A terceira rua dos seis e arredores dos Mulenvos de Cima está "completamente" inundada. Os moradores estão "enfurecidos com a quantidade de águas paradas que circundam as suas residências".

Os munícipes revelam que diante da situação, alguns vêem-se mesmo obrigados a "andar de cuecas" na rua, durante a madrugada, para vestir-se num ponto seco da zona e chegar ao trabalho. Contam que o dilema piorou com as últimas chuvas que se abateram sobre a capital deixando quintais inundados, ruas intransitáveis e estradas esburacadas como o principal cenário daquelas paragens.

A zona, segundo os munícipes, beneficiou recentemente da construção de uma estrada, mas cuja obra ficou a meio da rua, facto que na visão dos residentes tem contribuído para as inundações das residências que ficam num dos pontos mais baixo da travessa.

"Eles não concluíram o trabalho. A estrada nova que sai do Millennium deveria ligar com a estrada da Recolixo, mas chegou apenas até à rua que dá acesso ao hospital dos Mulenvos. E agora quando chove, toda a água que sai daquela estrada, desemboca aqui nas nossas casas", explicou D. Ângela, residente há mais de quatro anos na zona. Sempre que chove, as residências ficam completamente inundadas, o que leva muitas vezes os moradores a socorrerem-se de electro bombas, baldes ou bacias para o escoamento das águas que invadem as moradias.

"Mas já não temos força para tirar a água que fica na rua. Uns até hoje, continuam com os quintais inundados, somos que nem presos", lamentou-se D. Gina, que apela à intervenção do governo provincial de Luanda.

A força da correnteza das águas obrigou alguns moradores a barrar as portas das residências com muros, para que a mesma não penetre para dentro, "mas ainda assim, não resolve o problema", disseram. "Aqui estamos mal. Os carros já não entram. Temos que deixá-los na estrada. Só ficamos bem quando não há chuva. Temos que meter muros nas portas para que a água não entre para dentro de casa, mesmo assim, não conseguimos. A água vem com muita pressão e somos sempre invadidos pela correnteza", explicou a interlocutora.

Abandono de moradias

A invasão das águas está obrigar alguns moradores a abandonar os seus domicílios para outras zonas de Luanda, segundo revelou o mais velho João, outra vítima das enxurradas. "A nossa maior preocupação é a inundação. A minha casa há dias ficou toda inundada. A água foi até ao quarto e tivemos de evacuar as crianças para a casa de um familiar. Alguns vizinhos começaram já abandonar as suas habitações. A situação está mal", disse o interlocutor que reclama a presença da administração local.

"Temos levado as nossas preocupações à administração municipal e à comissão de moradores, mas nada é feito até agora. Nunca tivemos a intervenção de uma viatura da administração para desinfectar ou tirar as águas paradas", reclamou. "Estou aqui há quatro anos e a situação não era assim. As obras da estrada pioraram a nossa condição". Com tristeza, diz que "temos falta de falta de uma canoa o que seria melhor para nos locomover de um lado para o outro. Uns se não saem de boxers ou de calcinhas até à rua, não chegam ao trabalho", desabafou o cidadão, visivelmente aborrecido.

Doenças e criminalidade

Uma outra situação que preocupa os moradores é o aumento de doenças diarreicas, acompanhadas de vómitos, devido às agua paradas que se estendem pelo bairro, segundo revelaram os entrevistados ao Novo Jornal.

"Estamos a pedir a intervenção de quem de direito para que nos ajudem. Os mosquitos aqui já não se falam. As pessoas estão a doecer de diarreia, vómitos, paludismos e outras enfermidades. Todos os dias somos obrigados a levar os filhos pequenos às costas para atravessar a água e chegar até à escola. Os nossos maridos saem de cuecas ou calções curtos para se vestir na rua e ir trabalhar. Desde Novembro que vivemos esta situação. Sempre que chove, a história é a mesma e nenhum governante faz qualquer coisa", resmungou D. Francisca, residente na zona há 15 anos.

Já o cidadão Girão, que lá mora há sete anos, mostra-se também preocupado com o índice de criminalidade que vai crescendo na localidade, uma situação decorrente da constante falha de luz eléctrica e das inundações que a zona enfrenta.

"O índice de criminalidade aqui é muito alto. Os bandidos fazem assaltos à mão armada, às casas e às cantinas e até matam pessoas. Aqui há um grupo chamado Bela que não pára. Ainda antes de ontem mesmo, por volta das 17 horas, assaltaram um jovem que foi espancado e tiraram-lhe 30 mil kwanzas mais o telefone. Tem havido pouco patrulhamento policial", reclamou o interlocutor.