Engraçado, pois, que o Presidente da República tenha decidido lançar esta farpa na sua deslocação a Portugal, denominando assim todos aqueles que estão implicados em actos de corrupção e se mostram relutantes em aceitar que os actos praticados lesaram o Estado e coartaram o direito de muitos cidadãos.
Afinal quem são estes marimbondos a que o Presidente da República se referiu? Antes de fundamentarmos qualquer resposta, importa dizer que esta geração faz parte de uma elite recente que emergiu depois da guerra, com a assinatura dos acordos de paz, quando passou a assumir funções na alta administração do Estado (e que vieram a enriquecer de forma fraudulenta).
Essa geração foi motivada também pela política do partido no poder, aonde o então presidente enfatizava que com o alcance da paz era necessário criar uma elite angolana forte economicamente para fazer frente aos desafios que país teria de enfrentar nos anos seguintes. De todo a ideia não era má, porém, pecou porque se perdeu o controlo e o foco do objectivo central que era o de esta elite investir nos sectores-chaves da nossa economia por beneficiarem do dinheiro do Estado.
O que vimos nos anos que se seguiram é que houve um saque ao erário público, nepotismo, bajulação, desrespeito total pelo património público, entre outros "desvios". Todos estes males enfermaram a sociedade ao ponto de tornarem-se como cancro, corroendo os bons valores e costumes.
Esta geração são aqueles a que chamamos de mais-velhos, que deviam servir de reserva moral. Alguns são percursores das lutas de libertação nacional, combatentes da guerra civil que vieram a tornar-se políticos, deputados à Assembleia Nacional, ministros de Estado, ministros, altas chefias militares, governadores provinciais, directores nacionais...
Em suma, todos aqueles que nos últimos anos exerceram funções executivas na administração central, local e em empresas públicas, até prova em contrário, foram beneficiados, pois os salários que auferem não lhes dão condições de exibirem a vida de luxo ou os sinais de riqueza que demostram ter.
Esta é a geração dos marimbondos. Parafraseando o titular do Poder Executivo, não devem fazer-se de vítimas, mas, pelo contrário, agradecer a magnanimidade do povo. A grande verdade é que, para além das más políticas públicas concebidas, a acção desta espécie em muito contribuiu para a actual situação económica e social do país . O grande ditame neste combate à corrupção é que esta espécie possui tentáculos de influência em todo o ciclo do poder da esfera nacional, e quiçá internacional, pelos motivos mais óbvios: o dinheiro.
Esta cruzada exigirá de todos nós muito empenho e dedicação, pois está mais do que provado que a corrupção é um mal que afecta a todos, atrasa o desenvolvimento dos países, aumenta a pobreza e outras sortes de males que pudermos imaginar. Havendo vontade política e engajamento de todos conseguiremos ultrapassar este grande mal que é a corrupção.
Estanislau Domingos é advogado, professor universitário e consultor jurídico. Licenciado em Direito/Relações internacionais, tem também uma pós-graduação em Direito Autárquico e Finanças locais, a que junta a frequência do mestrado em Ciências Jurídico-económicas e Desenvolvimento