"Estamos abertos a negociações em restrição, a não ser o interesse nacional, para fundar um poder legítimo que reflicta as aspirações da revolução dos sudaneses", disse o presidente do Conselho Militar Transitório, Abdel Fattah Burhan.

Na terça-feira, Abdel Fattah Burhan anunciou a suspensão de todos os acordos alcançados nas últimas semanas com a oposição e comprometeu-se a convocar eleições num prazo de nove meses.

A ideia foi rejeitada pela oposição sudanesa, que classificou a proposta como uma tentativa de 'reeditar' os passos do ex-Presidente Omar al-Bashir, deposto pelos militares em Abril.

O anúncio de Burhan surgiu depois de, na segunda-feira, as Forças Armadas terem lançado uma operação militar para desmobilizar o acampamento de opositores em Cartum que resultou em pelo menos 35 mortos e centenas de feridos.

O chefe da junta militar, que governa o país após a deposição do Presidente Omar al-Bashir, em 11 de Abril, lamentou as mortes e ordenou uma investigação aos acontecimentos.

Burhan disse ainda que os responsáveis pela violência contra os manifestantes serão responsabilizados.

O acampamento, epicentro da revolução que levou à deposição de Omar al-Bashir, foi totalmente destruído, segundo denunciou a oposição, que anunciou a suspensão das negociações com os militares.

A junta militar argumentou que a intervenção foi uma acção dirigida contra delinquentes que se tinham infiltrado entre os manifestantes.

Os militares tinham pedido repetidamente à oposição a desmobilização do acampamento para retomar a normalidade no país, mas os activistas mantiveram-se em frente ao Quartel-General das Forças Armadas, em Cartum, até segunda-feira.

Os manifestantes, que conseguiram que a cúpula militar demitisse vários generais próximos de Al-Bashir, mantinham a pressão nas ruas para que uma autoridade civil assumisse o poder, numa altura em que as negociações com a junta militar estavam num impasse.

Militares e opositores tinham conseguido vários acordos como a formação de um Conselho Soberano transitório integrado por civis e militares, que dirigiria o país nos próximos três anos.

No entanto, não conseguiram chegar a acordo quanto aos nomes a integrar esse conselho, com os militares a reclamarem a presidência e uma ampla representação, algo que foi rejeitado pela oposição, que queria uma liderança civil.

Repressão militar já fez pelo menos 60 mortos no Sudão - novo balanço

Os organizadores dos protestos pró-democracia no Sudão afirmaram hoje que o número de mortos em todo o país desde a repressão violenta do seu protesto em Cartum no início desta semana aumentou para 60. O anterior balanço apontava para 40 mortos.

O Conselho dos Médicos do Sudão adiantou que as forças de segurança mataram hoje pelo menos dez pessoas na capital, Cartum, e na cidade de Omdurman.

Outras dez pessoas perderam a vida na terça-feira, incluindo cinco no estado de White Nile, três em Omdurman e duas no bairro de Bahri, em Cartum.

O Conselho dos Médicos do Sudão é o braço médico da Associação de Profissionais do Sudão, que tem liderado os protestos contra os militares que estão no poder e que iniciaram uma acção militar sobre manifestantes que estavam acampados junto ao quartel-general do Exército a exigir a transferência de poder para uma autoridade civil.

As forças armadas que governam o Sudão desde 11 de Abril anunciaram o cancelamento do acordo que havia sido alcançado com os manifestantes e prometeram convocar eleições no prazo de nove meses.

Os manifestantes estavam acampados desde o início de Abril, primeiro para exigir a saída de Omar al-Bashir da presidência e depois que os generais entregassem o poder a um Governo civil.