Num passado recente, muitas vozes, sobretudo as que estavam mais directamente ligadas ao Governo, ou as fervorosas apoiantes do partido no poder, valorizavam mais o crescimento do PIB do que outras dimensões do desenvolvimento nacional. Entretanto, bastou cair o preço do barril de petróleo no mercado internacional para se perceber que quase metade da população angolana vivia debaixo da linha da pobreza, tentando sobreviver com o equivalente a menos de um dólar norte-americano por dia.
Passados anos, vemos que o preço do barril de petróleo tende a subir, em ano eleitoral todos os concorrentes empolgam-se, anunciam-se investimentos, fazem-se promessas, criam-se expectativas, celebra-se o retorno ao crescimento ou, pelo menos, à perspectiva de que teremos crescimento positivo.

Terá ficado evidente para todos os políticos o facto de que o crescimento económico por si só, especialmente se não for inclusivo nem diversificado, não levará ao fim da pobreza nem permitirá o desenvolvimento económico de forma sustentável?

Ao que parece, muitos dos concorrentes ao pleito eleitoral ignoram o facto de que o modelo económico baseado na indústria extractiva sempre colocou o País numa situação de vulnerabilidade e incerteza face à volatilidade dos preços: cada vez que o preço do petróleo baixa, a nossa economia entra em crise.

Outra coisa que quase ninguém nos diz é o que se propõem fazer para evitar que as elites se apropriem ou se sirvam da política, dos meios de comunicação públicos, das empresas públicas, instituições religiosas e até dos seus próprios partidos e formações políticas, para acederem a volumosas quantidades de recursos saídos ilicitamente dos cofres públicos, ao passo que limitados investimentos em sectores como o abastecimento de água potável, Saúde e Educação dificultavam o acesso igualitário de muitos cidadãos aos serviços sociais básicos com o mínimo de qualidade.

Convém não nos esquecermos de que a corrupção, o nepotismo, a bajulação e os monopólios corroeram o frágil sistema democrático e concentraram o poder nas mãos de um grupo restrito, em detrimento de todos/as, especialmente, os mais pobres e marginalizados. Longe de conhecerem o seu termo, infelizmente estas práticas tendem a reforçar-se depois das vitórias eleitorais, perpetuando relações de poder discriminatórios. Que podem os candidatos apresentar aos eleitores como propostas para erradicar tais comportamentos?

Muitas pessoas queixam-se de que não lhes é permitido alcançar o seu máximo potencial e disputar em igualdade de circunstâncias as escassas oportunidades para obterem de forma lícita e digna algum rendimento, por isso são obrigadas a aceitar trabalhos que ao seu entender são mal remunerados ou infravalorizados.

Com frequência escuto vozes reclamando da situação de marginalidade em que se encontram ora por serem mulheres, hora por viverem em zonas rurais, alguns por não pertencerem a determinado partido político, e se pertencem, não estão em perfeita sintonia com o seu líder, ou por terem determinada cor de pele, sem falar daqueles que têm uma preferência sexual diferente, ou por serem portadores de deficiência, etc.

As políticas despóticas, a marginalização dos opositores e o favorecimento de apoiantes, familiares e amigos levam à exclusão social e ao subdesenvolvimento de muitos países. Eu gostaria de ouvir os candidatos a respeito do que pretendem fazer, até porque estas práticas não são novas e estão bem presentes na nossa realidade e na realidade da maior parte daquelas instituições que vão disputar as próximas eleições.

Sei que até nas eleições de Agosto de 2022, uns lutarão pela alternância outros pela manutenção do poder, a mim, pessoalmente, tudo isto sabe a pouco se os partidos e formações políticas não souberem explicar às pessoas o que pretendem fazer nos próximos cinco anos face ao diagnóstico que fazem do País real e não do País imaginário.