Razão mais do que suficiente para, acrescentando uma componente geracional, darmos conta de que temos baseados na Assembleia Nacional, largas dezenas, para não dizer centenas de cidadãos, de quem desconhecemos percurso, curriculum, pensamento, uma visão qualquer que seja para o País que oficialmente representam, acabando por traduzir-se numa clara deterioração da qualidade das bancadas, para onde foram sendo empurrados grande parte que, quando necesssário e sem sequer lhes conhecer a tom de voz, estavam disponíveis para pôr o dedo no ar consoante as instruções dos seus chefes directos.

Este facto, generalizado a praticamente quase todas as bancadas, originou que, facilmente se desse conta de que, em meio a um rebanho de gente que, durante anos, vai entrando muda e saindo calada, sem que se saiba o que lá estão a fazer, há outras e outras que, pelo contrário, vão dando nas vistas peloa sua capacidade de articular ideias, apresentar projectos, expôr pontos de vista.

Almerindo Jaka Jamba foi, durante anos, um exemplo, dentro ou fora do Parlamento a quem todos reconheciam capacidade de intervenção, pensamento próprio, sem recorrer, como sucede amiúde, a exaltações inúteis ou destemperadas, que partem normalmente dos que não têm nem história nem caminho, nem provas dadas seja em que campo da nossa vida os quisermos analisar.

Num mundo, começando pelo nosso Continente, em que vão rareando homens de pensamento, e que o saibam apresentar de forma educada, ponderada, superior, exactamente por não se porem em bicos de pés nem quererem dar nas vistas, não podemos deixar de lamentar o desaparecimento de uma figura incontornável na História das últimas décadas, a quem devemos um preito de gratidão e de reconhecimento das suas qualidades incomuns.

Mais incomuns ainda quando comparadas com a verborreia incontinente a que continuamos a assistir por vezes, onde a retórica substitui convicções, crenças, princípios e o velho e caquético discurso do pau e da cenoura substitui um debate franco, agressivo até se necessário for, sem ultrapassar o limite da urbanidade, da boa educação, do projecto, teoricamente comum a todos, de pugnar pela resolução dos grandes problemas nacionais e pela urgente reconversão da casa das leis como organismo de controlo e de acompanhamento das práticas do Executivo.

Jaka Jamba, além da experiência acumulada, além de um discurso que reflectia ponderação, solidez de pensamento e preocupação colectiva, é mais um dos poucos exemplos que é preciso lembrar sempre. Numa realidade onde "o triunfo dos porcos", do Quénia à República Democrática do Congo, dos Estados Unidos à Inglaterra, da França à Espanha, das Filipinas a Marrocos começa a ser uma realidade perigosamente palpável, é mister recordar que há sempre o caminho que, alastrando-se a mais pessoas (independentemente das suas ideologias) pode ajudar o nosso Mundo a sair das mãos dos simples servos do capital financeiro, que já não têm pátria nem autoridade moral.

Fique, para memória futura, que nem todos os políticos são demagogos, perversos, falsos, histriónicos ou representam interesses que não sejam os que juraram defender. Entre uma dezena de políticos sérios, patriotas mas ao mesmo tempo modestos, simples e que não deixaram perder a condição de servidores públicos Jaka Jamba tem o seu lugar marcado. Deve ser motivo de tristeza colectiva, mas também de profunda reflexão para todos.