Ao mesmo tempo, as agências de notícias dão conta de que os EUA financiaram uma sondagem do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev onde fica claro que a maior parte dos ucranianos querem negociações directas com a Rússia para acabar com a guerra.
Isto, ao mesmo tempo que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa curiosamente pouco badalada entrevista ao jornal francês Le Monde, veio admitir que a Ucrânia está disponível para aceitar ceder territórios a Moscovo se isso for essencial para acabar com o conflito.
Para tal, porque este assunto é de grande melindre, disse Zelensky, tal teria de ser suportado por um referendo popular em que a maioria dos ucranianos aceitasse que a cedência das regiões, ou parte destas, anexadas pela Rússia fossem reconhecidas como perdidas.
Ora, uma sondagem não é um referendo, mas esta, realizada pelo Instituto Internacional de Sociologia ucraniano, que foi feita já em Maio, antes de vários dirigentes de topo terem vindo admitir essa possibilidade, permite perceber que um referendo teria o mesmo resultado.
Mas, ainda mais importante, o estudo de opinião foi financiado pelos Estados Unidos, o principal aliado da Ucrânia e sem o qual Kiev fica à mercê de Moscovo.
E se em Washington não fosse já claro que a derrota ucraniana é uma inevitabilidade, o resultado desta sondagem, que mostra que apenas 38% dos ucranianos se opõem a negociações directas com os russos, jamais seria tornado público.
Apesar desta sondagem mostrar que ainda existe uma maioria popular que rejeita a cedência de territórios, a questão não pode ser avaliada de forma devida, visto que em Maio ainda eram muito ténues as vozes internas que agora vão sussurrando a possibilidade de usar a geografia como moeda de troca para a paz, incluindo a do próprio Presidente Zelensky.
A persistente conquista de territórios pela Rússia na frente de guerra é outra das razões para que em Kiev se esteja a considerar negociar porque o actual cenário impõe como forte possibilidade que à medida que o tempo passa, mais vantajosa será a posição de Moscovo para impor condições.
Antes de quaisquer negociações, o Presidente russo, Vladimir Putin, já disse que exige a saída das tropas ucranianas das regiões anexadas desde 2014, a Crimeia, em 2014, e Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia, em 2022.
Do lado ucraniano, a questão essencial é a oposta, a retirada de todos os russos dos territórios ocupados até agora.
Como em todas as situações análogas do passado, um dado é garantido: quem aceita negociar, parte com a intenção de ceder o menos possível, mas aceitando que algo terá de deixar ir...
Rússia e EUA trocam prisioneiros como no tempo da Guerra Fria
Até ao fim da Guerra Fria, sempre que a União Soviética e os Estados Unidos, ou o Pacto de Varsóvia, a organização militar com sede em Moscovo, e a NATO, com sede em Washington, procediam à troca de detidos, isso era visto como um gesto de boa vontade com efeitos de distensão entre os dois blocos.
Desta feita, como sublinham alguns analistas, a troca de 24 prisioneiros ocidentais na Rússia, e nos EUA, ou em países da NATO, que teve lugar na quinta-feira, demonstra igualmente que entre Moscovo e Washington existe uma vontade comum de aligeirar a pressão, nomeadamente em torno da questão ucraniana.
Mas não só..., também na corrida às armas nucleares, com americanos a anunciar a deslocação de dezenas de ogivas para a Alemanha e a Rússia a anunciar a redefinição da sua estratégia nuclear, com cada vez mais ogivas apontadas à Europa Ocidental e aos EUA, emerge como imbróglio entre as duas superpotências nucleares.
Entre os prisioneiros trocados agora, na mais importante deste o fim da Guerra Fria, estão dois jornalistas cativos há largos meses, como o correspondente do Wall Street Journal, Evan Gershkovich, acusado de espionagem, e o espanhol Pablo González, detido na Polónia, acusado do mesmo crime.
Entre os prisioneiros trocados agora, trazendo a memória histórias de espionagem retractadas na literatura, tendo como palco o histórico "Check Point Charlie", entre as duas alemanhas, estão vários acusados de espionagem, homicídio, crimes cibernéticos, fraude...
Dos 24 indivíduos envolvidos nesta histórica troca, estão 16 ocidentais que estavam presos na Rússia, oito russos detidos no ocidente e ainda dois ocidentais acusados de espiarem para Moscovo.