A advertência foi feita por Nikolay Petrushev sem que tenha existido ainda qualquer confirmação por países da Europa ocidental e alguns analistas admitem que tal tem como objectivo salientar a destruição das munições alegadamente fornecidas por Londres.

A possibilidade de entrega deste tipo de munições polémicas, pelas dúvidas que existem sobre a poluição perigosa e radioactiva que já provocaram rastos de doenças cancerígenas no Iraque e na antiga Jugoslávia, foi admitida pelo ministério da Defesa britânico, embora a efectivação do envio deste tipo de munições para a Ucrânia não tenha chegado a ser oficialmente confirmada.

Daí este alerta de Petrushev que tem como substância a denúncia da existência destas munições já na Ucrânia e o perigo que representa o seu uso na guerra, porque, embora Londres tenha garantido que não existe risco de contaminação radiactiva, as organizações internacionais de defesa dos Direitos Humanos e antiguerra têm publicado relatórios que demonstram precisamente o contrário, recorrendo aos exemplos do Iraque e dos Balcãs.

Os primeiros sinais de que os misseis russos teriam atingido um armazém onde estavam toneladas deste tipo de obuses, alegadamente mais explosivos e letais devido à integração de componentes de urânio na sua produção, foram, como lembrou os major general Agostinho Costa e Carlos Branco, na CNN Portugal, as imagens de robôs no combate às chamas desses mesmos armazéns para evitar consequências e a contaminação nos bombeiros.

Se esta denúncia do homem da segurança nacional russa se revelar factual e não servir apenas para sublinhar a capacidade russa de destruir os depósitos de armas ocidentais espalhados pela Ucrânia, perigando assim a capacidade para a esperada contra-ofensiva da Primavera, então a Europa volta a estar sob ameaça de uma nuvem radioactiva quase 40 anos depois do acidente na central nuclear de Chernobil, em 1986, que matou dezenas de milhares de pessoas, no imediato e ao longo dos anos subsequentes, estando ainda hoje a afectar pessoas em toda a Europa.

Todavia, as duas situações não são comparáveis porque em 1986 sucedeu o maior acidente de sempre numa instalação nuclear com a explosão de um reactor e estas munições, que são produzidas com uma versão empobrecida de urânio 238 U - sem as características do naturalmente radioactivo 235 U -, que, de acordo com alguns especialistas, não possuem a capacidade de gerar impactos na saúde de pessoas e animais pela via da sua eventual radioactividade.

Todavia, são abundantes os relatórios científicos que contrariam estas abordagens, com volumosos exemplos de aumentos substanciais de doenças oncológicas entre populações onde foram usadas munições deste tipo, tanto no Iraque como na ex-Jugoslávia.

Até meio da tarde de sexta-feira, horas depois do alerta lançado, apenas media russos e asiáticos tinham noticiado esta possibilidade, mantendo-se o silêncio nos media ocidentais, especialmente nos europeus, sem excepção.

O uso destas munições (exemplo na foto) é admitido pelos militares porque o urânio confere-lhes uma maior capacidade de penetração nos carros de combate blindados e na perfuração de bunkers onde se resguardam as tropas em combate.