Num discurso marcado por um profundo desapontamento com o caminho que o País traçou, Samakuva distribuiu responsabilidades por todos quantos participaram "num contexto político "revolucionário" e excludente, onde a defesa dos objectivos, interesses e valores perseguidos pelos movimentos de libertação e seus patronos da guerra fria eclipsou a prossecução primordial do grande objectivo de construção da Nação, da identidade angolana e da unidade nacional".

"Falhámos, tanto em 1975, como em 1991 e em 2002, porque não fomos capazes de colocar a Pátria mãe acima dos grupos partidários", declarou o líder do 'Galo Negro'.

"A via dos acordos, desacordos, fraudes e corrupção, seguida nas décadas seguintes, apenas serviu os objectivos da preservação da hegemonia e da subversão da democracia. Não houve reconciliação efectiva, nem democratização do País. O projecto de construção da Nação continuou adiado", afirmou o presidente da UNITA, dizendo que "os problemas que o País enfrenta são de tal magnitude que não serão resolvidos por um homem, nem por um partido, nem tão pouco numa só legislatura".

"Sim, conseguimos manter intactas as fronteiras territoriais definidas pelos europeus no século XIX, mas não conseguimos manter intactas as fronteiras da coesão familiar nem definimos ainda as fronteiras da nossa identidade nacional e muito menos da unidade nacional. Conseguimos, ainda assim, proclamar um Estado constitucional, mas falhámos em demonstrar o nosso patriotismo. Vendemos o País e hipotecámos o futuro", afirmou.

"Em geral, do petróleo à Banca, os angolanos, enquanto colectividade política, não dominam as tecnologias de produção, as cadeias de distribuição, os sistemas de informação e gestão, nem a produção de estudos e relatórios que sustentam as decisões do Governo. Todos os principais sistemas da cadeia produtiva de bens e serviços, inclusive a manutenção das redes de água e de energia das centralidades, são geridos ou garantidos por estrangeiros", destacou o líder da UNITA, para sublinhar que "hoje, 46 anos depois de proclamada a independência, o povo, que detém a soberania, está prisioneiro da ignorância, da pobreza e das endemias evitáveis, os partidos que proclamaram a independência estão em crise, o Estado está capturado e a independência económica dos angolanos é uma utopia".

"Já fizemos várias transições políticas e económicas. Já emendámos várias Constituições e realizámos várias eleições. Já experimentámos vários programas de governação e de reformas. Mas ainda não fomos capazes de construir a unidade nacional", sublinhou.

Para Samakuva, a resolução desses problemas "exige uma ampla transformação da sociedade, na sua estrutura total, ao longo de várias décadas" e "requer um novo começo, assente em estratégias, inclusão e concertação entre as várias lideranças".

Requer ainda, defendeu Samakuva, "a concepção e implementação de uma agenda nacional para a construção da nação".

"O País precisa de novas ideias, novos ares, para construir um novo rumo. Precisamos de começar de novo. E aqui cada um de nós, pessoalmente e em grupo, tem de fazer a sua parte. A parte que me cabe é ajudar a construir primeiro a unidade no seio da UNITA" afirmou Samakuva, que foi peça fundamental para a construção da paz no País depois da morte de Jonas Savimbi, num discurso já mais virado para dentro, para os militantes do seu partido, a quem lembrou que "na UNITA não há savimbistas, nem samakuvistas, nem adalbertistas".

"Respeitamos os líderes, mas não seguimos pessoas, seguimos a causa. Seguimos objectivos, princípios e valores, consagrados", declarou, para apelar: "Não aceitem a divisão", num momento em que, segundo Samakuva, "é preciso muita inteligência, serenidade e unidade".

"Não podemos vencer este desafio com arruaças, insultos e ânimos exaltados. Muito menos com visão curta, com mensagens agressivas nas redes sociais, culpando-nos uns aos outros", declarou.

"Entrar na UNITA significa aderir aos seus princípios e valores, já estabelecidos. Ninguém deve pretender vir na UNITA para muda a UNITA ou estabelecer outros valores, outros princípios. Não é assim", sublinhou, para terminar com mais um apelo.

"A minha proposta neste 11 de Novembro é transformar a crise actual numa grande oportunidade para se repensar o País e promover finalmente o encontro de Angola consigo mesma"

"Através de um diálogo abrangente e suprapartidário entre os patriotas podem ser definidos objectivos, princípios e valores aos quais governantes e governados se deverão vincular num horizonte temporal suficiente para se construírem os fundamentos espirituais e materiais da Nação angolana", concluiu.