A instabilidade e a violência étnica têm feito das províncias da República Democrática do Congo (RDC) que fazem fronteira com a província angolana da Lunda Norte, com destaque para o Kasai e o Kasai central, origem de milhares de refugiados internos e externos.
Há pelo menos um ano e meio que as milícias de um antigo chefe tradicional, denominado localmente Kamwina Nsapu, do Kasai-Central, têm levado o caos e a destruição, com pelo menos 600 a 3 000 mortos, dependendo das fontes, e mais de um milhão de deslocados, à região sudoeste da RDC, levando a que mais de 30 mil pessoas, na sua maioria mulheres, crianças e idosos, tenham procurado refúgio na Lunda Norte, onde estão actualmente instalados em dois campos com o apoio das autoridades angolanas e de organizações não-governamentais internacionais, bem como agências da ONU.
O regresso destas pessoas tem sido uma prioridade manifestada de um e do outro lado da fronteira, com grupos de trabalho mistos criados para definir uma estratégia que permita o regresso destas pessoas a casa, bem como definir os requisitos para permitir afiançar que a segurança das pessoas está garantida.
Há pelo menos quatro meses que estes trabalhos decorrem e, agora, no passado Sábado, com a presença dos governadores da quatro províncias, incluindo as mais afectadas, Kasai e Kasai-Central, o Governador da Lunda Norte deslocou-se a Kananga (Kasai-Central) para assinar com os seus homólogos um memorando de entendimento para criar as condições que permitam o regresso dos refugiados que estão na Lunda Norte às suas casas.
Só que, menos de 24 horas depois da assinatura do documento, que prevê ainda outras áreas de entendimento, como, por exemplo, a questão do controlo migratório para as zonas de garimpo de diamantes na Lunda Norte ou a abertura sem restrições das fronteiras e dos mercados fronteiriços, um ataque atribuído às milícias Kamwina Nsapu fez quatro mortos entre elementos das forças de segurança congolesas em Kananga, no Kasai-central, cidade onde o acordo tinha sido assinado no dia anterior.
O ataque foi contra um posto militar próximo do aeroporto de Kananga e os seus autores desapareceram na floresta próxima, deixando para trás um rasto de pânico e, segundo a imprensa local, de medo de que isto possa querer dizer que a instabilidade vai regressar.
As autoridades congolesas, tanto na província como na capital, Kinshasa, recusaram, até agora, fazer qualquer comentário a esta situação.
Crise eleitoral
A RDC vive há pelo menos dois anos uma intensa crise eleitoral devido aos sucessivos adiamentos das eleições presidenciais que já deviam ter ocorrido em Dezembro de 2016, coincidindo com o abandono do poder do Presidente Joseph Kabila.
Este manteve-se no poder através de um acordo com a oposição que previa a realização de eleições até Dezembro de 2017.
Esse acordo não foi cumprido e agora a nova data para serem realizadas eleições é 23 de Dezembro deste ano.
Entretanto, várias manifestações organizadas pela oposição para exigir eleições culminaram em verdadeiros massacres, pelo menos três vezes durante o ano de 2016, e novamente em finais de 2017.
Hoje, por exemplo, a RDC, especialmente na capital do país, Kinshasa, viveu um dia de greve geral, mais um organizado pelas forças da oposição e sindicatos, para exigir mudanças democráticas no país.
As sublevações das milícias no Kasai foram apontadas como sendo parte da estratégia de Kabila para melhor puder manusear o calendário eleitoral, alegando que a violência não permitia a ida às urnas com um mínimo de segurança.