O general iraniano Qassem Suleimani, de 63 anos, chefe da unidade de elite dos Guardas da Revolução do Irão, a força Quds, foi morto nas primeiras horas de sexta-feira por um míssil largado de um drone norte-americano quando se encontrava no Aeroporto Internacional de Bagdade, a capital iraquiana, onde estava de visita.
Não foi apenas um homem, mesmo que um oficial superior, um general, que tombou na capital iraquiana, foi o mais influente comandante militar do Irão e por todos visto como futuro Presidente do país devido à fama e prestígio que granjeava que morreu por ordem do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, num milimetricamente planeado ataque aéreo com drones.
O general Suleimani não passeava apenas prestígio pelo Irão, de onde era natural e mandava no corpo principal das forças de elite locais, mas também no Iraque, onde era visto como coordenador dos esforços do Irão para influenciar os destinos do país vizinho através de uma intrincada rede de contactos, muitos deles baseados em afinidades religiosas xiitas, mas com um "inimigo" comum em evidência: a dupla EUA/Israel, ou ainda no Líbano e na Síria, onde era oficiosamente "rei e senhor".
Mas tanto poder concentrado num só homem, que começou a ser granjeado na guerra Irão-Iraque dos anos de 1980, gera inimigos em várias latitudes, sem esquecer internamente, mesmo que sempre tenha negado a vontade de se candidatar à Presidência.
Em Washington há muito que tinha a cabeça a prémio, oficialmente porque foi uma das figuras que mais contribuiu, como defendem vários analistas conhecedores da região, para redesenhar o Médio Oriente a partir de um crescente poder de influência de Teerão, com base em palcos como a Síria e o Iraque, países onde o caos permitiu a criação de uma estrutura operativa iraniana de eficácia comprovada, mas oficiosamente porque tamanho prestígio sobre os ombros de um homem na condição de Presidente do Irão seria visto como negativo pelos estrategas norte-americanos e israelitas e, também, diz-se à boca pequena, nos corredores da política em Teerão.
Mesmo sem o ser, como, por exemplo, jornais como o The Guardian, The New York Times ou os europeus Le Monde ou Corriere Della Sera, tem vindo a escrever nas últimas horas, Qassem Suleimani tinha, em questões militares, mais importância que o Presidente do Irão ou mesmo o Aiatola Ali Khamenei, que depressa marcou três dias de luto nacional e prometeu vingar o seu assassinato.
Nas últimas décadas, desde os anos de 1990, este general manteve nas mãos todo o programa de dispersão da influência geoestratégica do Irão no Médio Oriente e no mundo, a partir do posto de primeira linha que ocupou à frente da unidade de elite dos Guardas da Revolução, aproveitando com mestria o caos gerado pela invasão dos EUA ao Iraque em 2003 ou ainda a "primavera árabe" na Síria, a partir de 2011, para vincar o papel do Irão na definição do futuro em ambos os países, sem esquecer que no Líbano já assim é há muito mais tempo, e ainda no Iémen, entre outras complexas geografias "vendadas" pelo petróleo que produzem.
Um homem com tanto poder, prestígio e projecção não é abatido a sangue frio, fora de um contexto de guerra declarada, sem consequências, como os mais atentos analistas têm sublinhado.
Para já, apenas se sabe que essa vingança está prometida pelo líder religiosos iraniano, um declarado admirador do general que nasceu pobre, entre uma família de agricultores, em 1957, na vila de Rabor, a sul do país, mas que se revelou, com os anos e décadas a passar, uma dos mais proeminentes figuras do Irão dos aiatolas e de toda a região do Médio Oriente.
Não começou da melhor maneira, mas sim da mais difícil, a trabalhar arduamente desde os 13 anos, para pagar dívidas da família ao Estado, o que é visto, e sublinhado pelo próprio na sua autobiografia, como um momento que lhe forjou o carácter, tal como combater na guerra Irão-Iraque escassos anos depois, que o acompanhou até aquele momento no Aeroporto Internacional de Bagdade, onde um míssil tombado dos céus lhe tirou o sopro da vida.
Qassem Suleimani era, porém, visto em muitas chancelarias, como um aliado do Ocidente no combate aos jihadistas, tando da Al Qaeda como, depois, do "estado islâmico", como o provam alguns documentos libertados pela Wikileaks, o que pode ter estado por detrás de algumas pesadas críticas feitas por políticos europeus a este assassinato.
Nas próximas horas ou dias, mas seguramente semanas, ficar-se-á a saber qual a dimensão e consequências deste episódio que fará seguramente parte da atribulada história do importante, complexo, estratégico e caótico Médio Oriente.
Para memória futura ficará seguramente a sua declaração feita há menos de dois anos, quando Suleimani disse, dirigindo-se a Donald Trump, a quem acusou de ser "um jogador", garantindo que as suas forças estavam mais próximas dele do que poderia pensar, culminando com um profecia: "Tu vais começar a guerra mas nós vamos concluí-la!".
Pode ter começado! Ver-se-á no futuro se o general Suleimani estava certo.