Mas esta empreitada pode não ficar exactamente por este valor, tomando como exemplo o ano passado, em que o Presidente da República autorizou a abertura de um crédito adicional no OGE, no valor de 28,8 mil milhões de kwanzas, "para fazer face às despesas de apoio ao desenvolvimento e investimento" do gabinete de obras especiais.

Esta é uma obra aguardada e faz parte dos planos do Governo desde 2019, que previa poder inaugurar o monumento em 2021.

O memoriual vai ser erguido na zona infra-estruturada da encosta da Boavista, em Luanda, e poderá ocupar dois lotes de terra com cerca de 7.500 metros quadrados, segundo afirmou ao Jornal de Angola, a 11 de Março de 2020, Cornélio Caley, coordenador do Grupo Técnico Científico (GTC) da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das vítimas.

Mas é importate recuar a Abril de 2019, quando o Chefe de Estado ordenou a criação de uma comissão (a CIVICOP) para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em entre 11 de Novembro de 1975 (dia da independência) e 04 de Abril de 2002 (fim da guerra civil).

Por decreto presidencial foi criado o plano de reconciliação em memória das vítimas de conflitos políticos e em que João Lourenço inclui a "intentona golpista do `27 de Maio` ou eventuais crimes cometidos por movimentos ou partidos políticos no quadro do conflito armado", uma decisão que surgiu depois de, em Novembro de 2018, o ministro da Justiça, Francisco Queiroz, ter anunciado a "Estratégia do Executivo de médio prazo para os direitos humanos 2018/2022", em que o Governo reconheceu, pela primeira vez, que, após o 27 de Maio, se registou no País um "cortejo de atentados aos direitos humanos".

Já em 2021, a 25 de Maio, o Presidente da República endereçou um pedido de desculpas e de perdão às vítimas dos conflitos internos que surgiram após a independência, em 1975, incluindo as do 27 de Maio de 1977, anunciando que os restos mortais daqueles que perderam a vida nestes acontecimentos iriam começar a ser localizados para serem entregues às famílias.

Numa declaração à Nação através a partir do Palácio da Cidade Alta, o Chefe de Estado afirmou que já não é hora de "apontar o dedo uns aos outros procurando culpados" porque agora "importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe".

João Lourenço lembrou o processo que teve início em 2019, com a criação, por despacho Presidencial, da Comissão para a Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos de 1975 a 2002 e que resultou na criação de condições para este "passo importante" que hoje teve lugar e que passou pelo pedido de perdão às vítimas, que era uma das principais reivindicações dos descendentes das vítimas do 27 de Maio de 1977.

"É assim que imbuídos deste espírito, vimos, perante as vítimas destes conflitos e dos angolanos em geral, pedir humildemente em nome do Estado angolano as nossas desculpas publicas e o perdão pelo grande mal que foram as execuções naquela altura e naquelas circunstâncias", disse João Lourenço.

"Este pedido publico de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras, ele reflecte o nosso sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angústia que ao longo destes anos as famílias carregam consigo por falta de informação sobre o destino dado aos seus entes queridos", adiantou.

A 27 de Maio do ano passado, quando se assinalaram 44 anos dos trágicos acontecimentos, começou simbolicamente a entrega das primeiras certidões de óbito às famílias das vítimas.

Entretanto, teve também início a busca pela localização e entrega às famílias dos restos mortais de algumas das figuras históricas que pereceram nos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, incluindo, entre outros, os restos mortais de Nito Alves, que liderou a intentona frustrada, Monstro Imortal, Sita Valles ou Zé Van Dúnen, bem como os militares da 9ª Brigada, do Destacamento Feminino ou ainda da DISA.

Em Junho do mesmo ano, o Governo entregou as certidões de óbito dos dirigentes do MPLA Nito Alves e Saidy Mingas, mas a CIVICOP registou mais de 2.000 pedidos.

A 11 de Novembro, o ministro Francisco Queiroz asseverou já terem sido identificados nove locais onde podem estar enterrados corpos de vítimas dos conflitos políticos, incluindo duas possíveis valas comuns.