Mas as eleições gerais, que foram, por iniciativa de Macky Sall e, posteriormente, aprovadas no Parlamento por uma maioria de aliados seus, reagendadas para 15 de Dezembro, quanto estavam previstas para 25 de Fevereiro, permanecem no limbo do caos político senegalês.

Isto, porque se, como acaba de anunciar, deixar o cargo no limite da data constitucionalmente possível, 02 de Abril, e se não houver alteração à data aprovada no Parlamento, o Senegal corre o risco de atravessar um momento sem paralelo de não ter... Chefe de Estado.

Como vai a democracia senegalesa, uma das mais robustas e à prova de golpes, devido à solidez dos seus partidos e à qualidade da sua sociedade civil, desatar este Nó Górdio, é o que se verá nos próximos dias.

Uma possibilidade em crescendo entre é voltar a reagendar as eleições para uma data em Março, bastando para isso o Presidente Sall voltar a levar o assunto à Assembleia Nacional e usar as mesmas ferramentas a que recorreu para tentar ganhar quase um ano de poder.

Do que Macky Sall não se safa é de sair de cena com o registo manchado por uma clara tentativa de golpe interno prolongando o seu mandato por quase nove meses, isto, depois de em 2023 ter experimentado a sociedade senegalesa para tentar um 3º mandato.

Este movimento no xadrez político em Dacar foi justificado com a existência de uma situação de confusão entre os candidatos (ver links em baixo nesta página), que não colheu entre os partidos da oposição e foi visto como uma estratégia de se manter no poder.

Acusado por todos os lados, e com as ruas das grandes cidades do país a ferver em protestos, desde Saint Louis, no norte, a Ziguinchor, no sul, passando pela capital, Dacar, Macky Sall acabou por ceder.

Do que não se livrará, além da fama de golpista, é de responder, possivelmente em tribunal, pelas suspeitas de desvios de milhões USD que deveria ser gasto durante a pandemia da Covid-19, para combater o vírus SARS CoV-2.

Este caos político em Dacar tem estado a ser visto com atenção pelos media internacionais porque se trata de uma das mais sólidas democracias em África mas localizada numa região em brasas, com os golpes militares que entre 2020 e 2023, varreram a África Ocidental, do Mali ao Níger, e à Guiné-Conacri, passando pelo Burquina Faso e Gabão (África Central).

Com a "FranceAfrique" a esboroar-se, Paris tem feito esforços pantagruélicos para não perder também a sua jóia da coroa, que é o Senegal, o que seria um golpe difícil de encaixar no actual contexto em que a influência da antiga potência colonial no continente está em extinção acelerada, especialmente na região do Sahel.