Em razão da robustez económica do país, a SAFA embolsa, anualmente, substanciais cifras em patrocínios, sendo a sua principal "protectora" a cervejeira Castle Lager, também patrocinadora do Conselho das Federações de Futebol da África Austral (COSAFA). No caso concreto da conferência de imprensa agendada para terça-feira última, o assunto em pauta era um patrocínio gordo procedente da Hollywoodbets, a principal operadora de apostas desportivas da África do Sul, para a Liga feminina sul-africana.

Preto no branco, o acordo entre a casa de apostas e a federação foi apresentado e explicado à comunicação social. Os detalhes de como o dinheiro servirá a Liga Feminina foram avançados, tim-tim por tim-tim, a quem, por seu tuno, faz chegar a mensagem sem ruído ao grande público. Com isso, não há dívidas (ou pelo menos são escassas) e tudo é feito de modo transparente, sem suspeições. O que aconteceu na SAFA é algo rotineiro em organizações sérias. De modo que, por lá, a realização de conferências de imprensa para explicar o que será feito de recursos recebidos de um qualquer patrocinador não é "notícia". Lá, a "notícia" é como será usado o montante.


O sucedido, nesse caso concreto, nada tem de extraordinário e sequer é grande exemplo de transparência. É apenas um procedimento rotineiro de organizações comprometidas com a transparência e a gestão responsável. E isso é tão corriqueiro que não merece palmas, como fazemos agora. Transfigurando para a realidade angolana, é como, por exemplo, mandar desinfestar periodicamente a sede da FAF, sabendo todos nós que, de tempos em tempos, se faz necessário "detetizar" as instalações, sob pena de se perder o controlo sobre pragas de ratos ou baratas. Como é consabido, isso nada tem de genial ou extraordinário. É algo trivial.


Desafortunadamente, entre nós, em Angola, fazer o lógico e o universalmente consagrado como eticamente recomendável é algo tão extraordinário que a "Sociedade Desportiva" exige isso mesmo de dirigentes de federações. Um exemplo gritante é o da FAF, que escondeu, durante largos meses, não só os montantes como também os nomes dos patrocinadores.

Na verdade, só há sensivelmente um mês o director financeiro da instituição deu a cara para dizer que três companhias, designadamente Sonangol, ENDIAMA e SODIAM, haviam assumido parte substancial das despesas do "Girabola" por via de um patrocínio. O anúncio foi feito quando o campeonato já havia completado praticamente toda a primeira volta!


Jogada inicialmente como "isca eleitoral", a cartada das empresas que iriam patrocinar o Campeonato Nacional da I Divisão, após a batida de porta da ZAP, foi apresentada veladamente como fruto de um pretenso relacionamento privilegiado entre o presidente-candidato e altas esferas do poder real do País. Então, por altura da campanha eleitoral, a mensagem foi passada de modo a que se entendesse que o patrocínio só foi possível por ser Artur Almeida e Silva quem o pediu (?).

A mensagem foi divulgada de forma a que se inferisse por dados conclusivos que, caso fosse outra pessoa a solicitar o patrocínio, não teria sucesso na empreitada. Como se todos angolanos fossem imbecis ao ponto de privilegiarem pessoas em vez de instituições; como se os decisores não soubessem distinguir a árvore da floresta; como se as autoridades iriam ver o "Girabola" sucumbir sem mexer uma palha! Que arrogância, a desta gente!

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