Tanto os canais pró-russos como os pró-ucranianos nas redes sociais que cobrem diariamente os avanços e recuos das forças ucranianas e russas, coincidem na constatação de que as forças de Kiev estão a perder o balanço da guerra e a remeterem-se para uma posição defensiva, porque lhes faltam munições e as tropas estão exaustas e sem capacidade de rotação para descansar da ferocidade dos combates nas trincheiras que se estendem por mais de 1.200 kms.
Mas esta situação, que enfraquece as forças ucranianas, devido à redução do fornecimento de armas e munições, especialmente para a artilharia, de 155 mm, calibre NATO, e misseis para as baterias de defesa antiaérea, tanto dos Estados Unidos, como da União Europeia, pode estar a chegar ao fim.
Depois de a União Europeia ter aprovado mais um pacote de ajuda de 50 mil milhões de euros, verba que corresponde a mais de 50% do PIB angolano, que ronda os 105 mil milhões USD, os EUA preparam-se para concluir o processo de aprovação do pacote de 55 mil milhões USD destinado a Kiev e proposto pelo Presidente Joe Biden...
Porém, mesmo depois de o Senado, que é a Câmara Alta do Congresso norte-americano, com maioria democrata, ter aprovado este pacote de ajuda à Ucrânia, que junta ainda um apoio volumoso a Israel e a Taiwan, perfazendo, no total, 95,5 ml milhões USD, falta agora o mais complexo e difícil processo de aprovação na Câmara dos Representantes, onde a maioria é da oposição republicana.
Dominada pelo antigo Presidente e candidato republicano às eleições de Novembro deste ano, Donald Trump, que, claramente, defende o fim da ajuda a Kiev, a Câmara dos Representantes mostra-se substancialmente mais resistente à aprovação deste pacote de ajuda à Ucrânia, não havendo qualquer garantia de que tal possa suceder, nem sequer se sabe ainda quando é que o líder da "House", o republicano Mike Johnson, vai agendar a votação.
Apesar desta "fire Wall" republicana para o alívio da falta de armas e munições às forças ucranianas na "House", Joe Biden tem-se empenhado fortemente na sua conclusão positiva, tendo vindo, curiosamente, a público, na terça-feira, dizer que os 55 mil milhões de dólares não vão para Kiev, ficam na indústria de armamento norte-americana. nas empresas que produzem os misseis para as baterias antiaéreas Patriot, na Florida, ou os misseis Javelin, no Arizona, ou as munições para artilharia, no Texas, criam empregos nos EUA...
Mostrando claramente o seu desespero, até porque a falta de munições para os sistemas de defesa antiaérea está a comprometer a capacidade de resposta aos crescentes ataques às cidades ucranianas, por drones ou mísseis de cruzeiro e balísticos russos, bem como a comprometer a capacidade de manter as linhas de defesa nas trincheiras do leste ucraniano, onde faltam munições de 155 mm, o Presidente Volodymyr Zelensky já veio sublinhar o risco para a o mundo que seria a não aprovação deste pacote de ajuda dos EUA.
Isto, porque o dinheiros dos EUA é destinado a armamento enquanto os 50 mil milhões aprovados pelos europeus para serem disponibilizados em quatro anos, são, no essencial, para pagamentos de salários e pensões aos funcionários públicos e aos militares, ou para importar bens essenciais, de forma a manter o Estado ucraniano a funcionar.
Quando a guerra se aproxima de forma célere dos dois anos de duração, e com a Rússia claramente em vantagem em meses de combates, Zelensky reiterou, num dos seus comuns vídeos de propaganda, que se os aliados ocidentais não cumprirem com a sua obrigação, é a liberdade no mundo que cairá em conjunto com a Ucrânia.
A maioria dos analistas entende que, efectivamente, se este pacote de ajuda não for aprovado, devido à resistência da maioria republicana na Câmara dos Representantes, devido, muito em concreto, a divergências sobre as prioridades quanto à política interna, em tempo de pré-campanha para as eleições de 05 de Novembro próximo, com a questão da imigração ilegal a sobressair neste contexto, a resistência ucraniana será encostada às cordas e um colapso na frente de combate será inevitável, mais cedo ou mais tarde.
Entretanto, Bruxelas mexe com China e Índia
Face ao fracasso evidente das sanções ocidentais contra a Rússia, devido à capacidade de Moscovo diversificar as suas fontes de rendimento mais relevantes, o sector energético, para a Ásia, nomeadamente para a China e a Índia, a União Europeia está agora a virar as baterias para Pequim e Nova Deli, ameaçando empresas destes dois gigantes asiáticos e mundiais com sanções devido às suas ligações à economia russa.
Os europeus colocaram três empresas chinesas da China continental, quatro com sede em Hong Kong e uma na Índia, na lista das sanções.
Alguns analistas admitem que este gesto europeu deverá ser recebido com fortes críticas em Pequim e Nova Deli, por ser uma clara intromissão nas suas políticas internas.
Os objectivos da União Europeia passam por bloquear as rotas de comércio de tecnologia para Moscovo permitindo à Rússia manter a sua indústria de defesa afinada e capaz de alimentar o esforço de guerra na frente ucraniana.
Para Pequim, esta inclusão de empresas nacionais chinesas na lista de sanções europeias é ilegal e por isso rejeitada sem rodeios, garantindo o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros que a China vai defender os seus interesses.
A diplomacia chinesa adverte Bruxelas sobre a normalidade das relações comerciais com a Rússia e assevera que Pequim #se opõe de forma firme e inequívoca a todas as sanções ilegais" ou quaisquer tentativas de intromissão nas relações comerciais normais com Moscovo.
"Vamos tomar as medidas necessárias para salvaguardar os direitos legítimos e interesses das empresas chinesas que mantêm negócios normais com a Rússia", avisa Pequim.