Devido à sua extrema importância estratégica, porque é uma espécie de último reduto ucraniano antes de as forças russas atingirem o Rio Dniepre, uma linha de defesa praticamente inexpugnável, os aliados ocidentais do regime ucraniano de Volodymyr Zelensky estão agora empenhados em não permitir uma vitória estratégica dos russos que pode virar o curso do conflito.
Para isso, depois de alemães e norte-americanos terem aberto de par em par a porta ao envio dos famosos carros de combate pesados Leopard-2 e M1 Abrams, já com os olhos postos na procura de uma forma de travar o avanço russo, os países da NATO estão agora a ponderar trespassar aquela que é a mais perigoso das linhas vermelhas traçadas pelo Kremlin, o envio de caças F-16 e mísseis de longo alcance, ambos com capacidade de atingir alvos no interior mais profundo do território da Federação Russa.
Se este passo for agora dado, o que parece cada vez mais provável, como admitem alguns analistas militares, como o major-general Agostinho Costa, do EuroDefense Portugal, ou Isidro Pereira, também major general e analista da CNN Portugal, um confronto directo entre a NATO e a Rússia passa para a condição de altamente provável.
Isto, porque com este armamento, a Ucrânia passa a ter condições de inverter o mau momento que atravessa na frente de batalha, e a Rússia passa a ter justificação para atacar fora do território ucraniano, visto que os países ocidentais não vão permitir que os seus jactos modernos, sejam os F-16 norte-americanos ou os Rafale franceses, foquem estacionados em bases ucranianas à mercê dos misseis Iskander e Kalibr russos, estando assim a Rússia com legitimidade para alvejar esses alvos foram do palco principal deste conflito.
E se território NATO for alvo de ataque russo, o famoso Artº 5º será accionado e isso leva a uma situação de iminente resposta conjunta, o que, como advertiram os Presidentes Joe Biden, dos EUA, e Vladimir Putin, da Federação Russa, não há, praticamente, forma de evitar a abertura dos arsenais nucleares em caso de confronto directo entre os dois países.
Mas, com o avanço, aparentemente, imparável das forças russas sobre território controlado pelos ucranianos na zona do Donbass, muito graças aos reforços da mobilização de 300 mil soldados de Setembro de 2022 que começaram a chegar à frente de batalha, e ainda à mobilização de mais artilharia e blindados pesados T-90, os mais modernos até agora nesta guerra do lado russo, que ainda possui os de última geração T-14 Armata na rectaguarda, não é seguro que as novas armas ocidentais cheguem a tempo de fazer a diferença.
É que se os Leopard-2 e os britânicos Chalenger-2 devem demorar pelo menos dois meses a chegar, após treino das tripulações ucranianas, já os M1 Abrams só estarão na Europa no final de 2023, enquanto os caças F-16 demoram meses, senão anos, a preparar pilotos aptos e eficazes...
E o Presidente Biden já veio dizer que não está nos seus planos enviar ou permitir o envio de F-16 para a Ucrânia, sendo que também a Alemanha não parece inclinada para dar esse passo... nem os franceses. Mas as opiniões dividem-se entre os membros da NATO.
Mais perigoso, no momento, parece ser a disponibilidade dos ocidentais em entregar projécteis com alcance de até 300 kms para os sistemas múltiplos de lançamento de misseis HIMARS, o que dá a Kiev a possibilidade de, por exemplo, e como têm dito as chefias militares ucranianas, atacar as bases de onde partem os bombardeiros russos que lançam os misseis de precisão K-22 contra alvos na Ucrânia.
É, apesar do perigo de uma escalada rumo à catástrofe nuclear, isso mesmo que está a suceder, segundo a Reuters, que acaba de noticiar que os norte-americanos estão a preparar mais um pacote de apoio militar a Kiev no valor de 2 mil milhões USD, que contempla o envio de projectéis de longo alcance, para já os denominados GLSDB, com alcance de 160 kms, que podem ser disparados dos HIMARS, o que praticamente duplica a distância máximo dos actualmente disponíveis.
E o risco de tal suceder não parece ser negligenciável, porque o chefe das secretas ucranianas, Kirill Budanov, já veio dizer que enquanto todos os territórios ucranianos não estiverem libertados da presença russa, os russos vão continuar a ter problemas dentro do seu território.
Por seu lado, o Kremlin tem dito com insistência que as ameaças a território russo, incluindo a Crimeia, anexada em 2014, e os territórios anexados em 2022, depois de referendos, Kherson, Zaporijia, Donetsk e Lugansk, "levará ao uso de armas mais potentes por parte das forças russas", tendo mesmo o líder da Duma (Parlamento), Vyacheslav Volodin, alertado para a iminência de uma tragédia global.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro de 2022 as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não era (é) a ocupação do país vizinho, condição que evoluiu depois para a anexação de territórios no Donbass mas também as regiões de Kherson e Zaporijia, mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.
O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro, tendo acrescido a esta reivindicação as províncias de Kherson e Zaporijia, depois da realização de referendos que a comunidade internacional, quase em uníssono, não reconhece.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas de fora o sector energético, do gás natural e em pate do petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.