Volodymyr Zelensky, numa entrevista, a mais dura de sempre para os seus aliados da NATO, disse que "quem não apoia a Ucrânia está a apoiar a Rússia", explicando depois que viu nos olhos dos lideres ocidentais que o visitam em Kiev que "ele já não estão ali".

Sublinhando que "os olhos" dizem algo diferente das palavras de apoio que repetem, Zelensky, um antigo actor, encaixando-se no papel de "vítima", nota que os olhos desses líderes ocidentais, apesar da repetição das palavras de apoio, deixam entender que "já não estão ali", já não estão sintonizados com os interesses de Kiev.

O aliado que esteve mais recentemente em Kiev foi o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, na sua 4ª visita à capital ucraniana desde o início da invasão russa, e a 6º desde que tomou posse, tendo, portanto, ido a KIev pelo menos duas vezes no espaço de pouco mais de um ano antes do troar dos canhões.

Esta visita permitiu a Blinken oferecer mais um pacote de ajuda mas também dizer que Kiev terá de encarar as negociações mais cedo ou mais tarde, o que, de certo modo, obteve uma resposta de Zelensky nesta entrevista.

Admitindo que ele e a sua equipa estão "emocionalmente preparados" para um guerra longa, o líder do regime ucraniano volta a insistir que "este é um mau momento" para gestos diplomáticos com o Kremlin, porque "Putin pensa o mesmo", o que permite admitir que pode mudar a forma de olhar para essa possibilidade o seu homólogo russo também o fizer, embora o avise que que, no fim, os russos vão sempre perder esta guerra por causa das sanções, que quer ver revigoradas rapidamente.

Esta é a primeira vez que o Presidente ucraniano admite que está a perder o pé na frente da diplomacia e da política global, porque constata o esmorecer da vontade de apoiar o seu país por parte daqueles que sempre lhe garantiram que estariam com os ucranianos até onde fosse preciso.

Estas palavras de Zelensky coincidem com algumas notas atiradas para as páginas dos jornais de alguns analistas que salientam, por exemplo, que aquela que foi a mais notável apoiante do esforço de guerra ucraniano entre os europeus, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, por exemplo, desapareceu do mapa mediático dos indefectíveis da Ucrânia na sua guerra "até à derrota total da Rússia no campo de batalha".

Depois de lamentar este "desligamento" dos seus aliados ocidentais, dos quais separa os EUA, a quem mantém os elogios de maior aliado, e procura diluir o risco para os restantes da chegada de Donald Trump ao poder nas eleições de 2024, dando a entender que este "nunca irá deixar de apoiar a Ucrânia".

Apesar de o próprio Trump já ter dito que nada será como dantes nesse capitulo, o do apoio a Kiev, Zelensky sabe que esse risco, de quebra na corrente norte-americana, tenderá a fazer "relaxar os aliados tradicionais dos EUA no continuado apoio à Ucrânia.

O líder ucraniano sabe ainda que tanto a Europa ocidental como os EUA atravessam severas crises económicas, muito alicerçadas no lastro/refluxo nefasto das sanções à Rússia, e que a única forma de reverter este quadro de fragilização do apoio ocidental é conseguir ganhar ímpeto mediático, através dos meios de comunicação social, especialmente os norte-americanos e europeus, que desde o início da invasão, a 24 de Fevereiro de 2022, têm sido os pilares da propaganda de Kiev.

E é por isso que, nesta entrevista a The Economist, Zelensky optou por um misto de lamento e de ameaça velada aos lideres europeus que pode ter de se haver com a "fúria" de ucranianos e dos seus eleitores, o que tem significado relevante porque calcula-se que, segundo a ONU, estejam nos países da Europa ocidental mais de 8 milhões de refugiados de guerra ucranianos, número suficiente para criar embaraços sociais aos governos que os acolheram.

Pede, por isso, aos media internacionais que o ajudem a convencer os lideres dos países aliados a não reduzir o apoio em armas porque o que pensam as suas opiniões públicas é o que eles acabam por decidir...

No entanto, ao que tudo indica, segundo as sondagens mais recentes, tanto nos EUA como na Europa ocidental, Zelensky não está consciente da realidade social nos países ocidentais, onde os estudos de opinião mostram um claro afastamento dos seus interesses imediatos e o apoio à guerra, demonstrado pela ideia de que "os cidadãos europeus não se esquecerão se os seus líderes deixarem perder a Ucrânia".