A 16.ª Cimeira dos BRICS, que uniu o sul global, foi vista como uma seta letal para a influência do Ocidente alargado. Kazan, cidade russa, acolheu aquela que é, até agora, a cimeira mais importante, considerada pela organização, com a presença massiva de Chefes de Estado e de Governo de quase 40 países presentes. Será um sinal de que os BRICS já ameaçam a hegemonia global?

Sempre este problema? Nós não ameaçamos ninguém, mas o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, respondeu a esse assunto de uma forma muito interessante. Ele disse que "os BRICS não são uma organização contra alguém, não é do Ocidente e não é contra o Ocidente". Isso é o mais importante. Portanto, o que isso significa? Criou-se uma estrutura mais independente no mundo, porque, antigamente, era um pólo que dirigia toda a economia, toda a política, e eles mesmo pressionavam os seus parceiros e demonstraram que, se alguns destes parceiros não obedeciam, eles mostravam como exemplo para os outros, que eles podem ser castigados com sanções e outros mecanismos que existem no mundo. E agora, criou-se uma estrutura que reúne grande potencial, e esse potencial é dedicado não somente para contrapor-se a alguém, mas, para se criar uma atmosfera, para se criar uma base para uma cooperação vantajosa, para uma cooperação mútua e igual, para que não haja pressões e são livres da adopção de decisões.

Não se opõem à hegemonia, por exemplo, do G7? Da mesma forma que o Ocidente tem a legitimidade de criar o G7 é a mesma que vocês têm a de criar os BRICS?

Cada organização do Ocidente tem um pólo que manda. Por exemplo, a União Europeia tem mecanismos próprios que obrigam os seus membros a obedecer decisões deste pólo, enquanto nos BRICS não há esse mecanismo. Os nossos mecanismos são na base da igualdade e, digo, eles adoptam o que é mais importante. Eles adoptam decisões diferentes, isso na esfera económica, política e humanitária, que é a mais importante e também na esfera financeira. Eu gostaria de frisar que foi criado um novo banco de desenvolvimento no seio dessa organização, para assegurar o investimento dos projectos que a organização está a elaborar, mas isso é só uma visão. Outra visão desta organização que também demonstra que o mundo percebeu que nós não podemos agora viver na atmosfera quando existe um pólo que dita tudo. É por isso que já começou a modelar-se um sistema unipolar para um sistema multipolar. A Rússia manifestou-se a favor disso há já muito tempo, mas somente agora os países em vias de desenvolvimento começam a perceber as vantagens do sistema multipolar que não há nenhuma pressão, que não há mesmo a exploração dos mais fortes perante os mais fracos.

A ideia que tem é de que é necessário que existam outras formas, parcerias para não ficarmos num único sistema, o chamado sistema unipolar, mas multipolar, que os países tenham a possibilidade de fazer as suas escolhas.

Mas consiste também noutra coisa, por exemplo, quando esse sistema unipolar está sempre a elaborar as suas próprias regras e, se não se obedecer a essa regra, tem de ser expulso desse sistema. Este é um exemplo. Em países mais ricos, o que eles fazem? Eles agrupam-se antes de tudo e depois elaboram as suas regras na base das organizações internacionais, internacionais pró-ocidentais, vamos dizer assim. Nós podemos tomar qualquer que seja a organização. E o que acontece lá dentro? Os países mais fortes reúnem-se e depois impõem as regras de cooperação e são normalmente regras atraentes. Porquê? Porque esses países também querem isenções de taxas, isenções de impostos e outras coisas, as possibilidades iguais para fazer o comércio, etc... Mas o que fazem esses organismos? Eles inicialmente criam essas condições de igualdade, mas depois impõem o outro mundo. Se quiser entrar para essa organização, tem de cumprir uma série de regras e depois então é quando entram outros países, muitos países que já começam a questionar o seu lugar nesse organismo. Esse organismo morre. Isso quer dizer que o sistema elaborado pelo Ocidente para atrair os países, eu dizia, é um dos métodos de neocolonialismo.

Isso é também um eixo que preocupa muito o Ocidente alargado, é o eixo Moscovo-Pequim-Nova Deli, a ligação Rússia à China e à Índia, três países muito fortes nos BRICS.

Esqueceu-se do Brasil.

Falaremos do Brasil mais lá para frente. Também falaremos da África do Sul, Egipto e Etiópia. Mas agora é o eixo Moscovo-Pequim e Nova Deli.

Foi criado inicialmente e depois sentimos o problema de recursos financeiros e, para nos libertar daquela pressão financeira, também gostaríamos de estabelecer um sistema de interligação na base das moedas nacionais e talvez seja uma moeda, não sei, talvez uma moeda cifrada.

Já se fala do novo sistema de pagamento, um sistema que vai facilitar as transferências em dinheiro, pagamento de importações e exportações, dentro dos BRICS, e como isso vai funcionar. Foi uma das novidades apresentadas na Cimeira de Kazan

Esta visão deve ser dada por especialistas. Como pode imaginar, os BRICS ocupam agora 26% do território do mundo e têm 42% da população mundial, é uma organização que não está focada só no comércio, não só na interligação no domínio tecnológico, científico, mas também temos de organizar as transacções, mas agora as transacções fazem-se através do Dólar ou através do Euro, e isso também prejudica muito a economia, porque o Ocidente tem uma alavanca nas suas mãos para pressionar os outros países, para destruir a economia dos que não obedecem às regras que eles inventam durante o jogo, vamos assim dizer, e isso também prejudica muito. Mas esse sistema vai trabalhando. Os especialistas estão a pensar, por isso foi criado um novo banco de desenvolvimento dos BRICS.

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