A chegada de novos protagonistas ao terreno da diplomacia onde já tantos falharam no esforço de levar o desfecho da guerra da frente de batalha para a mesa das negociações, desde o Presidente bielorusso, Alexander Lukashenko, logo no início da invasão, em Fevereiro de 2022, depois o francês Emmanuel Macron, depois o turco Recep Erdogan, depois a União Africana, o Papa Francisco, o brasileiro Lula da Silva... é sempre uma renovada lufada de esperança, mas com baixas expectativas...

Com a China, que, como é de costume dizer-se, tem sempre mais tempo que o resto do mundo, espera-se que seja diferente, embora as expectativas sejam sempre reduzidas no ponto em que as coisas estão, com Moscovo e Kiev a admitirem não haver condições para negociações, para já...

Todavia, a chegada da China a este tabuleiro de xadrez radical, como o "decano" da diplomacia mundial, Henry Kissinger, que serviu dois Presidentes norte-americanos, Richard Nixon e Gerald Ford, na década de 1970, ficando como marco histórico o seu protagonismo na aproximação entre EUA e a China comunista de Mao Tse Tung, confirma, não pode ser vista como mais do mesmo... Com Pequim é sempre diferente e quase nunca entra em jogadas que possa perder.

O enviado especial do Presidente Xi Jinping para a crise Rússia/Ucrânia chega esta terça-feira a Kiev, onde estará em conversações com membros do Governo de Volodymr Zelensky e com o próprio, seguindo depois para, crê-se entre os analistas, para Varsóvia, provavelmente por causa da influência tremenda que a Polónia tem sobre os ucranianos, e, por fim, Moscovo, com o objectivo de desenhar uma espécie de mapa/calendário, sem pressas, mas com passos claros e etapas bem definidas, para acabar com a maior tragédia bélica na Europa deste o fim da II Guerra Mundial, em 1945.

Há ainda outra coincidência que pode não o ser, porque também a chegar a Kiev, de regresso de um périplo que o levou a Roma, Vaticano, Berlim, Paris e Londres (ver links em baixo nesta página), está o Presidente Volodymyr Zelensky, tendo este "tour" europeu sido considerado um enorme sucesso por Kiev, devido a renovadas promessas de apoio ilimitado, embora de concreto não se tenha sabido de nada, nem que tipo de missão o chefe do regime de Kiev levava na bagagem.

A guerra, continua...

Entretanto, a par da chegada de Li Hui a Kiev, na noite de segunda-feira para hoje, 16, os russos enviaram uma chuva de misseis, incluindo os hipersónicos Kinzhal, e drones, contra Kiev.

Enquanto o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, foi ao Twitter garantir que a defesa anti-aérea abateu todos os misseis e drones russos, incluindo os Kinzhal, alegadamente imparáveis devido à sua velocidade superior a 12 mil kms/h, o porta-voz do Ministério da Defesa russo, general Igor Konashenkov, garante que todos os alvos militares, incluindo um sistema Patriot norte-americano (o que não foi verificado por fontes independentes) foram atingidos nestes ataques nocturnos, um dos mais intensos de todo o conflito.

A verdade na guerra tem um valor residual, e todos mentem, mas as imagens que já esta manhã de terça-feira chegaram às diversas redes sociais mostram que Kiev foi efectivamente sacudida por violentas explosões no solo, que não podem corresponder à queda de detritos dos alvos abatidos.

Segundo vários analistas, Kiev é um dos locais de maior concentração de armazéns de material militar fornecido pelos países da NATO porque é também a área da Ucrânia com mais defesa anti-aérea, e onde estão posicionados os sistemas Patriot, que são dos sistemas mais avançados do mundo, além de outros de médio e curto alcance, igualmente modernos e fornecidos pelo ocidente.

Essa concentração de alvos militares vitais para os russos em Kiev, especialmente agora que os ucranianos preparam intensamente a contra-ofensiva, que algumas fontes admitem já estar em andamento mas de forma menos efusiva que o esperado e da qual dependem as armas acabadas de chegar, faz com que Moscovo empregue alguns dos seus mais capazes misseis nestes ataques, com grande sucesso, segundo Igor Konashenkov, sem qualquer sucesso, segundo o ministro ucraniano da Defesa, Oleksii Reznikov.

Alias, o governante ucraniano disse mesmo que, apesar das imagens espalhadas pelas redes sociais mostrarem que não é bem assim, a defesa anti-aérea de Kiev obteve "mais um inacreditável sucesso", com o abate de seis Kinzhal, o que a ser verdade é o maior feito ucraniano nesta guerra em tão pouco tempo, e claramente um revés inédito para Moscovo porque se trata de uma das armas mais elogiadas pelo próprio Presidente Putin.

Já do outro lado, o porta-voz do ministro da Defesa russo, garante que foi destruído, com um Kinzhal, um sistema Patriot, o que, se corresponder à verdade, é igualmente um desfecho nefasto para os EUA e para a Ucrânia, porque é o sistema Patriot que mais segurança permite nestes ataques com projecteis hipersónicos. Isto além de armazéns de material militar ocidental.

Soube-se entretanto, que em Bakhmut, a martirizada cidade na região de Donetsk, que está a ser disputada por russos e ucranianos, as forças do Grupo Wagner terão já chegado ao limite da urbe, estando toda, assim, praticamente nas mãos das forças de Moscovo. Isto, apesar de nas áreas a norte e sul de Bakhmut existirem relatos de ganhos territoriais importantes por parte das tropas ucranianas.