A razão para a mortandade entre as manadas de elefantes nestes dois países da África Austral, o Botsuana e o Zimabué, reside, segundo as agências internacionais, numa bactéria com parentesco com uma família de bactérias, a das Pasteurellaceae, que se sabe ser responsável por casos letais de septicémia.
Sendo um dos animais mais importantes para o poderoso sector do turismo destes dois países, embora o do Zimbabué tenha sido abalado pelas crises político-militares dos últimos anos, especialmente após a queda de Robert Mugabe, num golpe militar em 2017, várias equipas internacionais iniciaram uma profunda investigação sobre a causa das mortes. (ver links em baixo nesta página)
Porque isso exigia a mortandade entre animais que estão fortemente ameaçados de extinção em todo o mundo, com a vigorosa e crescente redução nos efectivos africanos ano após ano, devido, quase em exclusivo à caça furtiva, e com Angola a surgir entre os países onde mais foram exterminados nas últimas décadas, embora com uma recuperação importante desde o fim do conflito militar no país.
Para já, embora sendo possível extrapolar para o resto das perdas nas mandas, cientistas do Fundo para a Vida Selvagem Victoria Falls, a Universidade de Surrey, a Agência do Reino Unido para a Saúde de Animais e Plantas e laboratórios sul-africanos, conseguiram descortinar que seis dos 35 animais que morreram no Zimbabué faleceram vítimas de uma bactéria com semelhanças a uma outra já conhecida por gerra septicémias letais.
Embora não esteja confirmado a 100% que foi este mesmo agente patogénico que vitimou os elefantes no resto do Zimbabué e os mais de 350 no vizinho Botsuana, essa possibilidade é a mais consistente para justificar a mortandade.
Actualmente existem cerca de 350.000 elefantes em estado selvagem no continente africano, com cerca de 8% do total a serem abatidos ilegalmente por causa do marfim das suas presas, sendo a população de paquidermes em Angola uma das que está a crescer, com muitos dos animais mais velhos a regressarem às terras do sul do país com o final do conflito, razão pela qual fugiram para a Namíbia e Botsuana, conseguindo, graças à sua memória prodigiosa, encontrar as antigas rotas da transumância.
Em Angola existem, segundo números oficiais, cerca de 3.000 animais, e a crescer, embora sejam ainda registados vários casos de abate ilegal de animais por causa do marfim.
Estes números são, todavia, reduzidos quando comparados com os mais de 70 mil que percorriam as savanas angolanas na década de 1970, o que fazia do país um dos com as maiores manadas do mundo.
Estando na condição de "vulnerável" na "lista vermelha" da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), o elefante é ainda um dos famosos "big five" da vida selvagem africana - a que se juntam o leão, o búfalo, o leopardo e o rinoceronte - e que, anualmente, por si só, rende ao continente centenas de milhões de dólares em dividendos do turismo de safari, razões pelas quais o alarme foi dado em 2020 quando se começaram a conhecer as inusitadas mortes no Botsuana, que tem as maiores manadas em todo o mundo, com mais de 130.000 animais, e no Zimbabué, com cerca 100.000, a segunda maior população no continente.
Inicialmente suspeitou-se de antraz, depois de cianobactérias ou mesmo envenenamento, mas essas hipóteses, tal como a caça furtiva, foram descartadas em laboratório, até que os cientistas e veterinários chegaram a uma bactéria "muito pouco conhecida", segundo Chris Foggin, do Victoria Falls Wildlife Trust, que liderou as investigações, a Bisgaard taxon 45, relacionada com a família de bactérias causadoras de septicémias severas, a Pasteurellaceae.