Donald Trump, que, embora tenha mantido uma conversa amena com Friedrich Merz, aproveitou o momento para enviar recados a Kiev e Moscovo, dizendo, no que é uma viragem relevante na sua postura face ao conflito no leste europeu, que ucranianos e russos "parecem crianças pequenas a lutar como loucos no parque".
Ao dizer que por vezes é melhor deixar "as crianças" lutar por algum tempo antes de os separar, uma das leituras possíveis é que os EUA estejam a afastar-se deste terreno agreste, abrindo a porta para que Washington deixe, de facto, de enviar armas e dinheiro para Kiev e se retire da condição de mediador.
Este ponto não ficou claro, mas Trump insistiu de novo na ideia da urgência de parar o conflito que está a "matar milhões de pessoas", mesmo "muito mais do que é dito nos media", e que este nunca teria acontecido se ele fosse o Presidente dos EUA.
Nesta conversa com Merz, e depois de alguns media alemães terem falado sobre se o chanceler seria tratado como Trump tratou, a 28 de Fevereiro, o Presidente Volodymyr Zelensky, ou já mais recentemente, a 22 de Maio, o sul-africano Cyril Ramaphosa, aparentemente não houve "armadilha", mas há um episódio que ainda pode dar polémica.
E isso aconteceu quando Merz estava a dizer a Trump que neste dia, 06 de Junho, há 81 anos, os aliados invadiram França para libertar a Europa na II Guerra Mundial, numa analogia com o que Berlim espera dos EUA no que diz respeito à Ucrânia.
Foi nesse momento que o norte-americano disse que "esse dia não foi muito agradável" para Friedrich Merz, numa alusão, que ainda está por perceber se propositada ou apenas uma distração, a que o chanceler terá simpatias nazis.
Entretanto, e quando o mundo espera por ver qual a resposta prometida pelo Presidente russo, Vladimir Putin, numa conversa telefónica com Donald Trump, à Ucrânia, após a sucessão de ataques (ver links em baixo) às pontes ferroviárias, às bases aéreas e à Ponte de Kerch (Crimeia), de Moscovo chegam sinais de que tal resposta será muito mais moderada.
Na quinta-feira, 05, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Ryabkov, mesmo face à multiplicação de vídeos dispersos pelas redes sociais mostrando o contrário, com bombardeiros estratégicos TU-95 e Tu-22 (nucleares) a arder, após ataques com drones ucranianos, veio dizer que Kiev falhou na sua intenção de destruir os aviões russos.
O diplomata e governante russo, citado pela RT, explicou que nenhum dos aparelhos atingidos foi destruído totalmente, acrescentando à agência TASS que "todos serão reparados".
Isto, horas antes de Kiev, já esta madrugada de sexta-feira, 06, ter sido atingida, além de outras cidades, por uma nova vaga de misseis e drones russos, que provocaram violentas e repetidas explosões em diversos pontos do país, incluindo da capital ucraniana.
Alguns analistas notam que as declarações de Sergey Ryabkov são um claro baixar da fasquia para a expectativa gerada em todo o mundo para o que seria a resposta russa e que dimensão teria, tendo mesmo alguns analistas menos comedidos falado em possíveis ataque a países ocidentais que forneceram apoio logístico e informações para a realização dos ousados ataques de Kiev em solo da Federação Russa.
Com este esfriar da expectativa para a densidade da resposta russa, passa para primeiro plano a ideia de que o Kremlin tem o foco no terreno, onde as suas forças avançam a um ritmo dos mais acelerados desde os primeiros meses de 2022, e no terreno da diplomacia, como, de resto, Putin confessou ao Papa Leão XIV que preferia, também numa conversa telefónica logo após ter falado com Trump.
Como notícia o britânico The Guardian esta sexta-feira, 06, a Rússia fez cair uma chuva de misseis e drones sobre a Ucrânia, provavelmente para aplacar a exigência de vingança dos seus "falcões" de guerra que o Kremlin também tem a voar sobre as suas cúpulas coloridas.
Porque, de forma mais fria, como entretanto noticiaram os media russos já esta manhã, no Kremlin se terá percebido uma nova disponibilidade para negociar em Kiev, mesmo que contrariando a fúria mostrada diariamente por Zelensky exigindo aos aliados novas e mais duras sanções a Moscovo, bem como mais armas para combater os "invasores".
É que, segundo a RT, o memorando contendo os passos e as condições iniciais de negociações entre Kiev e Moscovo, que a delegação que esteve em Istambul, Turquia, a 02 de Junho, enviou aos media "não é o mesmo que foi entregue à delegação russa".
E uma das diferenças entre o documento enviado aos media ocidentais e o oficial entregue aos russos está numa das questões prioritárias para o Kremlin nas suas exigências, embora não seja a mais relevante, e diz respeito aos limites para as forças militares ucranianas no pós-conflito.
O principal para Moscovo é a não adesão de Kiev à NATO, a presença de forças ocidentais no país, e o reconhecimento internacional de que as cinco regiões anexadas pela Federação em 2014 (Crimeia) e em 2022 (Kherson, Zaporizhia, Lugansk e Donetsk) são parte inteira da Rússia, bem como a saída das tropas ucranianas das áreas nestas regiões ainda sob controlo de Kiev.
Ora, este ponto pode ser relevante neste âmbito, visto que uma redução do número de efectivos no Exército ucraniano poderia levar a uma saída de várias regiões do país, embora Zelensky tenha dito, após a segunda ronda negocial de Istambul, que "o documento russo seria ignorado pela Ucrânia" por ser "um ultimato e não uma proposta negocial".