastante mais longe, os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF) e o MK, com 8,5 e 7,5 por cento respectivamente.

Que é, em termos percentuais, muito próximo do que as sondagens e estudos de opinião anteciparam ao longo dos meses e semanas que precederam estas eleições gerais na África do Sul, mostrando uma vontade histórica dos eleitores para castigarem o ANC.

Foi num caldo de desemprego em níveis estratosféricos, mais de 32 % da população, acima de 62 milhões, uma inflação galopante, percepção da corrupção sem paralelo que o ANC de Cyril Ramaphosa procurou salvar no dia do voto o legado de Nelson Mandela...

Se estes resultados, ainda muito provisórios, forem sendo consolidados à medida que as horas passam, embora as autoridades eleitorais sul-africanas apontem como meta anunciar os resultados oficiais no próximo Domingo, o ANC estará perante um rude golpe eleitoral.

Mas com uma nova oportunidade que poderá não se repetir, para honrar a memória do seu líder histórico e cumprir com o futuro "arco-íris" prometido ao povo após o fim do regime racista do apartheid em 1994, cumprindo agora 30 anos de poder ininterrupto.

Com o ANC abaixo dos 50% pela primeira vez em três décadas, a solução terá de passar por uma coligação à sua esquerda, o que poderá conduzir o país para uma guinada económica ainda mais radical, com os EFF de Julius Malema.

Ou, em alternativa, proceder a negociações pontuais de governação, o que poderia criar um ambiente de ingovernabilidade devido à forte oposição da AD, que são, embora timidamente, os herdeiros dos valores económicos - não sociais, recusando de forma liminar o legado do apartheid - do antigo regime.

Para ter uma ideia mais aproximada do futuro político da África do Sul vai ser necessário aguardar pela manhã de sexta-feira, onde a percentagem de votos contados dará para perceber uma tendência que dificilmente sofrerá mudanças substantivas.

De acordo com as últimas sondagens antes da votação de quarta-feira, 29, o partido liderado por Cyril Ramaphosa, que disputa o segundo mandato como Presidente sul-africano, deverá conseguir perto de 42% dos votos e menos de metade dos deputados eleitos no Parlamento.

Chegará assim ao fim o tempo do quero, posso e mando como tem sido desde 1994, quando o ANC, liderado por Nelson Mandela, ganhou as primeiras eleições após o fim do regime racista do apartheid.

Em condições de manter o estatuto de líder da oposição e aproximar-se ainda mais do ANC é a Aliança Democrática (AD) liderada por John Steenhuisen, vista como os "herdeiros" do voto da comunidade branca, que deve ficar próxima dos 28 a 30%.

A AD optou por fazer alianças com alguns partidos mais pequenos para ganhar a tracção que lhe permita ultrapassar o ANC e formar Governo, apresentando como trunfo a ligação aos nacionalistas zulos do Inkatha Freedom Party e ainda ao Action SA, partido criado por um antigo autarca de Joanesburgo.

E o que os estudos de opinião parecem mostrar com cada vez mais evidência é que há uma nova geração de sul-africanos que já não estão disponíveis para dar outra oportunidade ao ANC que há 30 anos e depois de sete eleições, não parece estar à altura dos desafios.

Isso, partido da actual situação económica do país, com desemprego recorde, inflação sem paralelo, pobreza florescente, insegurança, corrupção crescente e, naquilo que parece ser a cereja no topo do bolo, cortes inexplicáveis de energia e água um pouco por todo o país.

A isto, o ANC tem respondido com explicações de conjuntura regional e internacional complexas e difíceis, prometendo ultrapassar os problemas agora com um investimento histórico na educação dos sul-africanos como chave-mestra para abrir a porta da bonança.

Se Ramaphosa vai ser capaz de estancar a hemorragia eleitoral mostrada pelas sondagens como estando prestes a suceder, o que é suportado ainda pelas eleições de 2019, onde conseguiu manter a maioria por pouco mais de 50%, ver-se-á nas próximas horas.

Mas o ANC sabe que, numa situação limite, antes de a Aliança Democrática chegar ao poder alavancada pelos nacionalistas zulos, poderá contar com a protecção, exigente, mas, ainda assim, provável, de Julius Malema, um radical de esquerda saído das fileiras do partido de Mandela.

E ainda do MK, a formação criada pelo antigo Presidente e líder do ANC, Jacob Zuma, que aparece agora com fortes probabilidades de eleger deputados com base no forte apoio que aparentemente tem na comunidade Zulo do Kwazulu-Natal.

Portanto, o mais certo é que o ANC mantenha o poder nos próximos cinco anos, mas este pode muito bem ser o seu canto do cisne como partido hegemónico na África do Sul.

E a razão principal para isso, como todos os analistas parecem coincidir no fundamental, é a pobreza que ganha dimensão dia após dia entre mais de metade dos 60 milhões de sul-africanos, com destaque para os trágicos números de desemprego, acima de 32%.