"Os 404 anos representam um percurso longo e de muitos desafios. Por isso, ao festejarmos esta data, queremos ver a cidade de Benguela melhorada", disse Luís Nunes durante o acto comemorativo do aniversário da cidade de Benguela.
Luís Nunes instou os cidadãos a preservar e conservar o património histórico e cultural da cidade. "Benguela é a mãe das cidades. Temos que envidar esforços no sentido de preservar o património desta cidade".
O governador chamou a atenção para o facto destas comemorações coincidirem com a pandemia da Covid-19 e quando esta continua a propagar-se.
Segundo constatou o Novo Jornal, o município de Benguela ainda enfrenta inúmeros desafios, como a melhoria do saneamento básico.
Para enfrentar estes obstáculos, Luís Nunes pediu que os munícipes sejam eles os principais fiscalizadores das acções governativas em curso neste município.
"Há melhorias no fornecimento de energia no centro da cidade mas nos bairros não chega energia", queixa-se a munícipe Joana Paulo, que espera que as autoridades competentes resolvam este problema.
Apesar de insatisfação por falta de energia em alguns bairros periféricos, neste dia em que a cidade completa 404 anos, os munícipes mostram-se satisfeitos com as obras em curso na Praia Morena, onde está a ser colocado um novo tapete asfáltico, recuperação de passeios e a melhoria do saneamento básico.
"A reabilitação deste local turístico vai dar uma nova imagem à nossa cidade que hoje completa 404 anos", disse Maria Neto, proprietária de uma barraca que confecciona comida na feira de Benguela.
Mas a crise que o País atravessa é também aqui evidente e com sinais visíveis em toda a urbe, onde mais velhos e crianças disputam restos de comida nos contentores do lixo.
O mercado informal é muito intenso nesta urbe, um sintoma evidente do galopante desemprego.
A História da cidade
Reza a história que a cidade de Benguela foi fundada a 17 de Maio, há 404 anos, em 1617, pelo português Manuel Cerveira Pereira.
A partir de 1578, deu-se a fixação portuguesa em Benguela-a-velha, perto da actual cidade de Porto Amboim (província do Kwanza Sul). A fixação portuguesa marcou o início da exploração da região sul de Angola.
Manuel Cerveira Pereira, que foi governador de Angola de 1615 a 1617 por ordem do rei Filipe II, no âmbito da União Ibérica, fundeou na Baía de Santo António, no dia 17 de Maio de 1617, sendo esta data considerada como a da fundação da cidade de São Filipe de Benguela, nome em homenagem ao rei, e tornou-se então a sede do Reino de Benguela.
Benguela é a segunda cidade mais antiga de Angola, sendo a primeira Luanda.
Cerveira Pereira partiu de Luanda a 11 de Abril de 1617, à frente de uma força de 130 homens e rumou para sul, ao longo da costa, até à Baía das Vacas, que alcançou em 17 de Maio. Aí fundou o Forte de São Filipe de Benguela, núcleo da povoação do mesmo nome que havia de ser a capital do novo domínio português ao sul de Angola, a Capitania de Benguela, administrada autonomamente entre 1617 e 1869.
Em 1641, a cidade foi tomada pelos holandeses e a população teve de se refugiar no interior, a cerca de 200 km do litoral. Sete anos depois, em 1648, Benguela foi libertada. Desde então passou a ser porta de passagem para o interior e a região desenvolveu-se muito.
Em 1705 uma esquadra francesa destruiu a cidade quase completamente, mas entre 1710 e 1755 os benguelenses reconstruíram-na. As construções eram rudimentares, sendo a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, a primeira construção de pedra e cal.
A construção do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), levada a cabo pelos ingleses, no início do séc. XX, transformou a cidade de Benguela no motor do desenvolvimento da região centro-sul do país: a sua linha, iniciando-se no porto do Lobito, atravessa Angola, quase na horizontal, até à fronteira com o então Congo Belga, hoje República Democrática do Congo.
Em consequência, surgem cidades no interior do centro de Angola: Ganda, Cubal, Cuma, Longonjo, Lépi, Caala, Bela Vista, hoje Katchiungo, Chinguar, Silva Porto, hoje Kuito, entre outras... e, sem demérito para as restantes, Nova Lisboa, hoje Huambo, que em tempos sonhou ser a capital do país e que, durante a guerra que assolou Angola durante três décadas, foi uma das suas grandes mártires. Benguela passa, assim, a ser chamada de Cidade Mãe de Cidades.