Locais como o Triângulo dos Congolenses, alguns pontos da Av. Deolinda Rodrigues, Largo 1º de Maio... são alguns dos locais da capital que as forças de segurança reforçaram ao longo das primeiras horas desta manhã de segunda-feira, sendo visível a chamada para o terreno das forças especiais da Polícia Nacional, como a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) e a Brigada de Patrulha, a unidade mais recente das forças de intervenção da PN..

Segundo fonte policial contactada pelo Novo Jornal, as forças de segurança têm planeado um reforço suplementar dos meios no terreno para o final da tarde, altura em que se espera, a acontecer, uma reacção popular de protesto.

Depois da ida às urnas a 24 de Agosto, várias movimentações de colunas de viaturas das forças especiais da PN foram vistas a circular nas vias da periferia de Luanda, especialmente naquelas que ligam os subúrbios da capital ao centro da cidade, especialmente em Viana e Cacuaco.

E o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, no Domingo deixou bem claro que a PN está em alerta máximo e vai actuar assim que for necessário, deixando um recado claro: "que não haja dúvidas!"

Esse protesto poderá resultar de um não reconhecimento por parte da UNITA dos resultados que vão ser anunciados pela CNE, até porque o seu porta-voz, Lucas Quilundo, aquando da divulgação dos resultados provisórios, na sexta-feira, 26, adiantou logo que estes não iriam sofrer alterações significativas.

O anúncio dos resultados finais, previsto para perto das 13:00, é possível porque a acta final foi definida esta madrugada, de Domingo para segunda-feira, pelo plenário da CNE, tendo sido igualmente resolvido o problema dos votos reclamados, cerca de 11 mil, que, segundo avançou o porta-voz da Comissão, Lucas Quilundo, ainda reforçou a votação no MPLA com 4360 votos enquanto a UNITA absorveu 2935, dos quase oito mil considerados válidos na reanálise feita.

Antes, na sexta-feira, como o Novo Jornal noticiou, davam, quando estavam contados os votos de 97,3 por cento das mesas de voto, uma vitória por maioria absoluta do MPLA, com 51,07 por cento, elegendo 124 deputados enquanto a UNITA ficava em segundo com 44,05 por cento e 90 deputados eleitos.

Mas foram de imediato refutados pelo presidente da UNITA e candidato à Presidência, Adalberto Costa Júnior, enquanto o MPLA, através do porta-voz do seu Bureau Político, Rui Falcão, se mostrou satisfeito pela maioria absoluta que vai permitir "governar com tranquilidade" por cinco anos.

Assim não achou o líder do partido do "Galo Negro", que disse logo após o anúncio provisório da CNE, na sexta-feira, que a UNITA tinha sido prejudicada no número de mandatos atribuídos pela CNE.

"O partido-Estado teima em não compreender que a soberania pertence ao povo; quem confere poderes para governar é o povo através do seu voto nas urnas", afirmou então o presidente da UNITA.

Com base nas actas-síntese em posse do partido do "Galo Negro", obtidas pelos delegados de lista, as "discrepâncias" dos mandatos atribuídos à UNITA pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) são "brutais", segundo afirmava na ocasião Adalberto Costa Júnior.

Como exemplo, deu o círculo eleitoral provincial de Luanda: "Das actas síntese na posse da UNITA, que correspondem a 99,9%, a UNITA obteve 1.417.447 votos, que correspondem a 70%", contra os 1.230.213, que correspondem a 62,59% dos votos que a CNE atribui à UNITA.

Constatava-se, segundo ACJ, uma diferença de 187.234 votos, a que corresponde um acréscimo de mandatos para a UNITA.

Já este Domingo, o presidente da UNITA, depois de ter sido recebido pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, veio reafirmar que não reconhece os resultados provisórios divulgados pela CNE na sexta-feira.

E reiterou a exigência para que seja feita uma comparação entre actas síntese, anunciando que esse procedimento deve ser supervisionado por uma entidade internacional não identificada ainda, sublinhando que os documentos na sua posse são os mesmos que estão a servir para a CNE proceder ao apuramento final dos resultados e que, por isso, é injustificável qualquer discrepância entre os números na posse da UNITA e os que vierem a ser anunciados pela Comissão.

No entanto, também já hoje, Domingo, Costa Júnior optou por uma ligeira inflexão no discurso, apontando como horizonte, num momento em que ainda não estava fechado o processo, uma alteração para cima nos mandatos obtidos pelo voto para o Parlamento e não propriamente a questão da aceitação dos resultados que vierem a ser anunciados pela CNE.

"Nós não estamos a dizer que não reconhecemos derrota, nós estamos a dizer que não reconhecemos os resultados provisórios que a CNE meteu cá fora. Nós temos provas, não temos interpretações, por actas assinadas que os resultados nos conferem mais mandatos", disse Adalberto questionado pela televisão portuguesa RTP.

Do lado do MPLA permanece em vigor as declarações iniciais do porta-voz do BP, Rui Falcão, que disse que a maioria absoluta com 51,07% anunciada na sexta-feira, 26, é um resultado que permite governar com tranquilidade nos próximos cinco anos, admitindo, todavia, que a perda da província de Luanda, a maior praça eleitoral do País, é um forte castigo para o qual o partido vai ter de olhar com atenção.

O partido que governa Angola desde 1975 também perdeu, segundo os mesmos resultados provisórios, as províncias de Cabinda e do Zaire.