Depois da tempestade (storm, em inglês) gerada pelo seu caso escaldante com a artista de filmes para adultos, "Stormy" Daniels, a que se seguiram outras acusações de mulheres alegadamente vítimas de tentativa, ou mesmo consumação, de abuso sexual, Donald Trump enfrenta agora aquele que é o furação judicial que pode derrubar os seus planos para voltar ao cargo de Presidente dos Estados Unidos da América.
Trump foi intimado a comparecer em tribunal na próxima terça-feira no âmbito do processo onde surge acusado de violar a Lei da Espionagem norte-americana por ter levado, quando deixou a Casa Branca, centenas de documentos classificados e "top secret" para a sua casa em Miami, onde foram encontrados durante uma polémica rusga feita pelo FBI.
Nunca reconheceu a derrota nas eleições de 2020 contra o actual Presidente, o democrata Joe Biden, e entre várias declarações incandescentes nesse período, Donald Trump começou logo a sua campanha para um regresso em 2024, nunca deixando o palco mediático, a partir do qual manteve fogo cerrado sobre o democrata que o despejou da Casa Branca.
Apesar de liderar, de longe, as primárias no seu Partido Republicano, onde enfrenta alguns pesos-pesados, como o governador de Miami Ron DeSantis, o seu antigo vice-Presidente,. Mike Pence, ou ainda a ex-embaixadora na ONU, Nikki Halley, Trump tem uma extensa e complexa ramificação de processos judiciais dos quais tem de se desenvencilhar se quiser manter a chama da sua candidatura aceso.
E os casos sucessivos de ataques de caracter sexual a diversas mulheres ao longo dos anos, sendo graves, não são o maior problema que Tpump enfrenta nos tribunais.
N maior parte dos casos onde estava acusado, foi-se livrando com acordos e pagamentos de chorudas somas, mas algumas foram resistindo e não se deixaram demover pelos encantos do dinheiro, como é o caso da artista pornográfica Stormy Daniels ou da famosa estrela da sociedade E. Jean Carroll, no qual foi condenado, embora tendo recorrido, a pagar uma indemnização de 5 milhões USD.
Os documentos "top secret" que levou às escondidas depois de perder as eleições em 2020 é que são o seu calcanhar de Aquiles, ou a tempestade para a qual o dinheiro e a equipa robusta de advogados que constituiu podem não ser abrigo suficientemente forte e ver-se na contingência, embora os analistas mais considerados nos EUA notem que de recurso em recurso, Donald Trump vai conseguir chegar aos boletins de voto em 2024.
Isto, porque, para levar o seu objectivo avante e voltar em ombros à Casa Branca, Trump "só" tem, além de ser eleito, de gerar uma dúvida sólida entre os eleitores no que diz respeito às acusações de abuso sexual, porque no ao impacto político dos documentos secretos, o antigo Presidente teve a "sorte" de ver o actual Presidente e candidato democrata a incorrer no mesmo tipo de "crime", porque também ele viu centenas de documentos encontrados pelo FBI na garagem da sua casa no Delaware.
Para já, é Trump que tem de provar a sua inocência, como diz estar, no caso dos documentos, como garante que o vai provar face à acusação formal de quer foi já alvo pelos procuradores federais, sendo o alegado crime de que é acusado sustentado pela Lei da Espionagem e sob a forma de retenção de documentos classificados do Estado que podem causar danos à segurança nacional quando deixou de ser Presidente, e ainda de obstrução para a sua recuperação por parte das autoridades.
Todo o conteúdo processual está sob segredo de justiça e só os traços gerais estão a ser divulgados pelos media norte-americanos, pelo que pode conter elementos surpresa para os quais os seus advogados tenham mais dificuldade em contornar.
Se Trump conseguir sair ileso destes ataques judiciais, além de ter a almofada de Joe Biden também não estar limpo na justiça, conta ainda com uma crescente crise económica, elevada inflação e ainda por limar o friso de uma eventual recessão, em parte gerada pela guerra na Ucrânia, para a qual os EUA são o maior aliado dos ucranianos e impulsionador externo de armas e financiamento.
E ainda os sinais de fragilidade na saúde do actual Presidente, com sucessivas quedas em frente às televisões ou situações caricatas, aparentemente resultantes da sua idade avançada, 80 anos - Trump terá 77 na data das eleições -, como querer cumprimentar uma entidade invisível em cima de um palco, como se viu em imagens que correram o mundo.
Biden tem ainda contra si uma Câmara dos Representantes de maioria republicana, o que pode ser um travão a algumas medidas eleitoralistas importantes nesta etapa final do mandato, como aprovar gastos em políticas sociais ou infra-estruturas importantes para a economia nacional e para "abraçar" eleitores.