As autoridades congolesas acabam de confirmar o surgimento de casos de Ébola numa localidade colada à fronteira com o Sudão do Sul, que é, segundo os organismos internacionais que lutam para conter o vírus por detrás desta epidemia numa apertada região composta pelas províncias do Kivu Norte e Ituri, um dos maiores riscos possíveis.
Isto, porque o Sudão do Sul, o mais recente país em todo o mundo, devastado por anos a fio de guerra, fome e seca, ainda tem menor capacidade que Kivu Norte e Ituri, não existe um sistema de saúde minimamente eficaz e é evidente a incapacidade do Governo de Juba em atacar um eventual surto epidémico nas suas fronteiras.
Com milhões de pessoas a viverem na mais indigente condição, com centenas de milhares em campos de refugiados, deslocados em número impossível de contabilizar devido à seca e às guerras travadas com o Sudão antes da independência, em 2011, o Sudão do Sul tem todas as condições para ser terreno fértil para a multiplicação de casos de Ébola e transformar a epidemia de graça na RDC numa tragédia global.
O caso de contaminação junto à fronteira entre a RDC e o Sudão do Sul, foi detectado na localidade de Ariwara, no extremo da província de Ituri, junto à fronteira com o país vizinho, e consta de um relatório elaborado pelas autoridades sanitárias sudanesas do Sul consultado pela Associated Press.
A vítima é uma mulher de 40 anos que chegou a Ariwara oriunda de Beni, que dista mais de 500 km"s dali, e é um dos locais de maior densidade de casos de Ébola registados nesta província do leste da RDC, a par do Kivu Norte, de onde partiu há semana também a família que acabou por sucumbir ao vírus já em território ugandês.
Face a esta situação, as autoridades sanitárias da RDC e da Organização Mundial de Saúde (OMS), estão a fazer um esforço suplementar, em comunicação permanente com o Governo de Juba, capital do Sudão do Sul, para conter o vírus num perímetro apertado, impondo uma vigilância total a todos aqueles que contactaram com a mulher contaminada, durante pelo menos 21 dias, tempo máximo estimado de incubação.
O objectivo é garantir que nenhuma pessoa contaminada e não controlada se desloca para o interior do Sudão do Sul, um país que não dispõe de meios para garantir resposta adequada a uma eventual urgência, estando já com um gigantesco problema em mãos, que são os mais de 4 milhões de deslocados pela guerra que provocou 400 mil mortos na guerra de cinco anos travada com o Sudão.
Recorde-se que esta é já a segunda mais grave epidemia de Ébola, com as suas 1.500 mortes, mais de 2.300 casos confirmados, desde a que ocorreu na África Ocidental - Libéria, Serra Leoa e Guiné -, onde morreram, entre 2013 e 2014 mais de 11 mil pessoas, com milhões de deslocados e severo impacto nas economias dos países da região.
A RDC faz fronteira com nove países, incluindo Angola, com quem partilha mais de 2.000 quilómetros.