Cyril Ramaphosa recorreu à palavra mais forte do dicionário político sul-africano - apartheid designa o regime racista que terminou com a eleição de Nelson Mandela em 1994 - para sublinhar as gigantescas diferenças que existem hoje no mundo no que diz respeito ao acesso às vacinas entre os países ricos do Norte e os menos desenvolvidos do Sul.

Para isso, tendo como pano de fundo que África é de longe o continente com menor acesso às vacinas do mundo, Ramaphosa, que lidera também a União Africana por estes dias, pediu que as restrições no âmbito dos direitos de autor que delimitam o fabrico de vacinas sejam levantadas para que os países que têm condições para isso possam fabricar vacinas que, de outra forma, tardam a chegar, podendo mesmo nunca as receber.

"É importante para nós, africanos, não ficarmos para trás nesta batalha global contra a pandemia, como tem sucedido com outras pandemias que não a da Covid-19, nalguns casos o atraso foi de décadas", afirmou.

"Para isso, teremos de acabar com o nacionalismo das vacinas", sublinhou, deixando claro que "ninguém está a salvo neste capítulo enquanto não estiverem todos a salvo" e que as vacinas devem ser "tratadas como bens públicos e a preços razoáveis" para todos.

Estas declarações foram feitas durante uma visita a uma unidade sul-africana da Aspen Pharmacare com capacidade para produzir 300 milhões de doses da vacina da Johnson & Johnson por ano.

Neste contexto, o presidente da África do Sul anunciou ainda que o seu país vai receber em Abril 30 milhões de vacinas desta multinacional, sendo esta uma parte das 220 milhões de doses que o fabricante norte-americano prometeu ao continente africano, sendo que a União Africana está a tentar subir este montante para as 400 milhões, visto que tratando-se de uma vacina de uma única toma - as restantes são todas de duas doses -, para a realidade africana é o ideal.