Como o Novo Jornal noticiou na semana passada, as escolas namibianas reabriram no início de Junho e os alunos angolanos que vivem na zona de fronteira e que frequentam o sistema de ensino do país vizinho, confrontaram-se com o risco de se atrasarem em relação aos seus colegas namibianos e poderem perder o ano porque a fronteira permanece fechada como forma de conter a expansão da pandemia.

Isso, quando em Angola, com mais casos de infecção que na Namíbia, onde apenas estão registados 31 casos sem vítimas mortais - Angola tem 91 casos e 4 mortos - as escolas permanecem fechadas e as fronteiras todas encerradas.

Recorde-se que em algumas áreas fronteiriças entre Angola e a Namíbia, para os alunos que habitam do lado angolano é muito mais fácil ir para as escolas do outro lado da fronteira, atravessando-a diariamente, sendo mais de 2.000 nestas condições, muitos deles a frequentarem o último ano do ciclo de ensino na região de Omusati.

Para contornar estes problemas, segundo revela o The Namibian, citando fontes da direcção regional de Educação de Omusati - região que faz fronteira com a província angolana do Cunene -, muitos dos alunos angolanos estão a passar ilegalmente a fronteira para não perderem o ano escolar, o que está a gerar preocupações entre os responsáveis locais.

Segundo este jornal, uma das preocupações dos responsáveis namibianos é que os alunos e as suas famílias - a situação é igualmente corrente na região vizinha de Ohangwena - estão a correr sérios riscos, mesmo riscos de vida, para diariamente chegarem às suas escolas atravessando a fronteira em locais fora dos postos de controlo, seja por causa dos mecanismos de segurança, seja porque aumenta o risco de propagação da Covid-19 entre os dois países.

Citado pelo The Namibian, o director regional de Educação de Omusati, Laban Shapange, informou que a polícia conseguiu identificar, nos últimos dias, dezenas de alunos angolanos e que estes foram colocados em quarentena.

"Mas muitos deles não foram detectados e estão no país em casas de conhecidos ou familiares de forma a manterem a frequência das escolas sem que tenham sido testados para a Covid-19. Percebemos a sua vontade de frequentar a escola, mas temos de ter em conta os riscos e é preciso aguardar até que seja encontrada uma solução".

Os responsáveis locais emitiram mesmo alertas para que as comunidades informem a polícia sobre a entrada ilegal de alunos angolanos na Namíbia.

Mas, ao mesmo tempo, Shapange deixou claro que "os alunos angolanos não estão nem vão ser abandonados", porque estão a ser pensadas soluções que permitam garantir que não vão ser prejudicados na sua vida escolar.

"Os alunos e as suas famílias não devem entrar em pânico por pensarem que não estamos a apensar neles. Estamos a trabalhar de forma árdua para encontrar soluções e neste momento a questão é saber ao certo quantos alunos temos nestas condições para informar o Ministério da Educação", disse Laban Shapange.

Entretanto, também o director regional de Saúde de Omusati, Alfons Amoomo, admitiu que existem relatos preocupantes sobre estas passagens de alunos oriundos de Angola, aconselhando a que estes movimentos não ocorram até que as autoridades namibianas tenham encontrado a solução para que sejam deslocados em segurança.

Recorde-se que as fronteiras entre os dois países estão fechadas desde 27 de Março, data em que teve início o estado de emergência em Angola.