De que forma os russos vão ripostar ao ataque de maior significado simbólico no seu solo desde a II Guerra Mundial, não se sabe, mas, depois de Vladimir Putin ter ligado ao homólogo norte-americano para evitar surpresas e mal-entendidos perigosos entre as duas superpotências militares, o mais certo é estar para breve e pode muito bem constituir uma escalada nos recursos militares usados neste conflito.

Tanto assim é que, conta The Guardian, Donald Trump veio publicamente admitir que, após quase uma hora e meia a falar, esta quarta-feira,04, com Vladimir Putin, ficou convencido que "o conflito não está para terminar em breve", acrescentando o jornal britânico que, apesar de se esforçar nesse sentido, o norte-americano não conseguiu convencer o russo a procurar outra via que não a resposta militar para vingar a sucessão de ataques de grande impacto mediático ucranianos (ver links em baixo).

Na mesma altura, o chefe do Kremlin também ligou ao Papa Leão XIV para lhe garantir que a guerra não é a sua primeira opção para atingir os seus objectivos, que prefere a via da diplomacia, e que está disponível para negociar mas que a aposta no "terrorismo" de Zelensky não pode ficar sem consequências, reforçando junto do líder da igreja católica que Kiev tem de aceitar abordar as causas profundas do conflito para encontrar o caminho da paz.

O que fica claro nesta conversa de Putin com o Papa, que a russa RT sublinha ter sido aproveitada para o Presidente russo dizer a Leão XIV que não pode aceitar conversar com alguém que usa o terrorismo como arma e depois pede uma cimeira bilateral para falar de paz, é que a Federação Russa não vai dar a outra face a Volodymyr Zelensky.

Mas Putin agradeceu-lhe os esforços para encontrar a paz na via diplomática, garantiu ao Papa que também ele quer essa via, lamentou que não parece que em Kiev assim se pense também, apontou como exemplo a perseguição à igreja ortodoxa ucraniana com laços históricos com Moscovo e disse ao líder religioso dos católicos que a troca de prisioneiros, o regresso de crianças levadas das zonas de guerra às suas famílias na Ucrânia são sinais de que é o sucesso das conversações directas em Istambul, na Turquia, é possível.

No que toca à conversa com Donald Trump, o que se sabe foi tornado público pelo norte-americano na sua rede social Truth Social, que considera ter sido "uma boa conversa", onde foi abordado um conjunto de temas, incluindo o ataque às bases aéreas russas, mas também a destruição de ponte sobre e sob vias férreas, o novo ataque à Ponte das Crimeia, ou ainda as vagas de misseis e drones de um para o outro país.

E fez questão de advertir que, mesmo tendo sido uma boa conversa, "não foi com esta conversa que se chegou à paz imediata", até porque, avançou, Putin "disse claramente, e com termos fortes, que vai ter de responder a essas acções ucranianas".

Já depois, em Moscovo, o assessor para assuntos internacionais de Vladimir Putin, Yury Ushakov, disse que ambos concordaram nessa conversa em "manter as linhas de contacto abertas, tanto directamente entre os dois Presidentes como através de outros canais, fazendo questão ainda de dizer, o que Trump não disse, que Putin defendeu na conversa com o norte-americano que Zelensky está a procurar dinamitar as negociações directas entre os dois países com "ataques claramente terroristas contra civis".

Porém, em Kiev, não é assim que esses ataques são encarados, defendendo o Presidente Volodymyr Zelensky que esta é a melhor altura para que Moscovo aceite um cessar-fogo incondicional e que esse período de tréguas seja aproveitado para organizar um encontro entre ele e Putin.

Ao mesmo tempo, o ucraniano, numa conferência de imprensa em Kiev e num vídeo divulgado entretanto, defendeu que os ataques em questão, tanto às bases aéreas como às linhas de caminho-de-ferro, foram legítimos porque os bombardeiros, TU-95 e TU-22, destruídos, mais de 40, na versão ucraniana, entre seis a 13, segundo fontes russas, estavam a ser usados para lançar ataques sobre a Ucrânia e as vias férreas são relevantes na logística de guerra russa na frente norte.

Para os próximos dias o foco dos media internacionais vai estar no que vai ser a resposta russa aos ataques ucranianos, se a nova ronda negocial entre os dois países em Istambul será efectivamente agendada e se, embora Putin tenha mostrado dúvidas sobre se tal se justificará, haverá desenvolvimentos no tête-à-tête pedido por Zelensky e se Trump estaria nesse encontro, como afirmou querer participar.