"Se tomarmos como referência o que aconteceu no SME e no SIC, em que o ministro do Interior acabou exonerado para conter danos políticos e institucionais, o mesmo raciocínio se aplica à ministra das Finanças: a responsabilidade política não se esgota nos subordinados directos, mas recai sobre a liderança máxima do sector. Se o Presidente da República precisar intervir para resolver a crise, isso apenas reforça a tese de que a ministra Vera Daves perdeu condições para continuar no cargo", escreveu o jurista e docente universitário Nadilson Paim.

O caso da AGT é muito mais do que um escândalo financeiro, é um verdadeiro exemplo da fragilidade das nossas instituições, de como se extinguiram sistemas de controlo interno e local, passando-os para a tutela de um órgão central, o que vem provar não ter sido a decisão mais acertada. A acção de um servidor público não pode estar dissociada da ética e da responsabilidade, é preciso ficar claro. Conheço a ministra Vera Daves pessoalmente e há muitos anos, obviamente não é uma situação fácil para quem ao longo dos anos pautou-se por uma postura de brio, profissionalismo, rigor e de governação exemplar, o seu percurso profissional e académico fala por si e é óbvio que esta é uma situação muito perturbadora para a tal, uma mancha na sua reputação, isto ao nível da responsabilidade política. É uma pressão que ela terá de lidar e de saber compreender, uma vez que os cargos têm encargos e os encargos dos cargos são ainda mais pesados do que o próprio cargo. Estamos perante práticas que são antigas e reiteradas na AGT, ou seja, o saque não começou agora. A comunicação social e a sociedade vão exigir-lhe explicações e ela tem de estar preparada para tal.

O NJ sabe que o Grupo Parlamentar da UNITA já avançou com um pedido de audição parlamentar da ministra Vera Daves e que outras pressões e pedidos de explicações virão. Outro dado importante é que os jovens estão detidos e acusados da prática de vários crimes, mas que deve imperar a presunção de inocência até que sejam julgados e eventualmente condenados por um tribunal. É preocupante a forma como os seus nomes, imagens, dados pessoais e de familiares circulam por aí e dando lugar a um julgamento público que já "sentenciou" e os classificou como os culpados de todos os males da Nação, havendo danos para sua integridade moral e riscos para a sua integridade física. Mas é claro que a procissão ainda vai no adro, o buraco é ainda mais fundo, os valores dos desfalques são muito mais elevados e que certamente haverá muito mais pessoas envolvidas e detidas. É caso para dizer: Isto Vai Aquecer (IVA)!

O NJ tem como manchete desta semana o facto de o processo de recrutamento e incorporação militar de 2025 estar suspenso por irregularidades graves como apresentação de documentos falsos com alteração de idades, recebimento indevido de valores por parte de efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA), as direcções de recrutamento e mobilização e os centros de classificação e de selecção militar eram os espaços privilegiados para um esquema que fragiliza e mancha a reputação das FAA. Foram suspensos, com efeito imediato, oficiais do Distrito de Recrutamento e Mobilização (DRM) de Benguela, Huambo, Huíla, Cunene e Moxico, sendo que, nas três primeiras províncias, já há casos de julgamentos e condenações. Há já responsabilidade de natureza disciplinar e criminal relativa a factos que ocorreram nos processos de recrutamento e incorporação militar realizados nos anos de 2023 e 2024. São no total 16 oficiais, sendo dois com a patente de Coronel, dois com a patente de Tenente-Coronel, cinco com a patente de Major, cinco com a patente de Capitão e dois com a patente de Sub-Tenente, todos suspensos num despacho pelo Chefe do Estado Maior das Forças Armadas Angolanas, General de Aviação, Altino Carlos José dos Santos e datado de 13 de Janeiro do ano em curso. Não é apenas a Polícia Nacional, o SME ou o SIC que foram tomados por esquemas fraudulentos de recrutamento de pessoal, as FAA, há algum tempo, acabaram sendo contagiadas. Um verdadeiro perigo, um escândalo e também um sinal de fragilidade e vulnerabilidade para a estrutura castrense. É preocupante e tranquiliza-nos que os envolvidos foram suspensos e estão a ser criminalmente responsabilizados. Ao menos isso. Isto Vai Aquecer!