Um estudo publicado hoje pela ONG britânica Fundo Ar Limpo - Clean Air Fund, uma iniciativa filantrópica queprocura obter dados junto dos Governos sobre a poluição atmosférica de forma a melhor combater os seus efeitos, coloca em evidência as consequências malignas da má atmosfera que envolve a generalidade das urbes africanas.
Os seus responsáveis sublinham mesmo que a poluição atmosférica é um "assassino silencioso" fortemente negligenciado e claramente desconhecido nos seus efeitos catastróficos de uma grande maioria das populações afectadas.
Para chegar a estas conclusões, os autores do estudo avaliaram a qualidade do ar em quatro grandes centros urbamos africanos, Joanesburgo, na África do Sul, Accra, no Gana, Lagos, na Nigéria, e Cairo, no Egipto, a partir do qual concluíram ainda que são crescentes e cada vez mais impactantes os custos financeiros dos efeitos da poluição, embora estas contas também não sejam consideradas na maior parte dos países.
Numa altura em que a humanidade acelera no processo de transição energética de forma a evitar o aquecimento global para níveis que tornem a vida insustentável no Planeta Terra, reduzindo o consumo de combustíveis fósseis - petróleo, gás e carvão - responsáveis pela maior parte dos gases com efeito de estufa, substituindo-os por energias verdes - eólica, hídrica, solar, hidrogénio verde etc -, em África a poluição do ar nas grandes cidades está em forte aceleração mas não no sentido da redução do seu impacto negativo, pelo contrário, a perigosidade tem vindo a aumentar de forma desastrosa, adverte o estudo da Clean Air Fund.
E os responsáveis por esta análise advertem ainda para a ideia sólida de que os governos africanos, na sua esmagadora maioria, negligenciam totalmente este problema, nada fazendo para reduzir as emissões poluentes, como, por exemplo, manter refinarias ou unidades fabris de vários tipos que não cumprem minimamente as regras internacionais sobre fontes poluidoras nas cidades ou nas suas áreas limítrofes, com forte impacto na qualidade do ar respirado.
Nas zonas rurais de África este problema é geralmente irrelevante mas o problema advém do facto de o continente africano estar nas últimas décadas a assistir a um acelerado êxodo para as cidades, gerando problemas salientes de sobrepopulação dos centros urbanos onde não existem as condições mínimas de acolhimento no que toca a equipamentos sociais, de saúde ou de saneamento.
Existem dados que apontam para um crescente impacto na saúde pública das partículas emitidas pelas unidades fabris, mas também nas emissões de gases tóxicos pelos transportes privados e públicos, ou ainda devido ao crescente aumento do uso do carvão e da madeira/lenha para confeccionar alimentos.
Numa estimativa recente feita pela Lancet Planetary Health, a poluição foi responsável pela morte de mais de um milhão de pessoas só no ano de 2019 e todos os dados indicam que este problema está claramente a aumentar desde então, porque nem a fase de confinamentos da Covid-19 serviu para travar este fluxo no continente.
Em Luanda, de acordo com os dados fornecidos por alguns sites que medem a qualiadade do ar nas maiores cidades do mundo, como este ou ainda este, o ar que se respira é razoável para a comunidade em geral mas com probabilidades de afectar negativamente as pessoas com patologias mais sensíveis a este factor.
Como solução imediatas e ao alcance de todos os Governos africanos, são apontadas a melhoria da qualidade dos transportes, aumentando os serviços públicos e reduzindo a utilização de veículos privados, melhorar a qualidade dos fogões para confeccionar alimentos, substituindo o mais possível a lenha e o carvão por electricidade ou mesmo gás, repensar a localização das unidades industriais mais poluidoras...
Os autores do estudo garantem que este tipo de medidas salvariam milhares de vidas e garantiriam a poupança em muitas centenas de milhões de dólares com gastos na saúde, por exemplo.
E deixam um aviso: se nada for feito, este problema poderá atingir limites insustentáveis porque crê-se que até 2050, mais de 60% da população africana de mais de 2 mil milhões de pessoas estará concentrada em centros urbanos, com o continente a albergar cinco das 10 maiores megalópoles do mundo, o que só piora o cenário expectável quando se sabe que é em África que já hoje morre mais gente devido à poluição atmosférica em meio urbano.