Cerca de 30 "partidos políticos da oposição democrática apelam ao estabelecimento de uma transição liderada por civis (...), através de um diálogo inclusivo", afirmam as forças políticas chadianas numa declaração.

Mahamat Idriss Déby à frente de um Conselho Militar de Transição (CMT) exerce a função de "presidente da república" e concentra quase todos os poderes, apontam os partidos da oposição.

A oposição "apela à população chadiana a não obedecer às decisões ilegais, ilegítimas e irregulares tomadas pelo Conselho Militar de Transição, em particular a carta de transição, o recolher obrigatório e o encerramento das fronteiras", que entretanto acabam de ser abertas.

Entre os signatários da tomada de posição estão o partido de Saleh Kebzabo, adversário "histórico" de Idriss Déby, e a formação de Succès Masra, um dos mais ferozes críticos do regime do antigo presidente.

Os partidos "avisaram" também a França, a antiga potência colonial do Chade, que apoiou sempre o antigo chefe de Estado, desde a sua tomada do poder através de um golpe militar em 1990, "para não interferir nos assuntos internos do Chade".

Finalmente, as forças políticas da oposição no Chade apelam à comunidade internacional para "apoiar o povo chadiano na restauração do Estado de direito e da democracia".

A notícia esta terça-feira da morte em combate do Presidente chadiano, anunciada pelo porta-voz do Exército do país, foi seguida pela indicação imediata de que o filho de Idriss Déby Itno, Mahamat, um jovem general com 37 anos e chefe da guarda presidencial até agora, irá liderar um conselho militar que assume o poder no país.

Os militares deram depois a conhecer em muito pouco tempo um plano de ação para os próximos 18 meses, a que chamaram "período de transição", que culminará na realização de eleições presidências para se encontrar o sucessor de Idriss Déby Itno, que tinha sido provisoriamente proclamado vencedor das presidenciais de 11 de abril.

Mahamat Idriss Déby foi instituído pelos militares como o "garante da independência nacional, integridade territorial, unidade nacional, respeito pelos tratados e acordos internacionais", por um "período de transição de 18 meses", findo o qual "novas instituições republicanas serão criadas, através da organização de eleições livres, democráticas e transparentes", segundo o porta-voz do Exército chadiano, general Azem Bermandoa Agouna, em declarações transmitidas pela televisão estatal esta terça-feira.

O conselho militar promulgou ainda uma "Carta de Transição" e Mahamat Idriss Déby deu a conhecer, ainda na terça-feira, a nomeação de 15 generais, segundo a Carta de Transição, que constituirão o conselho militar e assumiram o controlo do país.

Paralelamente, a Presidência francesa apelou a que seja levada a cabo uma transição política pacífica no Chade e manifestou o seu "firme empenho" na estabilidade e integridade territorial daquele país da região do Sahel, lamentando a morte do Presidente chadiano, que recordou como "um amigo corajoso".

Numa mensagem de condolências pela morte na frente de batalha de Idriss Déby Itno, o Eliseu sublinhou a importância de que "a transição se desenrole em condições pacíficas, num espírito de diálogo com todos os actores políticos e da sociedade civil", tendo em vista obter "um governo inclusivo que se apoie em instituições civis".

A França "perde um amigo corajoso" com a morte do Presidente chadiano, disse a Presidência francesa no comunicado, exprimindo o seu "firme empenho na estabilidade e integridade territorial do Chade".

Hoje, o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, anunciou que estará presente no funeral de Idriss Déby na próxima sexta-feira.

"O Presidente da República prestou-lhe homenagem esta manhã no Conselho de Ministros, irá ao seu funeral no final da semana", disse ao início da tarde de hoje porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, numa conferência de imprensa, afirmando ainda que Paris saúda "um homem de coragem, um homem apaixonado pelo seu país".

O Presidente do Chade, Idriss Déby Itno, no poder há 30 anos, morreu na terça-feira de ferimentos sofridos enquanto comandava o seu exército na luta contra rebeldes no norte do país durante o fim-de-semana, de acordo com os militares.

Déby, 68 anos, um oficial militar de carreira que tomou o poder em 1990 num golpe e foi promovido ao posto de marechal de campo em agosto último, foi reeleito no passado dia 11 para um mandato de seis anos com 79,32% dos votos, de acordo com os resultados provisórios anunciados esta segunda-feira à noite pela comissão eleitoral nacional

Rebeldes ameaçam depor filho de Presidente que assumiu poder após morte de Idriss Déby

Os rebeldes ameaçaram hoje depor o filho do Presidente do Chade, que faleceu na terça-feira, depois de aquele ter assumido a liderança do país para o período de transição, até às próximas eleições

Desta forma, os rebeldes levantaram o espectro de uma luta de poder potencialmente violenta, segundo a agência de notícias britânica Associated Press.

Hoje, a incerteza é grande sobre quão longe estão os rebeldes de N"Djamena, a capital do país, uma cidade de um milhão de pessoas, e se os militares permaneceriam leais a Mahamat Idriss Déby, no rescaldo da morte do seu pai, após três décadas no poder.

O grupo rebelde que os militares culparam pela morte do Presidente, Idriss Déby Itno, disse, na terça-feira, que as suas forças estavam "a dirigir-se para N"Djamena neste preciso momento".

O "Chade não é uma monarquia", disse, em comunicado, o grupo conhecido como Frente para a Mudança e a Concórdia no Chade. Por isso, "não pode haver uma sucessão dinástica de poder no país".

A afirmação do grupo de que estava a avançar em direcção à capital não pôde, no entanto, ser confirmada por fontes independentes, mas gerou imediatamente o pânico em N"Djamena, cidade que outro grupo rebelde atacou em 2008.

Responsáveis do Conselho Militar de Transição, liderado pelo filho de Idriss Déby Itno, disseram que a luta ainda não tinha terminado pelo controlo do país.

"A situação de segurança permanece muito grave dada a persistência e magnitude da ameaça terrorista", afirmou o vice-presidente do Conselho, Djimadoum Tiraina, acrescentando que os militares devem agora "evitar que o país se afunde no caos e na anarquia".

O porta-voz militar do Chade disse, na terça-feira, que o Presidente morreu durante uma visita às linhas da frente da batalha contra o grupo rebelde. Os rebeldes estavam baseados na vizinha Líbia até ao início deste mês, mas, segundo as autoridades, terão atravessado para o Chade no dia das eleições no país, 11 de abril.

O Presidente Déby tinha sido reeleito para um sexto mandato, após ter enfrentado nas eleições uma oposição mínima, depois de vários opositores terem optado por não participar, prevendo que a votação fosse fraudulenta.

Ao longo dos anos em que esteve no poder, o Presidente sobreviveu a numerosas rebeliões armadas e conseguiu manter-se até à insurreição liderada pela Frente para a Mudança e a Concórdia no Chade.

As circunstâncias da morte de Déby, nesta terça-feira, ainda não puderam ser confirmadas independentemente, devido à localização remota dos combates.

Alguns observadores recearam, inicialmente, a ocorrência de um golpe de Estado, uma vez que os militares entregaram imediatamente o poder ao filho do Presidente para um período transitório de 18 meses, em vez de seguirem o protocolo constitucional.

O filho do Presidente, Mahamat Idriss Déby, 37 anos, é mais conhecido como comandante de topo das forças chadianas que ajudam na missão de manutenção da paz da ONU no norte do Mali.

"Há uma grande incerteza sobre a forma como os acontecimentos no Chade se irão desenrolar: se o exército permanecerá leal ao filho de Déby e continuará o esforço para repelir os rebeldes, em avanço", disse Cameron Hudson, um membro sénior do Centro Africano do Conselho Atlântico.

Os chadianos fartos, após 30 anos de domínio de Déby, também poderão alinhar-se com as exigências de uma mudança de liderança, afirmou.

"Qualquer dos cenários apresenta um elevado risco de baixas civis e uma probabilidade de que a fuga de civis ou soldados possa exportar a instabilidade do Chade para estados vizinhos", acrescentou Hudson.

As Nações Unidas têm cerca de 1.800 funcionários no Chade e estão "a observar a situação hora a hora", disse em Nova Iorque Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.

O general Mahamat Idriss Déby, chefe do Conselho Militar de Transição (CMT), criado terça-feira após a morte do seu pai, "ocupa o cargo de Presidente da República" do Chade, de acordo com uma Carta de Transição publicada hoje.

A Carta de Transição revoga a Constituição anterior e será executada como "lei fundamental da República", de acordo com o documento.

O general, que é agora também "o chefe supremo das Forças Armadas", nomeou na terça-feira, por decreto, 14 outros generais, todos muito próximos do seu falecido pai, para o CMT, entidade que governará o país num período de transição de 18 meses até à realização de "eleições livres e democráticas".

Ainda segundo a carta publicada hoje, Mahamat Idriss Déby lidera "o Conselho Militar de Transição, o Conselho de Ministros e os conselhos e comissões superiores de Defesa Nacional".

O novo chefe de Estado promulga as leis adpotadas pelos 69 membros do Conselho Nacional de Transição, que são nomeados directamente por Mahamat Idriss Déby.

A Carta Transitória do Artigo 95 também garante a liberdade de "opinião, consciência e culto".

De acordo com o documento, é estabelecido um Governo de transição, cujos membros são nomeados e demitidos por Mahamat Idriss Déby. "Os membros do exército chamados ao Governo de transição são exonerados de todas as funções militares", declara-se na carta.

Idriss Déby Itno, 68 anos, um oficial militar de carreira que tomou o poder em 1990 num golpe e foi promovido ao posto de marechal de campo em agosto último, tinha sido reeleito no passado dia 11 para um mandato de seis anos com 79,32% dos votos, de acordo com os resultados provisórios anunciados na segunda-feira à noite pela comissão eleitoral nacional.