A polícia de investigação federal norte-americana efectuou até agora cerca de 300 detenções, incluindo dezenas de militares e ex-militares que participaram no assalto. Dos detidos, 65 foram já acusados de agressão a agentes da autoridade.

Os suspeitos terão estado envolvidos "em alguns dos mais violentos ataques a agentes da polícia" que faziam guarda ao Capitólio durante o ataque, de acordo com um comunicado do FBI, divulgado esta sexta-feira, sobre aquela que "será provavelmente a mais complexa investigação levada a cabo até hoje pelo Departamento de Justiça".

Cinco pessoas morreram no assalto ao Capitólio, ocorrido durante a contagem de votos do colégio eleitoral, que davam a vitória a Joe Biden, considerada fraudulenta pelos apoiantes de Trump, apesar de não existirem quaisquer provas nesse sentido.

Acusado de ter incitado o ataque, inclusivamente por senadores do seu próprio partido, Donald Trump foi alvo de um julgamento inédito no Senado, em Fevereiro, realizado sob fortes medidas de segurança. Apesar de ter sido considerado culpado por 57 dos 100 senadores, Trump acabou por não ser condenado, uma vez que seria necessária uma maioria de dois terços dos votos.

Ainda assim, o clima social na capital federal norte-americana continua a ser considerado de alto risco, nomeadamente tendo em conta o discurso perante sessão conjunta do Congresso, que o presidente Joe Biden deverá fazer ainda este mês. Segundo um relatório dos serviços de informações norte-americanos, divulgado esta semana, extremistas violentos, motivados por discórdias políticas e preconceitos raciais, constituem uma "ameaça elevada" nos EUA.

A avaliação constante no documento, divulgado pelo Gabinete do Director das Informações Nacionais, indica que os extremistas associados a risco de violência são motivados por um espectro largo de ideologias, incluindo teorias de conspiração, oposição às restrições impostas durante a pandemia e a crença de que a eleição presidencial de Novembro foi fraudulenta.

O relatório resultou de um pedido do presidente Joe Biden, para que fosse avaliada a ameaça à segurança interna constituída pelos supremacistas brancos e outros extremistas domésticos.

Em entrevista dada quinta-feira à NPR (o serviço público de rádio dos EUA), o director do FBI, Christopher Wray, afirmou, por seu lado, que, desde que assumiu funções, "o número de investigações a grupos extremistas internos duplicou, e vai continuar a aumentar".

Um caso sem precedentes

O assalto ao Capitólio ocorreu durante a sessão do Congresso onde os membros do Senado e da Câmara de Representantes - as câmaras alta e baixa do "parlamento" norte-americano - procediam à ratificação da decisão do Colégio Eleitoral que, a 14 de Dezembro de 2020, tinha confirmado a vitória de Joe Biden e Kamala Harris nas eleições presidenciais de 3 de Novembro.

Momentos antes da votação, realizada numa sessão dirigida pelo vice-presidente Mike Pence, Trump organizou um comício nas imediações da Casa Branca, incentivando os seus apoiantes a avançarem para o Congresso e imporem a sua vontade, o que acabaria por resultar num episódio caótico sem precedentes nas história moderna dos Estados Unidos.

O assalto, transmitido em directo para todo o mundo, só seria neutralizado após a intervenção da Guarda Nacional, o corpo de reserva do exército dos Estados Unidos, que cercou o edifício e criou uma barreira para manter os tumultos afastados dos congressistas. Retomados os trabalhos, a vitória de Biden seria finalmente ratificada, confirmando assim a derrota histórica de Trump, um dos poucos presidentes norte-americanos que não conseguiu fazer-se reeleger para um segundo mandato.

A polícia encontrou, posteriormente, várias bombas artesanais escondidas nas imediações das sedes dos partidos Democrata e Republicano, e ainda viaturas com armas e engenhos explosivos dentro nas imediações do Congresso, o que levou vários analistas citados pela imprensa norte-americana a considerar que os revoltosos estariam a protagonizar uma tentativa de golpe de estado.