Mas o fim das hostilidades parece ainda mais distante que antes deste entendimento porque Telavive conta com o apoio incondicional dos Estados Unidos até ao aniquilamento da organização palestina que Governa a Faixa desde 2007 e o primeiro-ministro israelita fez questão de o deixar bem claro.

Benjamin Netanyahu aproveitou a declaração onde anunciou o acordo com o Hamas, que já estava a ser dado como certo ao longo de todo o dia de terça-feira, como o Novo Jornal também noticiou, para garantir que este cessar-fogo não é a antecâmara de um processo de paz.

Antes pelo contrário, o líder radical do Governo de Telavive mais extremista em décadas, admite que só aceitou este acordo de pausa nas hostilidades, mediado pelo Qatar, porque era preciso garantir a libertação do maior número possível de prisioneiros israelitas nas mãos do Hamas, cerca de 240 levados para Gaza aquando do assalto das Brigadas Al Qassam ao sul de Israel no dia 07 de Outubro.

Segundo noticiaram as agências internacionais, Israel vai libertar das suas prisões cerca de 150 palestinianos, na maioria mulheres e crianças, que não cometeram crimes e estão detidas apenas como ferramentas de pressão sobre as organizações "terroristas" palestinianas, e perto de 50 israelitas mantidos cativos pelos combatentes do Hamas na Faixa de Gaza.

Sabe-se ainda que o Hamas e a Jihad Islâmica, as duas organizações que combatem a ocupação israelita na Palestina há décadas, não aceitaram incluir qualquer militar ou funcionário do Estado israelita neste acordo de troca de prisioneiros.

Numa comunicação oficial, a Jihad Islâmica e o Hamas já disseram que não está em cima da mesa qualquer desistência de manter o combate pela libertação da Palestina.

No entanto, este cessar das hostilidades temporário está a ser elogiado por todas as grandes potências, com Rússia e China a sublinharem a sua importância num contexto mais ambicioso de fim da guerra, enquanto os EUA se mantiveram fieis ao apoio incondicional a Israel, embora sublinhando igualmente a importância desta interrupção nos combates por razões humanitárias.

Também no xadrez regional, que vai do Médio Oriente ao Norte de África, onde estão dois grandes players neste "jeu", Marrocos e, principalmente, o Egipto, decorem esforços diplomáticos intensos para acabar com esta guerra e o risco inerente de alastrar para o barril de pólvora regional, onde estão alguns dos maiores produtores/exportadores de petróleo do mundo e habita uma instabilidade perpétua.

Mas é igualmente da região que ressurgem as acusações mais graves a Israel por causa da brutalmente assimétrica resposta aos ataques de 07 de Outubro, com o Presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, a acusar Israel de crimes de guerra e genocídio e a Autoridadesz Palestina, pela voz do seu Presidente, Mahmmud Abbas, a acusar as IDF de estarem a aniquilar o povo palestino em Gaza, clamando pela intervenção dos EUA, o principal aliado e apoiante em armas e dinheiro de Israel, para travar o "genocídio".

Esta guerra já fez mais de 12 mil mortos do lado palestiniano, com mais de 6 mil crianças nesta lista, e 35 mil feridos, enquanto do lado israelita, não estado ainda contabilizadas as centenas de baixas entre as suas forças, segundo o Hamas, que invadiram Gaza, morreram 1200 pessoas e duas mil ficaram feridas nos ataques do Hamas de 07 de Outubro.

Mas esta guerra tem outras particularidades aterradoras, com mais de 50 jornalistas mortos pelas IDF, o que levou o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ), uma das mais empenhadas organizações internacionais na defesa dos profissionais dos media, a pedir uma investigação a esta mortandade.

Deixa ainda um registo igualmente histórico, porque, tal como no caso dos jornalistas, nunca foram mortos tantos funcionários das Nações Unidas num conflito, em tão pouco tempo, como nesta guerra em Gaza.

E se no caso dos jornalistas, existem indícios de que as forças israelitas, que têm feito ruidosas acusações aos profissionais que cobrem a guerra no terreno de serem agentes ao serviço do Hamas, estão a olhar para os repórteres como alvos, no que diz respeito aos funcionários da ONU, surgirem como vítimas é quase inevitável, porque as Nações Unidas têm os seus centros de apoio humanitário e escolas nos locais mais povoados da Faixa de Gaza e os bombardeamentos das IDF atingem há seis semanas consecutivas estes locais, alegando que os combatentes palestinianos usam os civis como escudos humanos.

Outro recorde trágico conseguido por Israel é que em nenhuma oura guerra se destruíram tantos hospitais e unidades de saúde como em Gaza desde 07 de Outubro até hoje, com Telavive a justificar este registo tenebroso com a existência de túneis do Hamas por debaixo destas infra-estruturas, o que as IDF não conseguiram até agora provar apesar de terem tomado de assalto alguns, especialmente o maior de todos, o Hospital Al Shifa, impondo a morte a centenas de pacientes internados nas suas unidades de cuidados intensivos, entre estes dezenas de recém-nascidos.

Todavia, olhando para a geografia de Gaza, esta mistura é uma condição e não uma opção, porque se trata de um território com apenas 365 kms2, que se alonga por cerca de 40 kms por 10 de largura, habitado por 2,3 milhões de pessoas.

Isso faz deste o território um dos mais densamente povoados do mundo, levando a que se use como imagem para ilustrar esta realidade a ideia de que se ali se acende um fósforo, é impossível que ninguém se queime.

Com este cenário em pano de fundo, apesar de a condenação dos ataques do Hamas de 07 de Outubro ter sido generalizada, por serem igualmente de uma barbaridade rara, Israel tem sido exposto na sua acção de terror pelas imagens divulgadas pelas grandes cadeias de notícias, com destaque para a Al Jazeera, que tem uma cobertura desta guerra 24/24, e um canal aberto de forma ininterrupta para o sofrimento da população civil de Gaza.