No dia 23 de Dezembro, os rebeldes e a sua liderança militar reuniram-se com os comandantes da força regional da Comunidade da África Oriental (EAC, na sigla em inglês), tendo em vista a sua retirada de todas as aldeias ao redor de Kibumba, mas logo no dia seguinte o Exército da RDC qualificou o anúncio de retirada como um "isco". E nenhum movimento efectivo de retirada foi sinalizado, segundo a France-Presse, que cita várias fontes.
Um residente em Kibumba disse que "o M23 continua" tanto naquela cidade como em Buhumba, tal como efectivos da força militar enviada pela EAC. A fonte afirmou à agência de notícias francesa que os rebeldes abandonaram as "posições de Kamahoro e de 'Três antenas'", a cerca de três quilómetros do centro de Kibumba e que a maioria da população fugiu, tendo alguns, depois de regressarem, voltado a partir de novo.
Outras duas fontes, dois agricultores que permaneceram sábado no centro de Kibumba, também disseram que "o M23 ainda continua", descrevendo que até construíram um centro de saúde para seus cuidados médicos.
Um dos dois homens afirmou ter tido uma breve troca de palavras com os rebeldes: "Eles perguntaram-me por que é que eu estava a sair de Kibumba".
A RDCongo acusa o Ruanda de apoiar ativamente o M23 e de lutar ao seu lado, tendo as relações entre os dois países vizinhos caído no patamar da total desconfiança mútua.
Várias iniciativas diplomáticas foram lançadas para tentar resolver esta crise, designadamente por Angola, conforme mandato recebido da União Africana, e o atual destacamento da Força Regional da África Oriental, liderada pelo Quénia.
O M23, considerado terrorista por Kinshasa e que prossegue os seus ataques desde o início da primeira ronda de negociações de paz em Nairobi, em Abril último, tem-se mantido até agora fora do processo, por imposição do Governo congolês.
"O M23 reitera a sua disponibilidade para um diálogo directo com o Governo da RDC para encontrar uma solução duradoura para as causas profundas do conflito no leste da RDC", acrescentou Kanyuka na nota, emitida na terça-feira e reproduzida esta quarta.
O grupo confirmou igualmente aceitar o "cessar-fogo" exigido no passado dia 23 de Novembro numa cimeira em Luanda patrocinada pelo Presidente angolano, João Lourenço, mediador da União Africana para o diferendo entre a RDC e o Ruanda, que Kinshasa acusa de apoiar o M23.
Embora Kigali negue veementemente este apoio, um relatório de peritos da ONU divulgado em Agosto confirmou essa cooperação.
Na cimeira de Luanda, o Presidente congolês, Felix Tshisekedi, e o ministro ruandês dos Negócios Estrangeiros, Vincent Viruta, que representou o Presidente Paul Kagame, apelaram à cessação das hostilidades a partir de 25 de Novembro, mas os combates nunca cessaram efectivamente.
Pelo menos 272 pessoas foram mortas num ataque do M23 na semana passada na cidade de Kishishe, no território de Rutshuru, na província do Kivu do Norte, de acordo com o Governo congolês.
Os rebeldes estimam, no entanto, o número de civis mortos em oito, devido a "balas perdidas".
O M23 foi criada em 2012, quando soldados congoleses se revoltaram devido à perda de poder do seu líder, Bosco Ntaganda, acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de crimes de guerra; denunciando ainda várias violações do acordo de paz de 23 de Março de 2009, que dá o nome ao movimento.
Entre outras condições, o grupo exige a renegociação do acordo assinado pela guerrilha congolesa Congrès National pour la Défense du Peuple (CNDP) para a sua integração no exército, com forma de melhorar as suas condições.
O CNDP, constituído principalmente por tutsis (grupo que foi a principal vítima do genocídio ruandês de 1994), foi formado em 2006 para - entre outros objectivos - combater os hutus das Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), fundado em 2000 por líderes associados ao genocídio e outros ruandeses exilados na RDC, para recuperar o poder político no Ruanda.
Após anos de inactividade, o M23 recomeçou os combates em Março passado com as Forças Armadas da RDC (FARDC), provocando o deslocamento de, pelo menos, 340.000 pessoas no leste do país, de acordo com a ONU.
Após meses de tréguas, os combates recomeçaram em Outubro e o M23 avançou para o cerco a Goma, capital do Kivu do Norte -- a menos de 100 quilómetros da capital do Ruanda, Kigali, no outro lado da fronteira - que os rebeldes tomaram em 2012.
O leste da RDC está mergulhado em conflito há mais de duas décadas, alimentado por milícias rebeldes e pelo exército congolês, não obstante a presença da missão de manutenção da paz das Nações Unidas (Monusco).