Estes documentos que o Ministério da Defesa russo apresentou hoje, segundo o seu porta-voz, major general Igor Konashenkov, foram recuperados no decurso da "operação militar especial", designação oficial do Kremlin para a invasão da Ucrânia, e "confirmam que estava em preparação pelo regime de Kiev uma ofensiva sobre o Donbass para Março" deste ano.

O porta-voz do Ministério da Defesa russo sublinhou que estes documentos, que foram publicados nas páginas dos sites russos controlados pelo Kremlin, provam que o Governo de Volodymur Zelensky "mentiu quando, em Fevereiro, disse que não tinha quaisquer plano para avançar militarmente sobre o Donbass" e que tinha como objectivo único "resolver tudo pela via do diálogo".

Estes documentos mostram "detalhadamente os planos que existiam para a tomada do Donbass pela Guarda Nacional Ucraniana"., avançou ainda o general Igor Konashenkov, citado pelo Sputnik News.

As repúblicas de Donetsk e Lugansk, situadas na região do Donbass, no leste da Ucrania, com fronteira com a Federação Russa, foram uma das três principais razões que o Presidente russo, Vladimir Putin, avançou para dar início à sua "operação militar especial", nomeadamente a protecção das suas populações de ascendência russa, tendo reconhecido oficialmente a sua independência.

As outras razões apontadas por Putin são a questão da adesão da Ucrânia à NATO, que considera uma ameaça insustentável à sua segurança vital, e a exigência de que Kiev reconheça a Crimeia como parte integrante da Federação Russa.

Kiev acusa a Rússia de querer tomar a Ucrânia, mudar o Governo legítimo e democrático e integrar o país na Grande Rússia, num claro e desastroso atentado contra a lei internacional.

Na reacção da comunidade internacional, a Rússia foi castigada com o maior pacote de sanções económicas jamais aplicado a um país.

Rússia diz que não quer derrubar Zelensky

Entretanto, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, veio a público dizer que o objectivo da Rússia não é depor o Governo do Presidente Zelensky mas sim chegar a uma via negocial de forma a conseguir os seus objectivos.

Esta responsável da diplomacia russa, que veio afirmar ainda esperar céleres progressos no campo das negociações em curso, quando os dois ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, e da Ucrânia, Dmytro Kuleba, se preparam para um encontro decisivo na Turquia na quinta-feira, adiantou ainda que as forças russas estão a avançar no terreno "de acordo com os planos".

Refutando as notícias nos media ocidentais de que as colunas militares russas estão a sofrer atrasos graves por deficiências na logística de guerra e por causa da forte resistência ucraniana, Maria Zakharova, alertou que essas informações erradas contribuem para atrasar a solução para o conflito que tem como objectivo muito claro, e desde o início, garantir que este país se afirma pela sua neutralidade, não aderindo à NATO, mantendo uma cooperação sã com todos, incluindo a Rússia, a aceitação das evidências no que diz respeito à Crimeia como parte da Federação Russa e as repúblicas do Donbass como sendo soberanas e isso deve ser reconhecido por Kiev.

Esta responsável atirou ainda fortes acusações aos EUA de estarem a forçar este conflito e apontou, entre outras "provas" a existência de armas químicas norte-americanas na Ucrânia exigindo explicações de Washington, considerando um erro sério a declaração de guerra económica dos Estados Unidos à Rússia através de uma linha desmesurada de sanções, entre outras a proibição de importar crude e gás.

Contexto

A 24 de Fevereiro, depois de semanas de impaciente expectativa, as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte vital das suas garantias de segurança soberanas, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de KIev da soberania russa da Península da Crimeia, integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1992, com o colapso da União Soviética.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem ao grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados a sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, em mais de 60%. Estas sanções abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios...

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página, inclusive as suas consequências económicas, como o impacto no negócio global do petróleo.