Este ataque das milícias a uma patrulha das Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC), que provocou a morte de um militar e vários milicianos, embora existam referências à morte de vários habitantes da localidade sem qualquer ligação às milícias que em Junho de 2016 deram início a uma vaga de terror nesta província da RDC.
Entre as consequências desta violência generalizada no Kasai, para além dos mais de 1,3 milhões de deslocados internos e para cima, segundo a igreja católica, de mais de três mil mortos, estão os cerca de 35 mil refugiados desta região acolhidos na Lunda-Norte.
Depois de cerca de um ano de intensos combates, milhares de aldeias queimadas, milhares de mortos e mais de 1,3 milhões de pessoas em fuga das suas casas, uma larga operação da FARDC conseguiu acalmar a situação e em Novembro do ano passado as autoridades de Kinshasa deram a situação como controlada.
Face a esse cenário, as organizações internacionais, desde a UNICEF, do Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados ou os Médicos Sem Fronteiras, bem como as autoridades locais angolanas, começaram a admitir estarem criadas as condições para o regresso paulatino dos refugiados congoleses do Kasai na Lunda-Norte, a suas casas.
Inicialmente recebidos em dois campos improvisados de Cacanda e Mussungue, próximo da capital da Lunda-Norte, Dundo, os mais de 30 mil refugiados foram posteriormente reassentados num campo de acolhimento maior e com melhores condições, no Lóvua, a cerca de 100 km"s do Dundo.
Ainda não são conhecidas as razões para este regresso dos ataques das milícias no Kasai Central, província que faz fronteira com Angola, no norte, mas o ataque de segunda-feira apanhou toda a gente de surpresa, alimentando, de novo, o receio entre os refugiados, internos e os que procuraram segurança no exterior, como a Lunda Norte, de regressarem às suas casas, como era apontado como uma prioridade pelo Governo de Joseph Kabila.
A pacificação do Kasai é um dos passos essenciais para a realização das eleições presidenciais marcadas para 23 de Dezembro, nas quais Kabila está impossibilitado de voltar a concorrer por imperativo constitucional, visto já ter cumpridos dois mandatos sucessivos.
No entanto, estas eleições já deveriam ter tido lugar em Dezembro de 2016, de acordo com os prazos legais, mas foram adiadas, primeiro para Dezembro de 2017, e, depois, para 23 de Dezembro deste ano.
Sempre com a violência como pano de fundo, ora em manifestações organizadas pela oposição política, ora por movimentos católicos, que já fizeram mais de 400 mortos desde o último trimestre de 2016.
Isto, porque a oposição não esconde a suspeita de que Kabila pretende encontrar expedientes, como apontado ter sido o caso da violência no Kasai, para se perpetuar no poder, apesar da pressão exercida pelas organizações internacionais, da ONU à União Africana.
No ataque de segunda-feira, entre os mortos, estão habitantes de Lombelu, apanhados no fogo cruzado, levando de novo à fuga das populações locais para as matas.
Fontes militares citadas pela imprensa local referem que as milícias Kamwina Nsapu estão a tentar reorganizar-se, procurando roubar armas e munições às FARDC, o que revela intenções de engrossar os ataques e levanta a possibilidade de uma nova vaga alargada de violência.
Para já, em risco voltam a estar as eleições e o regresso dos refugiados que ainda se encontram em Angola, na Lunda-Norte.
O início desta vaga de violência, em meados de 2016, resultou da morte do chefe tradicional local, denominado Kamwina Nsapu, em confrontos com as forças de segurança, próximo de Kananga, capital provincial.
Apesar deste ter sido o mais mortífero ataque das últimas semanas, desde Dezembro que estes ataques têm voltado a suceder, marcado o fim de uma pausa na violência em resultado da larga operação das FARDC na região, na qual empregaram milhares de militares para anular as milícias, entre os meses de Julho e Setembro/Outubro do ano passado.