Com mais este episódio às costas, o antigo Presidente dos Estados Unidos da América, apesar de liderar as sondagens, tanto as internas, para as primárias no Partido Republicano, como para o confronto decisivo, em Novembro de 2024, vê as eleições começarem a ser já decididas em 2023, mas nos tribunais.
Primeiro foi o caso da antiga estrela de filmes pornográficos, Stormy Daniels (ver links em baixo nesta página), onde estava acusado de ter permitido o pagamento de mais de 130 mil USD para comprar o seu silêncio sobre uma alegada relação extraconjugal, tendo, já em Abril deste ano, chegado a ser constituído arguido, embora tudo indique que este processo se vá prolongar no tempo até se transformar em nada o que toca à sua candidatura presidencial.
Agora é este caso, que tinha sido pouco mediatizado até agora e no qual surge o nome de uma colunista famosa, E. Jean Carroll, que em 2019 revelou ter sido violada pelo ex-Presidente num vestiário de uma loja em Nova Iorque, com o Tribunal de Nova Iorque a admitir que este a molestou mas não aceitou a acusação de violação, o que resulta "apenas" num ligeiro empobrecimento, se vier a pagar os 5 milhões USD, mas sem danos legais para a sua caminhada até às eleições de Novembro de 2024.
Só que estes não são os únicos processos que atrapalham a vida política de Donald Trump. O antigo inquilino da Casa Branca, apesar de refutar as acusações num e noutro caso, dizendo mesmo nas redes sociais que nem faz ideia de quem seja E.Jean Carroll, havendo mesmo analistas que defendem serem os menos graves que tem à ilharga.
Sobre o cadastro de Trump pendem ainda acusações de fuga aos impostos envolvendo milhões de dólares e ainda o armazenamento de documentos classificados e top secret que levou ilegalmente para a sua casa, na Florida, de Mar-a-Lago, que foram recuperados num raide do FBI altamente mediático que chegou aos ecrãs de todo o mundo.
Embora esteja bem encaminhado para voltar a enfrentar Joe Biden, o actual Presidente, que já anunciou a sua recandidatura, face à oposição que também procura a nomeação republicana nas primárias, com destaque para o seu antigo vice-Presidente, Mike Pence, e o governador da Florida Ron DeSantis, Trump pode ter na barra dos tribunais o seu maior adversário, com alguns elementos da sua equipa eleitoral a terem admitido que a estratégia do adversário passa por queimá-lo em lume brando com processos sucessivos.
Aos 77 anos, Donald Trump tem a seu favor a solidez da ala mais conservadora dos republicanos, que lhe permite liderar as sondagens na disputa interna à nomeação, mas também aparecer como o mais forte candidato do seu partido face ao democrata Joe Biden, que já anunciou a recandidatura a um segundo mandato apesar de contar já com 80 anos.
Sobre este caso mais recente, Trump disse nem sequer saber quem é E. Jane Carroll e o seu advogado considerou tratar-se de uma decisão judicial muito estranha, visto que os júri rejeitou as alegações de violação mas consideraram Trump culpado por agressão sexual, ao que correspondeu a obrigação de pagamento de 5 milhões USD.
E se Trump mantém o caminho livre de volta à Casa Branca, contando, para já, apenas com as disputas eleitorais que ainda tem pela frente, corre o risco de entrar na Sala Oval bastante mais pobre, porque Carroll é apenas mais uma de dezenas de mulheres que estão na fila com processos judiciais por assédio e agressão sexual.
Como recorda a Lusa, o ex-presidente norte-americano acusou Carroll de ser uma "maluca" que inventou "uma história fraudulenta e falsa" para vender um livro de memórias.
Carroll está a pedir uma indemnização monetária não especificada e uma retratação das declarações de Trump que alega serem difamatórias.
Durante o julgamento assistiu-se a alegações de comportamento inadequado de Trump com mulheres e à reprodução do vídeo "Access Hollywood", no qual Trump se gabava de agarrar os órgãos genitais das mulheres sem pedir autorização.
Natasha Stoynoff, uma antiga redactora da revista People, testemunhou, entre lágrimas, que Trump a beijou à força, contra a sua vontade, enquanto lhe mostrava a sua propriedade de Mar-a-Lago, logo após o Natal de 2005, para um artigo sobre o seu primeiro aniversário de casamento com a terceira mulher, Melania.
Antes do julgamento, os advogados de Trump não conseguiram impedir que os jurados vissem o vídeo do "Access Hollywood" e ouvissem Stoynoff, que disse ter contado a poucas pessoas sobre o alegado incidente na altura, mas que decidiu vir a público depois de ver o vídeo e as subsequentes negações de Trump num debate de 2016.
Trump negou que alguma vez tenha tentado beijar Stoynoff. O testemunho de Stoynoff ocorreu um dia depois de outra mulher, a antiga corretora da bolsa Jessica Leeds, ter testemunhado que Trump lhe apalpou os seios e tentou enfiar a mão na sua saia quando estavam sentados lado a lado num voo de uma companhia aérea no final dos anos 70.
Carroll manteve as alegações contra Trump em segredo durante 17 anos, contando apenas a dois amigos próximos, antes de as tornar públicas num livro de memórias de 2019. Os advogados de Trump atacaram a credibilidade de Carroll através de um exaustivo contra-interrogatório, questionando porque é que não gritou por ajuda durante o alegado ataque e porque é que nunca foi à polícia.
Um psicólogo que testemunhou a favor de Carroll disse que é comum as vítimas de violação ficarem em silêncio e culparem-se a si próprias.
Donald Trump denunciou entretanto um "veredicto vergonhoso" e insistiu, após ter sido divulgada a deliberação de um júri, que não conhecia a denunciante. "Não tenho absolutamente nenhuma ideia de quem é essa mulher", realçou o ex-presidente norte-americano na sua rede social Truth Social.
Além de considerar o veredicto "uma vergonha", o republicano, já candidato assumido às primárias do seu partido para as presidenciais de 2024, destacou que esta é "a continuação da maior caça às bruxas de todos os tempos". Trump nunca compareceu no julgamento e rejeitou um convite para testemunhar.
Esta é a primeira vez que Trump é condenado após deixar a presidência do país, embora em janeiro a sua empresa, a Trump Organization, tenha sido condenada a pagar 1,61 milhões de dólares por um esquema de evasão fiscal.