Nada, porém, está perdido. Desde logo porque, estando no poder, o MPLA tem à mão o controlo de toda a máquina do Estado. E já demonstrou que possui uma capacidade de instrumentalização dos seus meios e recursos que, à partida, o colocam em larga vantagem sobre os seus opositores.
É claro que isso só não chega. Não chega para amortecer os efeitos da arrogância de alguns governantes na adopção de políticas e de decisões que, nalguns casos, acabaram por provocar o desencanto em franjas importantes da sociedade. E não chega, sobretudo, para anular o descontentamento de uma maioria da população que, sendo vítima de injustiça social, continua afogada em pobreza.
João Lourenço pode sempre justificar que herdou um País em decadência financeira e ético-moral assolado pelo prolongamento de uma grave crise económica, que foi agravada com a eclosão da pandemia da Covid-19.
Tudo isso é verdade, mas, ao gerir o País por impulsos, perdendo muito tempo com uma condução centrada no retrovisor, acabou por governar algemado pelos fantasmas do passado.
A cinco meses das eleições, agora chegou a hora de o MPLA aferir se - depois do esforço feito para tentar colocar o comboio sobre os carris - a tempestade que devastou a vida das famílias angolanas está a ser realmente afastada do seu dia a dia.
Chegou a hora de preparar a ida a votos em Agosto, numa altura em que nenhum partido político pode ter a veleidade de ignorar que os angolanos não querem eleições por eleições.
Os angolanos querem eleições, mas querem que, ganhando quem as ganhe, as eleições traduzam para a maioria o advir de uma melhor qualidade de vida.
Se é para fazer eleições "para inglês ver", então ninguém está disposto a desperdiçar tempo e energias. Ninguém está disposto a ver desbaratar dinheiro e recursos públicos nessa inutilidade política. Porquê? Porque os angolanos têm outras prioridades e preferem antes concentrar-se no que consideram essencial para a sua vida.
E o que lhes diz o essencial? Diz-lhes que foram tomados por um devastador sentimento de frustração ao verem uma governação que, ao ter-se tornado refém do combate à corrupção, não deu conta que alguns dos seus altos representantes - seguindo as pegadas dos antecessores que são agora condenados - estão também enredados em esquemas de corrupção que os tornam igualmente vulneráveis do ponto de vista político e ético-moral.
Diz-lhes que, podendo abrir-se uma janela para se iniciar na vida do País um novo ciclo político proposto pela coligação de partidos da oposição liderada pela UNITA, ainda não se vislumbra, porém, a solidez dos alicerces políticos que poderão vir a cimentar a propalada mudança.
O essencial diz-lhes claramente que os desafios da vida como o desemprego, a inflação, o deficiente sistema de saúde, a miserável qualidade do ensino e a má e incompetente prestação dos serviços públicos são, por todas estas razões, para a maioria da população incomparavelmente mais importantes do que as eleições.
E são mais importantes porquê?
Porque, não estando dispostos a ser coisificados pelos partidos, os cidadãos têm plena consciência de que Angola é muito maior e bem mais importante nas suas vidas do que todos os partidos políticos juntos!
E se estes não tiverem plena noção da importância deste pressuposto capital, a falta de diálogo, de lucidez política e a arrogância dos seus pequenos e grandes poderes, encarregar-se-ão de dar cabo dos seus intentos eleitorais, afastando-os dos cidadãos.
Perante o desvario do que resta da oposição e perante a fragilidade política de grupos de pressão da sociedade civil completamente desgarrados, este é, pois, o maior desafio que se coloca ao MPLA e à UNITA.

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