A pressão para alinhar-se aos compromissos climáticos globais, particularmente, os assumidos nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), força Angola a considerar uma reestruturação da sua matriz energética. Contudo, essa mudança não se limita ao mercado externo. No mercado interno, a necessidade de diversificação é igualmente urgente, especialmente, considerando que a maior parte da população ainda depende de biomassa para necessidades básicas como cozinhar e aquecer as suas casas.

Neste contexto, a transição energética não deve ser vista apenas como uma obrigação ambiental, mas como uma oportunidade de desenvolvimento para o País. O sector dos biocombustíveis, por exemplo, emerge como uma área promissora que pode não só contribuir para a redução das emissões, mas também gerar novos empregos e estimular a inovação tecnológica. A Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) reconhece o potencial dos biocombustíveis como um motor de crescimento sustentável, promovendo a diversificação da matriz energética e a redução da dependência do petróleo.

A transição para energias renováveis, no entanto, não será fácil. Angola precisa superar obstáculos significativos, incluindo a falta de infra-estrutura adequada, a necessidade de investimentos substanciais, e a criação de um ambiente regulatório que favoreça a entrada de capital estrangeiro. Para que a transição energética seja bem-sucedida, o País deve investir em educação e capacitação, garantir o acesso à terra para projectos de energias renováveis e modernizar a sua infra-estrutura energética.

Além disso, a transição energética pode impulsionar a modernização do sector eléctrico, criando modelos de negócios e atraindo investimentos que são cruciais para a sustentabilidade a longo prazo. A digitalização da rede eléctrica e a electrificação do transporte são apenas alguns exemplos de como Angola pode tirar proveito desta transição para se posicionar como um líder em sustentabilidade na região.

No entanto, é crucial que esta transição seja justa e equitativa. O Governo angolano precisa garantir que as comunidades mais vulneráveis não sejam abandonadas. Medidas como subsídios para o acesso à energia e programas de reciclagem para trabalhadores deslocados do sector de combustíveis fósseis são essenciais para assegurar que todos se beneficiem desta mudança.

Em suma, a transição energética de Angola, embora repleta de desafios, apresenta uma oportunidade única para o País se reinventar e traçar um caminho de crescimento sustentável. Com uma estratégia bem definida, que inclui a modernização da infra-estrutura, a diversificação da matriz energética e a capacitação do capital humano, Angola pode não apenas cumprir os seus compromissos climáticos, mas também impulsionar o desenvolvimento económico e social de forma significativa.

A transição energética é uma necessidade inevitável que pode transformar Angola, oferecendo uma oportunidade para o País modernizar a sua economia, reduzir a sua pegada de carbono e, simultaneamente, melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos. Contudo, o sucesso desta transição dependerá da capacidade do Governo e do sector privado de trabalharem juntos para superar os desafios e maximizar as oportunidades.

* Engenheiro de Instalações Especialista