Em comunicado divulgado no Domingo na página da Presidência angolana nas redes sociais, João Lourenço aproveita a mensagem enviada ao seu homólogo chinês, Xi Jinping, para garantir que é intenção de Angola "continuar a cultivar sólidas relações de amizade e de solidariedade" entre os dois países.
"Sirvo-me desta importante ocasião para reiterar o compromisso da República de Angola em continuar a cultivar sólidas relações de amizade e de solidariedade entre as nossas duas nações, em benefício da concretização dos anseios comuns das nossas populações pela paz, harmonia e o desenvolvimento compartilhado", diz o Chefe de Estado angolano ao Presidente chinês.
Ao mesmo tempo, João Lourenço elogia "a trajectória indubitavelmente exemplar da República Popular da China realizada nas últimas décadas" onde o gigante asiático "consolidou a posição (de) protagonista incontornável da comunidade internacional".
Mas o mais importante elogio que o Presidente angolano faz à China nesta nota é quando este escreve que a China é um país "empenhado na edificação de uma arquitectura de segurança mundial assente na promoção do progresso comum e do desenvolvimento económico a nível global".
E isso, porque "arquitectura de segurança", "promoção do progresso comum" e "desenvolvimento económico global" é quase tudo o que os Estados Unidos, na disputa global que com eles travam, acusam a China, especialmente, mas também a Rússia, de nada contribuírem para tal.
Alias, na sua recente visita a Angola, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, aproveitou mesmo para acusar, embora sem os nomear, mas com evidente intencionalidade de os destacar na retórica usada, de serem poderes autocráticos que desenvolvem estratégias de obtenção de influência e poder em África derrotando derrubando as democracias.
Numa intervenção proferida no Arquivo Histórico Nacional, o responsável pela Defesa norte-americana usou os recentes golpes de Estado militares na África Ocidental para alertar para o perigo que representam esses golpes, sublinhando mesmo a forma como "grupos de mercenários ao serviço de autocracias" como o russo Grupo Wagner, estão a contribuir para desestabilizar democracias em nome de governos que procuram ganhar influência "vendendo armas baratas" aos países africanos.
Avisou os generais que lideram golpes e ajudam à desestabilização dos países africanos que quando estes "se posicionam contra a vontade dos povos, sofre a segurança e morre a democracia", aproveitado para defender que o continente "não precisa de homens fortes, precisa de instituições sólidas", de lideres civis e não de lideres militares.
Estas alusões ao poderes autocráticos pelos países ocidentais, que têm sempre como imagem saliente China e Rússia, não são destacáveis do actual contexto em que o denominado "Ocidente alargado" está a disputar palmo a palmo com a Rússia e a China, claramente apostados em criar uma nova ordem mundial que retire a hegemonia aos EUA, o continente africano para os respectivos lados da "barricada". (ver links em baixo nesta página)
E Angola é claramente uma aposta forte de Washington neste "combate", que, nos últimos dois anos, levou o Presidente a tornar público o deslocamento "tectónico" da sua diplomacia para ocidente, onde os EUA surgem em claro destaque, (ver links em baixo nesta página), depois de décadas em que foi Pequim onde Luanda alicerçou as suas gigantescas necessidades de financiamento para a reconstrução do pós-guerra.
Necessidade essas que, dias antes da visita de Lloyd Austin a Luanda, integrado num périplo africano, o jornal chinês South China Morning Post publicou um extenso trabalho onde revisita a importância de Pequim nessa reconstrução, lembrando os 42 mil milhões USD em empréstimos nas duas décadas e os mais de 20 mil milhões que Angola ainda deve à China.