Como é que a medicina entra na sua vida?

Bom, vamos lá ver. Não houve nenhum facto especial, relevante. Não houve nenhuma influência familiar. Até então, nos familiares mais diretos, portanto, não havia assim uma referência relativa à medicina.

Eu, portanto, no ensino anterior ao ensino superior, sempre me interessei muito pela parte das ciências. Ciências naturais, aspectos da biologia, física, química e também sempre tive muita curiosidade por aspectos inerentes às pessoas, talvez dessa conjunção tenha saído o interesse pela medicina.

Entrei para a Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, já aqui em Luanda, em 1977. Portanto, o processo da entrada naquela altura era muito diferente do que há agora. Eram as classificações que nós tínhamos, que nos permitiam fazer alguma inscrição e depois havia um processo.

Onde é que fez o ensino médio?

Sou de Benguela, Fiz o 6.º ano do Liceu, o que equivale actualmente à 10ª classe na Unidade, chamava-se até agora o Liceu Comandante de Cassange, antes era o Liceu, o Comandante Peixoto Correia, era assim que se chamava, e não tivemos perturbação nenhuma no ensino naquele ano, de 1974, 1975, em setembro vim para Luanda e apanhei aquele ano chamado de recuperação, porque em muitas partes do nosso país, incluindo Luanda, houve uma perturbação do ensino, e então tive que fazer aquele ano de recuperação do sexto ano e depois o sétimo ano, fiz no então Liceu Salvador Correia.

Mas naquela altura que chega Luanda em 1970, 1975... como é que as coisas estavam. Funcionavam, num período próximo da independência?

Sim, sim, quando eu saí de Benguela em 1975 e vim para a Luanda, vim numa situação em que eu tinha já aqui uma parte significativa dos meus irmãos mais velhos. Há uma história interessante da minha vida, porque eu acabei vindo para a Luanda, os meus pais, entretanto, foram para São Tomé, meu pai é São Tomense, com a mãe, e eu não acompanhei os pais, num gesto de alguma rebeldia, vamos dizer assim, não o fiz de forma rebelde, no verdadeiro sentido da palavra, mas opus-me à ideia de acompanhar os pais, naquela altura eu tinha 16 anos, e com o patrocínio dos meus irmãos, que já cá estavam em Luanda, vim para Luanda.

E concluí, portanto, o daquele ensino que depois permitia ingressar na universidade.

Repeti o 6º ano, naquele período do dito ano de recuperação, e fiz o 7º ano e aí houve uma experiência muito interessante na minha vida, porque, como certamente sabe, naquela altura, a 75, já houve um grande êxodo de professores, faltavam muitos professores, e, por exemplo, professores de física e de química, era uma carência muito grande no liceu Salvador Correia, naquela altura, e este era um cenário certamente igual para os outros tínhamos um professor de Física e Química, o professor Megue Ferreira, de quem eu não me esqueço, que decidiu juntar um grupo de alunos e preparar esses alunos para ministrarem aulas aos anos anteriores.

Portanto, naquela altura era a sétima e oitava classe, nós, eu, com outro grupo de colegas, com orientação desse professor, preparávamos as aulas teóricas.

Foi com base em critérios daqueles mais aplicados?

Sim, foi com base em critérios, selectivos de melhor aproveitamento. E foi assim que nós demos esta nossa contribuição, como outros deram. E é importante relatar isto, porque isto depois vai se ligar a outra parte da minha vida, a parte crítica mesmo, que é a parte da docência universitária.

Portanto, eu fui para Medicina sem que tivesse assim, detrás, algum impulso familiar e então comecei o curso em 1977 na Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, ali no Hospital da América Boa Vida, nas instalações que ainda havia naquela altura, que eram mesmo ali à entrada.

Era um período complicado...

Sim, um período complicado, um período complicado, mas deixe-me fazer uma correção. Em 1977, quando eu entrei para o curso de Medicina, não foi ali no América Boa Vida. Havia ali umas instalações que eram laboratórios de fisiologia e de farmacologia, tínhamos ali aulas [atrás do Centro de Medicina Física e reabilitação] depois passamos a ter aulas por detrás da delegacia de saúde, nas instalações onde estava o teatro anatômico, onde tinha parte da morfologia e, portanto, o primeiro e o segundo anos foram aí e só no terceiro ano é que fui para o Hospital América Boa Vida, portanto, fazer essa correcção.

Terei alguma dificuldade em dizer sem me enganar, mas não éramos menos do que 30 a 40 anos.

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