Não há qualquer alteração nos níveis de radiação emitidos na central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, que foi tomada pelas forças russas no seu avanço sobre a Ucrânia que já leva oito dias, garantiu a AIEA, aliviando uma boa parte da tensão que nas últimas surgiu com o anúncio de um incêndio nas suas imediações fruto dos combates entre as duas forças.

Este incêndio, que não afectou directamente a central nuclear, foi debelado rapidamente e o perigo decresceu no local mas aqueceu na guerra de informação, com o Presidente Volodymyr Zelensky a voltar as redes sociais com um inflamado alerta sobre a possibilidade de um tragédia de tal magnitude que colocaria em risco a existência da Europa. E os media internacionais fizeram eco dessas palavras, o que levou a algum pânico na capitais europeias.

Todavia, ainda frescas na memória estão as imagens da chegada das tropas russas a Chernobil, a central nuclear no norte da Ucrânia, que está desactivada desde Abril de 1986, quando um dos seus reactores explodiu, libertando uma nuvem tóxica em todo o continente, fazendo milhares de vítimas, que vão de 4.000 a 200.000, dependendo das fontes consultadas.

Esta central foi desactivada mas o reactor que explodiu permanece activo e a emitir radiação, estando essa contida sob uma gigantesca cúpula de betão e outros materiais. Com a chegada das forças russas, na semana passada, pouco depois do início da invasão russa, temeu-se que ocorressem problemas, mas o que se passou foi que russos e os elementos ucranianos trabalharam em conjunto para garantir a continuidade do sistema de vigilância e segurança da infra-estrutura.

Para já, a AIEA apressou-se a vir a público clarificar que não houve qualquer alteração aos níveis de radiação emitidos pela central de Zaporizhzhia, depois de as autoridades de Kiev terem anunciado ao mundo que tinha sucedido uma perigosa escalada nesses níveis de radioactividade.

As palavras mais incandescentes vieram, porém, do Presidente Zelensky, que usou mesmo a expressão "terror nuclear" para descrever o que os russos estavam a fazer no seu país, acusando Moscovo e o Presidente russo, Vladimir Putin, de estar a querer repetir a tragédia de Chernobyl.

Também no exterior se está a encarar esta tomada da central de Zaporizhzhia pelos russos para escalar o cerco internacional à Rússia, como é disso exemplo o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que veio dizer que ia convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir este assunto porque está em causa a segurança de toda a Europa. Ainda não era, perto das 10:30 de hoje, 04, conhecida uma reacção de Moscovo a estas reacções.

Entretanto, tanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), como a União Europeia, têm reuniões de alto nível agendadas para hoje, em Bruxelas, na Bélgica.

Ambas as reuniões têm como ponto único das respectivas agendas a crise na Ucrânia.

Contexto: A 24 de Fevereiro, depois de semanas de impaciente expectativa, as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte vital das suas garantias de segurança soberanas, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1992, com o colapso da União Soviética.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem ao grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados a sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, em mais de 35%. Estas sanções abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios...

O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página, inclusive as suas consequências económicas, como o impacto no negócio global do petróleo.