Os ministros das Relações Exteriores e dos Negócios Estrangeiros estiveram reunidos na quarta-feira para analisar um conjunto de questões que o grupo lusófono procura há anos dar solução, como, para além do problema incandescente de Cabo Delgado, a questão da mobilidade interna, para a qual os diversos Estados-membros têm exigências e entraves de bloco, como é o caso de Portugal na União Europeia e as limitações do acordo de Schengen, que têm impossibilitado um acordo satisfatório para o que se exige de uma comunidade de países com relações privilegiadas como é a CPLP.

Sobre a mais premente das questões, o terrorismo jihadista em Cabo Delgado, a ministra moçambicana, Verónica Macamo, citada pelas agências, foi clara ao classificar a situação naquela província do norte do país do Índico como um "desastre humanitário" com milhares de mortes e feridos e centenas de milhares de deslocados, mais de 600 mil, com severas dificuldades em aceder a alimentos, medicamentos e habitação.

Apesar de tudo indicar que uma eventual intervenção externa é um passo difícil de dar, o ministro cabo-verdiano dos Negócios Estrangeiros, Luís Tavares, que presidiu ao encontro enquanto representante do país que preside à organização desde 2018, sublinhou a solidariedade dos membros para com Maputo, que enfrenta uma situação "trágica" em Cabo Delgado.

Porém, a Comunidade, na primeira abordagem oficial a este problema, apesar de os países membros já o terem feito de forma unilateral, mostrou-se solidária com Moçambique e realçou apoio da CPLP à candidatura de Moçambique a membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), órgão onde este problema pode ter um forte impulso rumo à sua solução, como sucedeu, por exemplo, no Sahel (Mali) onde uma forma internacional alargada combate o mesmo tipo de terrorismo.

No que é conhecido oficialmente, os Estados-membros têm-se limitado a manifestações de solidariedade e, neste caso, Luís Filipe Tavares adiantou, em nome ada CPLP, um apelo à comunidade internacional para que aumente o volume do apoio e de socorro às populações atingidas.

Apesar de o terror jihadista ser uma realidade há vários anos, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde anunciou que a Comunidade está, agora, a procurar concertar posições para avançar com uma proposta de apoio concreto ao Governo de Maputo sublinhando que, no imediato, o mais importante é envolver a comunidade internacional no apoio sem reticências às populações fustigadas pelo terrorismo de grupos ligados ao "estado islâmico" em Cabo Delgado, que, recorde-se, cresceu em razão proporcional ao avanço dos projectos multinacionais de exploração de recursos naturais, desde logo o gás natural, naquela província.

No que diz respeito ao problema da mobilidade interna, a CPLP deslocou para a Cimeira de Chefes de Estado e de GOverno de Luanda, que deverá ter lugar em Julho do próximo ano, já com Angola a liderar a organização, a assinatura de um acordo.

Este acordo sobre a mobilidade interna, que foi apresentado pela presidência cabo-verdiana, e contou com o consenso de todos os membros, e está agora em fase de ultimação de pormenores com vista à sua redacção definitiva.

Embora ainda por conhecer oficialmente na sua versão final, este acordo de mobilidade vai, segundo Tavares, "facilitar muito a circulação de pessoas e de bens entre os Estados-membros" da CPLP; que são nove: Angola, Brasil, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guine Equatorial, Timor Leste, Guiné Bissau e Portugal.

O governante cabo-verdiano sublinhou, no entanto, que, sendo um bom acordo, este deverá no futuro evoluir para um patamar mais elevado de facilitação na mobilidade.

Sobre a pandemia da Covid-19, o outro tema que dominou os trabalhos desta reunião virtual, segundo ficou definido, é responsabilidade da organização garantir que serão feitos os esforços necessários para que todos os nove membros tenham acesso às vacinas, tendo mesmo sido definida uma estratégia comum com vista a garantir esse desígnio, especialmente no que respeita à sua distribuição, porque há países com mais capacidade tecnológica e de logística que outros.

Alias, a Covid-19 deu mesmo o mote para este encontro virtual: "Reafirmação da Cooperação na CPLP no contexto da pandemia Covid-19".

Agora, com Angla a assumir a liderança da organização, a CPLP, segundo o ministro das Relações Exteriores, Teté António, considerou que foram preparados documentos importantes para serem validados na Cimeira de Luanda, provavelmente a 17 de Julho de 2021, nomeadamente o acordo referente à mobilidade.